Os descaminhos da literatura

Julimária Dutra, de São Paulo para o Nonada

 “O livro e o jornalismo cultural estão muito doentes, estão com febre, moribundos e os sintomas são bastante claros”. Foi assim que o jornalista Fredéric Martel abriu sua palestra no 4º Congresso Internacional CULT de Jornalismo Cultural.  Na mesa intermediada por Raquel Cozer estavam presentes, também, a professora Mariza Wernek e o escritor Joca Terron.

Os três fizeram uma análise particular sobre a substituição do livro por dispositivos eletrônicos de leitura, apontando interferências positivas e negativas na criação literária e ensaística do século 21.

Para o francês Fredéric, o livro digital traz o fim fim das hierarquias culturais (Crédito: Revista Cult/ Reprodução)

Para o francês Fredéric os desdobramentos do texto literário nas plataformas digitais, disponíveis para milhões de internautas, significa muito mais do que uma simples mudança de plataforma, mas, sim, o fim das hierarquias culturais e a possibilidade de, em um futuro próximo, o livro digital reunir, além da história de personagens, vários outros assuntos.

“Com um clique será possível ver um trecho de um filme que foi comentado no livro, assim, como todos os personagens e as cidades mencionadas na narrativa. Isso seria um livro de um time e não de um autor”, ressaltou. O escritor pontuou a questão da necessidade de se olhar para o futuro sem recusar a globalização e a esfera digital.“É preciso buscar no mundo passado, os sinais do mundo por vir, assim como fez o escritor Tocqueville”, enfatizou Fredéric.

Mas se para o escritor Fredéric os caminhos do livro se abrem, para Mariza Wernek se fecham.  Ao iniciar a conferência ela trouxe a baile a frase de Humerto Eco: “O livro uma vez inventado não pode ser aprimorado”.  Pegando carona na frase do antropólogo Mariza completou dizendo que a tentativa de substituição do livro só irá mimetizá-lo.

Joca Terro ao falar no Congresso pegou carona no discurso dos outros dois palestrantes, encontrando um meio termo. “É preciso que aja uma revisão nas práticas de leitura, nos gestos e nas emoções associadas ao escritor, uma vez que o suporte da leitura é uma ferramenta importante para a reflexão”.

Apesar das divergências dos três olhares distintos presentes na mesa, os três veem no futuro a chegada de uma nova plataforma onde as produções literárias serão inseridas e não terão um ponto final. “O livro acabado no produto digital não existe. Não é definitivo. O livro poderá ser corrigido, com várias versões e iremos poder dar outra forma”, explicou Fredéric. 

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