Velhas Virgens institucionaliza a putaria em Porto Alegre

 Fotos: Fernando Halal (http://www.flickr.com/photos/fernandohalal)

 Aviso aos pais: esta resenha contém palavras de baixo calão.

Nem é preciso dizer que o comentário acima é uma piadinha infame, já que o Nonada não deve nada a ninguém e não tem por filosofia promover a autocensura. Ainda assim, a frase tem lá seu fundo de verdade; afinal, o tema desta resenha é um show das Velhas Virgens, e qualquer pessoa que conheça rock minimamente sabe bem que a banda tem algumas das letras mais, digamos, escrachadas da música brasileira.

Banda paulista começou sua apresentação no bar Opinião em tom intimista, com repertório acústico

Comemorando 25 anos de estrada, o sexteto paulista esteve em Porto Alegre nesta quinta-feira, 9 de maio, para mais uma concorridíssima apresentação. E não foi uma apresentação qualquer: o grupo escolheu a capital gaúcha como cenário de seu novo DVD, em comemoração às bodas de prata. Se um show das Velhas geralmente tem casa cheia, não poderia ser diferente nessa data histórica. O bar Opinião ficou cheio – felizmente, não a ponto de ser impossível se mexer lá dentro – e, motivado pela gravação, cantou junto quase todas as músicas.

Cerca de dez minutos antes da meia-noite, após um vídeo exibindo cenas da banda na estrada e em várias outras situações, tendo a nova “Eu Toco Rock And Roll” como trilha, Paulão de Carvalho (vocais), Juliana Kosso (vocais), Alexandre “Cavalo” Dias (guitarra), Roy Carlini (guitarra e, sim, filho da lenda Luiz Carlini), Tuca Paiva (baixo) e Simon Brow (bateria) surgem em cena. Sentados, para surpresa de muitos dos espectadores, mas não para aqueles que leram nossa entrevista com Paulão. A primeira parte do show é no formato acústico e com um repertório meio lado B. Atrás, um cenário cheio de prédios a la David Letterman (surrupiado por Jô Soares e, mais recentemente, por Danilo Gentili) e algumas bonecas imitando dançarinas de cancan.

Nesse clima intimista, a banda dá início ao show com “Domingo na Praia” e segue com canções mais “moderadas”, como “Mulher Feia” e “Excesso de Quórum”. Mesmo nessas faixas menos conhecidas, o público já se mostra afiado, especialmente nos refrões.

Com um visual "tigrão", Paulão dá início à parte elétrica do show

Paulão lembra que a banda foi fundada em 1986 e rememora alguns acontecimentos da época, como a passagem do cometa Halley, o acidente nuclear em Chernobyl, o fim da fabricação do Fusca no Brasil, o bicampeonato mundial da seleção argentina de futebol, além de contextualizar as carreiras de vários políticos e alguns humoristas – “esses políticos de merda e humoristas como Mussum e Ramon Valdés (o Seu Madruga) nos inspiraram a criar a banda das Velhas Virgens”, explica, sob aplausos.

Em seguida, a banda emenda três músicas baseadas em bebedeiras: “Gim no Pingado”, “Essa Tal de Tequila”, cantada por Jú, e “Eu Bebo pra Esquecer”, com Paulão arriscando alguns desajeitados passos de dança flamenca.

“Esse seu Buraquinho”, como entrega o título, é a primeira mais desbocada e, talvez por isso, a de melhor receptividade até então. Por sua vez, “Bafo de Jiboia” é a última 100% acústica, já que, durante “Tô Correndo (Pra Encontrar o meu Amor)”, os prédios são retirados rapidamente do cenário e a banda retorna com guitarras no lugar dos violões.

A coisa começa a ficar mesmo bagaceira quando Paulão ressurge no palco com um visual “tigrão”, inclusive nas pantufas, e cantando a já mencionada música nova. A nada romântica “Só pra te Comer” provoca urros da plateia, especialmente dos marmanjos, claro; na música seguinte, “Muito Bem Comida”, fica até engraçado ver um monte de caras gritando o refrão: “põe tudo”.

Após uma pausa pra um merchandising (“Tem gente que procura camiseta das Velhas Virgens no shopping center. Não tem camisa nossa no shopping, mas podem ir na nossa lojinha que levamos em todos os shows”, avisa Paulão), a vocalista Jú volta ao palco ainda mais sexy. Com uma roupa de diabinha e uniforme tipo Angus Young – AC/DC é uma das maiores influências da banda –, ela é recebida aos gritos de “gostosa” e “puta”, levando tudo no bom humor. Com esse visual, canta “A Mulher do Diabo” e depois emenda a balada “Não Vale Nada”.

A sexy vocalista Jú tira de letra as provocações e os xingamentos da plateia

Paulão muda de figurino mais uma vez, e com terno e cartola azuis e cifrões até nos óculos, manda a ácida “Sr. Sucesso”. No final da música, vai tirando a roupa até ficar de sutiã e cuecas. Depois, coloca na cabeça um adereço burlesco (sequer consigo descrever o negócio) em “Um Homem Lindo”, hilária história do dia em que o vocalista confundiu um travesti com uma mulher.

A essa altura, o clima de putaria já está institucionalizado, e os fãs que estavam mais distantes do palco se empolgam e tentam achar um lugarzinho na pista. Um momento oportuno, já que a próxima música é um dos pontos altos do show. Em “Abre essas Pernas”, Paulão, de cuecas, e Jú, de corpete, simulam fazer sexo – ele comendo ela e ela comendo ele, tanto faz –, com os gritos de “puta, puta” chegando ao auge no desfecho. Se algum carola desavisado tiver ido ao Opinião sem conhecer o grupo, certamente se retirou durante essa música.

Depois de “Uns Drinks” e “Beijos de Corpo”, a banda deixa o palco. Começa então um pequeno coro, que vai crescendo até ficar bem claro o que a plateia quer: “Buceta! Buceta! Buceta!” Jú aparece sozinha no palco e ganha o público ao perguntar: “Vocês estavam me chamando?” Em seguida, canta, sem a parceria de Paulão, “O que É que a Gente Quer (B.U.C.E.T.A.)”, o que dá uma conotação lésbica à música.

“Siririca Baby” vem em seguida, com os dois vocalistas simulando masturbação. Paulão faz um discurso em defesa de siriricas, punhetas e “sexo com que você achar melhor”. No final, ainda mostra a bunda, o que não chega a ser nenhuma surpresa. A banda se despede com “De Bar em Bar pela Noite”, com direito a banho de cerveja do vocalista, que parecia pouco preocupado com a baixíssima temperatura da noite porto-alegrense.

Paulão e Jú: performance insana, com direito a simulações de sexo e masturbação

Mas ainda havia tempo para outro bis: “Hino dos Solteiros”, do clássico disco de marchinhas Carnavelhas, de 2004. Um final perfeito para uma apresentação anárquica, com direito a trenzinho na pista e muitos, mas muitos bêbados dançando.

O show acaba, mas quem já presenciou uma gravação ao vivo, seja de disco ou vídeo, sabe que nem todas as músicas ficam boas na primeira execução. Por isso, as Velhas retornam para repetir três faixas. Sorte do público, que ganhou de lambuja “Toda Puta Mora Longe” e “Cafajeste” (esta, claro, com Jú nos vocais, desafiando os homens ao dizer que todos que eram cafajestes tinham o pau pequeno).

Como repetir algumas músicas é comum, pode-se dizer que o desempenho das Velhas Virgens foi praticamente impecável e deve render um ótimo DVD –  item obrigatório para quem testemunhou o show. Uma curiosidade: o som no Opinião parecia mais baixo do que o normal. No entanto, pela descontração da banda no palco, pode ser que tenha sido apenas uma impressão. Aguardemos o DVD.

 

 

 

 

 

 

 

 

O set list completo do show (não necessariamente o do DVD):

 

“Domingo na Praia”

“Excesso de Quórum”

“Gim no Pingado”

“Essa Tal de Tequila”

‘“Eu Bebo para Esquecer”

“Esse seu Buraquinho”

“Bafo de Jiboia”

“Tô Correndo (Pra Encontrar o meu Amor)”

“Eu Toco Rock and Roll”

“Só Pra Te Comer”

“Muito Bem Comida”

“A Mulher do Diabo”

“Não Vale Nada”

“Sr. Sucesso”

“Um Homem Lindo”

‘“Abre Essas Pernas”

“Uns Drinks”

“Beijos de Corpo”

“O que É que a Gente Quer (B.U.C.E.T.A.)”

“Siririca Baby”

“De Bar em Bar pela Noite”

“Hino dos Solteiros”

 

As repetidas e as faixas-bônus:

 

“Toda Puta Mora Longe”

“Só Pra Te Comer”

“Muito Bem Comida”

“Cafajeste”

“Beijos de Corpo” (com “Sapato 36”, de Raul Seixas, como intro)

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