Drive: não há heróis, apenas humanos

Drive é um dos candidatos ao BAFTA 2012

Um homem solitário, em um carro, e que vê pela janela esquerda do automóvel um mundo distorcido. Pode parecer que você já assistiu este filme antes, mais especificamente com Robert DeNiro no volante e Martin Scorcese nas câmeras. Entretanto, apesar de peças semelhantes, o jogo não é o mesmo. Drive, dirigido pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn, é um dos indicados a ganhar o prêmio BAFTA, uma espécie de Oscar britânico, especialmente nas categorias ligadas à direção.

A história de Drive não é complexa, no entanto cria algumas reflexões interessantes. Ryan Gosling interpreta o protagonista, um dublê inominado que faz free lances como ”motorista de fugas”, geralmente contratado por bandidos a alto custo.  Sua vida sofre uma virada quando um de seus trabalhos não dá certo, sendo que ele passa a ser perseguido por bandidos que não economizam na violência (muito menos o diretor) para tratar de seus assuntos. Apesar de não serem numerosas como em um filme de John Woo, as cenas de ação são muito bem construídas e bastante explícitas, desenhadas de modo corajoso pelo diretor. O título Drive também suscita reflexões interessantes, já que a palavra em inglês pode significar simplesmente ”dirigir”, ou ter significado análogo a de  expressões como “drive me crazy” ou ”drive me nuts”.

Indubitavelmente, Nicolas Refn mereceu o prêmio de melhor diretor em Cannes no ano passado. A câmera de Drive é desafiadora, os planos são construídos com maestria, pouco importa se o diretor utiliza uma grua, um contraplongê, um carro a 100 km/h. Na conjuntura do audiovisual atual, é maravilhoso presenciar um filme em que a câmera não é um meio, uma simples tinta de caneta necessária para contar uma história. Em Drive a câmera narra, possui valor não apenas estético; ela é matéria, o espectador deslumbra-se com o cuidado que se tem em relação a planos e à fotografia, creditada a Newton Thomas Siegel, outro nome a destacar no longa.

Quanto aos demais aspectos do filme, que não são necessariamente secundários, pode-se afirmar que não estamos perante uma história tão maravilhosa quanto a sua direção. O longa decai à medida que os seus minutos transcorrem. O desnível que há entre o clímax e o desfecho é bastante pronunciado, e muitos espectadores saem um pouco frustrados com o desencadear dos fatos. As metáforas feitas com Hollywood, principalmente através da figura do dublê, da sua associação com a imagem de um anti-herói, ou melhor ainda, de um ”humano comum” com contornos heroicos, são interessantes, porém não passam de um exercício pessoal, que não é essencial e não enriquece muito a trama. Há quem se incomode com o ritmo lento do filme, muitas vezes silencioso. Contudo, creio que assim cria-se um ambiente que reflete um pouco mais do personagem: calado, solitário e até mesmo um pouco sombrio.

A minha aposta para o BAFTA é que Nicolas Refn repita a dose e ganhe o prêmio de melhor direção. E acredito que o filme também possa estar entre os indicados a essa categoria no Oscar. Contudo, não há uma riqueza na trama suficiente para garantir algo além. As grandes proezas da direção contrastam com algumas deficiências e frustrações ao longo de Drive, especialmente em seu final. Ainda assim, o filme merece ser apreciado e visto como um marco inicial na carreira de quem já é considerado um dos mais promissores diretores da atualidade.

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