Creedence Clearwater Revisted: cinquenta anos do bom e velho rock n’ roll

Texto: Paulo Finatto Jr. (paulofinattojr@hotmail.com)

Doug Clifford & Stu Cook – dois músicos e cinquenta anos de história no Creedence Clearwater Revisted

Este ano, os fãs do bom e velho rock n’ roll não precisaram se contentar apenas com a apresentação de Paulo McCartney em Porto Alegre. No mês de novembro, outra atração dos anos sessenta e setenta retornou à capital gaúcha para mais um grande show: o Creedence Clearwater Revisted. Embora não seja exatamente a banda que está por trás do clássico álbum “Green River” (1969), o atual quinteto presta uma sincera homenagem aos maiores clássicos do Creedence Clearwater Revival.

Com precisão cirúrgica, Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria) – os únicos membros remanescentes do Creedence Clearwater Revival –, juntamente com John Tristao (vocal/guitarra), Tal Morris (guitarra) e Steve Gunner (teclado) subiram ao palco do Teatro do Bourbon Country às 21h para iniciar a apresentação daquela noite. A variedade de idade e de gênero entre o público, que ocupava praticamente todo o espaço da pista e os setores anexos à platéia alta, mostrava como a música do Creedence transcende o tempo e ainda impressiona diferentes gerações.

Com “Born of the Bayou” no início do show, o Creedence Clearwater Revisted roubou uma série de aplausos da plateia. Certamente, muitos ficaram impressionados com a voz de John Tristao – que além de possuir uma postura verdadeiramente carismática – lembra incrivelmente a voz do ex-líder e cantor do Creedence antigo, John Fogerty. A apresentação, que contou ainda com “Green River” e “Cotton Fields” na sua abertura, levou os fãs a dançarem timidamente ao som do rock influenciado pelo folk norte-americano do passado.

Em atividade desde meados da década de sessenta, o Creedence Clearwater Revival conquistou nove discos de ouro e outros sete de platina em uma carreira extremamente curta que durou apenas cinco anos. A banda liderada pelos irmãos John Fogerty (vocal e guitarra) e Tom Fogerty (guitarra) – e contava ainda com Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria) – deu os seus primeiros passos no rock n’ roll em 1959. Embora os discos “Bayou Country” (1969) e “Green River” (1969) tenham conquistado um enorme prestígio entre os fãs, os compactos promocionais para as músicas “Proud Mary” e “Have You Ever Seen the Rain?” proporcionaram o sucesso do grupo nas rádios do mundo inteiro.

Embora a apresentação do Creedence Clearwater Revisted não conte com nenhuma surpresa para os fãs mais antigos, a atuação do quinteto americano é verdadeiramente impecável sobre o palco. Tal Morris é um exímio guitarrista e comprovou toda a sua técnica em “Commotion”. No entanto, a banda conquistou a plateia de vez com a primeira balada do repertório – “Who’ll Stop the Rain”. Em “Suzie Q” e “Hey Tonight”, os caras emendaram “jams” às músicas em versões nitidamente mais longas. A verdade é que ninguém se importou com isso.

John Tristao – não faltou carisma e competência para o vocalista que lembra muito o ex-líder do Creedence

 No início dos anos setenta, o disco “Mardi Gras” (1972) indicava que havia um afastamento de ideias entre os músicos do Creedence. John Fogerty – que era o líder e o principal compositor da banda – havia perdido espaço para as músicas da dupla Stu Cook e Doug Clifford. Em outubro do mesmo ano, o quarteto anunciou o encerramento da curta e fulminante história do Creedence – que despontava na época como um dos maiores ícones do rock/folk norte-americano. Entretanto, John Fogerty continuou em carreira solo.

Na mesma época em que John Fogerty conquistava novos fãs com a sua carreira individual extremamente bem sucedida, Stu Cook e Doug Clifford se reuniram em torno de um projeto que parecia ser pouco ambicioso. Os dois fundaram o Creedence Clearwater Revisted, uma banda-tributo que pretendia apenas realizar concertos esporádicos para reviver os anos dourados do grupo de nome parecido. No entanto, a reunião viajou o mundo e ganhou notoriedade para virar um grupo concreto ainda na década de noventa.

Em razão da sua história com o Creedence, o baixista Stu Cook é quem assume a função de porta-voz. Ele não só apresentou a banda antes da cadenciada “Long as I Can See the Light” como ainda destacou os cinquenta anos de envolvimento musical e afetivo com o baterista e quase irmão Doug Clifford. Certamente, a carreira duradoura do Creedence Clearwater Revival/Revisted é muito mais uma decorrência da paixão dos dois pelo rock n’ roll do que simplesmente pelo retorno financeiro de manter esse nome em atividade permanente. Na sequência do espetáculo, o público voltou a agitar em “Down on the Corner” e na tipicamente western/country “Lookin’ Out My Back Door”.

Embora tenha sido executada em uma versão igualmente estendida, a longa “I Heard It Through the Grapevine” – um dos maiores clássicos da banda – contou com uma série de solos individuais na sua parte final. A plateia, que absurdamente parecia conhecer cada composição do Creedence do seu início ao fim, cantou, junto com John Tristão, o refrão inúmeras vezes. Por outro lado, “Midnight Special” – retirada de “Willy and the Poor Boys” (1969) – foi apresentada como o som definitivo do sul norte-americano. O público gostou e ainda deu um suporte extremamente favorável à folk “Bad Moon Rising”.

Doug Clifford – desde 1995 relembra os sucessos do Creedence Clearwater Revival ao lado de Stu Cook e outros músicos de qualidade

 Na reta final do espetáculo, o Creedence Clearwater Revisted executou um dos seus maiores clássicos. “Proud Mary”, composta pelas mãos de John Fogerty, já recebeu homenagens e versões de grandes astros da música, como Chuck Berry e Tina Turner. Certamente, essa foi a música mais ovacionada pelo público gaúcho – que ainda viu o quinteto norte-americano tocar “Fortunate Son” antes de encerrar a primeira parte do show.

De volta ao palco poucos minutos depois, os músicos do Creedence retornaram para o bis com copos e garrafas de cerveja na mão. Entre uma e outra brincadeira com a plateia, John Tristao comandou o restante do grupo na clássica e absoluta “Have You Ever Seen the Rain?” – a música mais cantada da noite. De qualquer forma, a apresentação do Creedence Clearwater Revisted não podia encerrar com uma sequência menos intensa: depois da rápida “Travelin’ Band”, o cover de Little Richard – “Good Golly Miss Molly” – animou os presentes antes do derradeiro final com “Up Around the Bend”.

Em exata 1h30 de show, os veteranos do Creedence apresentaram mais uma vez as mesmas canções que fizeram história quatro ou cinco décadas atrás. Embora muitos sintam a falta dos irmãos Fogerty ao lado de Stu Cook e Doug Clifford, não há como não se emocionar com os maiores sucessos dessa banda clássica. Certamente, o mês de novembro proporcionou os melhores espetáculos para os fãs do bom e velho rock n’ roll.

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