Para animar a festa, Jorge Ben Jor

Fotos: Júlia Schwarz

Um show de duas horas e 20 minutos, cerca de 40 músicas (ok, na maioria delas, apenas trechos) e pouca conversa. Assim foi a apresentação de Jorge Ben Jor neste domingo, dia 14 de agosto, em Porto Alegre. E nem poderia ser diferente: com quase 50 anos de carreira, o veterano cantor e compositor carioca tem tantos sucessos na boca do povo que, para contemplar pelo menos uma parte deles, só deixando de lado o papo furado e emendando as canções em vários medleys.

Cantor tem que recorrer a medleys para contemplar seu vasto repertório

A apresentação de Ben Jor em um chuvoso domingo de Dia dos Pais não impediu que um bom público comparecesse ao Teatro do Bourbon Country. E, apesar de o cantor já estar beirando os 70 anos, o que se nota é uma renovação constante de seus fãs: grande parte da plateia era formada por jovens casais, que provavelmente conheceram a obra do cantor através dos pais.

Cerca de 21h20min, as luzes se apagam e a competente banda que acompanha o músico começa a tocar a mais que apropriada “A Banda do Zé Pretinho”. Ben Jor surge vestido todo de branco, contrastando com sua guitarra preta e os indefectíveis óculos de sol. Desde o primeiro minuto é notável o carisma do cantor, que não precisa falar muito para mostrar que o verso “salve simpatia” é referência a uma qualidade dele próprio.

Quase sem intervalo, emenda “Engenho de Dentro”, um pouco mais nova e uma das raras músicas que não foram compostas nos tempos em que se chamava apenas Jorge Ben. Visivelmente incomodado com a afinação da guitarra, pede outra, só que vermelha. Manda, então, o primeiro medley da noite: “Santa Clara Clareou/Zazueira/Minha Menina/Mexe Mexe”. Em 15 minutos de show, o público já está mais do que ganho, mesmo com muitos hinos do samba rock e da MPB ainda por vir.

“Que Maravilha”, “Ive Brussel”, “Bebete Vãobora”, “Alcohol”… Clássico é o que não falta no repertório de Ben Jor, que ainda assim convive com os eternos pedidos para que reproduza, faixa a faixa, o antológico A Tábua de Esmeralda, de 1974. Mas a verdade é que os fãs nem podem reclamar muito, já que ele toca pelo menos alguns trechos de quase metade do álbum: “Os Alquimistas Estão Chegando”, “Menina Mulher da Pele Preta”, “Magnólia”, “Minha Teimosia, Uma Arma pra te Conquistar” e “Zumbi”.

Uma outra reclamação dos admiradores das antigas até se justifica. O violão sincopado, marca registrada de Ben Jor em seus discos mais clássicos, não tem mais vez nos shows. O artista já o trocou pela guitarra elétrica há muito tempo, mas sempre tem quem acredite que um dia ele irá voltar às raízes. De qualquer modo, a guitarra não é utilizada em todas as músicas. O que é uma pena, levando em conta a criatividade do músico nas seis cordas, como demonstrado na execução de “Umbabarauma”.

Em show de duas horas e 20 minutos, Ben Jor canta cerca de 40 músicas

Depois de “Fio Maravilha”, que faz tremer o chão do teatro, Ben Jor desiste da guitarra vermelha. “Eu gosto mais da outra”, alega. Para afiná-la, pede “cinco minutinhos”, que são preenchidos por um solo de teclado que serve de introdução para “Jorge de Capadócia”, a primeira do bis. Na verdade, um senhor bis, pois o show está longe de acabar.

A seguir, mais uma overdose de hits: “Por Causa de Você”, “Chove Chuva”, “Mas que Nada”, “Hoje É Dia de Festa”, “Comanche”, “Charles Anjo 45”, “Cadê Tereza” e “País Tropical”. O medley é finalizado com “Spirogyra Story”, que mostra como Benjor consegue fazer dançar mesmo com uma letra absurda falando sobre uma alga…

Em “Do Leme ao Pontal”, homenageia o amigo Tim Maia, lembrado também na letra de “W/Brasil”. “O Telefone Tocou Novamente, “Denise Rei”, “Que Pena” e “O Dia que o Sol Declarou seu Amor pela Terra” encerram a penúltima parte da apresentação, que ainda teria um segundo e espetacular bis.

Para dançar com ele ao som de “Gostosa”, Ben Jor convoca meninas da plateia e, é claro, não faltam candidatas. Com cerca de 20 beldades no palco, o cantor dá um show de simpatia e suíngue, dançando com todas, posando pra fotos, incentivando-as a tocar instrumentos de percussão e cantar e até mexendo com o namorado de uma das garotas. No meio dessa verdadeira festa, tem espaço para “Taj Mahal”, enredos de escolas de samba do Rio de Janeiro e “Salve Simpatia”. Fim de show. Público cansado, mas ainda pedindo bis. São Pedro pode até ter tentado prejudicar a noite, mas São Jorge tratou de salvá-la.

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