Vi um monstro…

Por Riccardo Facchini

…e ele se chama Joe Bonamassa. Ainda menos conhecido do público geral que nomes como Eric Clapton, ele mostrou em show realizado no HSBC Brasil, em São Paulo, no dia 2 de junho, que não deve nada para heróis como B.B. King, Buddy Guy e cia. Prodígio desde criança, começou a tocar com 4 anos e hoje, aos 35, já lançou 15 álbuns em sua carreira solo, mais um em colaboração com a cantora Beth Hart e dois com a banda Black Country Communion.

No sábado, 2, em São Paulo, Joe Bonamassa fez o último dos 54 shows da turnê do álbum Dust Bowl (Foto: Manuela Scarpa)

A banda que Bonamassa trouxe para o Brasil é formada por Carmine Rojas, baixista que está desde 2005 com o guitarrista e que já trabalhou com nomes como David Bowie e Rod Stewart, Rick Melick, tecladista australiano de renome no seu país natal e Tal Bergman, baterista que fez turnês e gravou com nomes como Eric Johnson e Billy Idol.

A primeira música que soou das caixas do HSBC Brasil, surpreendentemente, foi “2 Minutes to Midnight”, do Iron Maiden, logo antes do início do show, que infelizmente foi em formato de mesas e cadeiras, um pouco anticlimático para o tipo de apresentação. Logo em seguida, Bonamassa e sua banda emendaram Slow Train, faixa que abre o disco Dust Bowl (2011). Guitarra e vocais já vieram rugindo, que é como todo bom show deve ser, e dissiparam a pequena dúvida que eu tinha acerca das capacidades vocais de Joe ao vivo: ele mostrou-se extremamente competente nas duas características, evidenciando que ali estava um músico de primeiríssimo nível. Talvez o único problema de som foi o teclado, que ficou um pouco sumido. Na sequência vieram Last Kiss, Midnight Blues, um cover de Gary Moore, Dust Bowl e Who’s Been Talkin’, cover de Howlin’ Wolf presente no novo álbum de Bonamassa, Driving Towards The Daylight, lançado no último dia 22 de maio. As novas faixas podem ser ouvidas diretamente no canal oficial do artista no YouTube.

Depois disso veio a balada Sloe Gin, um dos primeiros pontos altos da noite e muito aplaudida ainda no começo. Foi somente depois desta que Bonamassa conversou com o público –que compareceu em bom número, mas não lotou a casa–, dizendo estar cansado devido à turnê ter sido a mais longa que ele já fez até então, mas que a energia da plateia naquele dia estava colocando-o pra cima. Outro grande momento foi a música seguinte, The Ballad of John Henry, um hard rock que lembra os melhores momentos de Led Zeppelin e Deep Purple e que ganha muita força ao vivo. Depois foi a vez de Lonesome Road Blues e Song of Yesterday, do Black Country Communion, que por muitos já é considerada um clássico do rock, mesmo sendo recente.

Look Over Yonders Wall, de Freddie King, foi a seguinte, tocada numa roupagem bem diferente da apresentada no disco Black Rock (2010): Joe deixou a música com muitos espaços, tocando-a de uma maneira mais calma. Depois dela, foi a vez de Blues Deluxe, música de Jeff Beck que batizou o disco de Bonamassa de 2003 e que foi sem dúvidas o melhor momento da apresentação. Executada de forma magistral, a plateia aplaudiu fervorosamente durante várias vezes ainda durante o andamento da canção.

Aí a apresentação começou a chegar ao fim, com um divertido duelo de guitarra e bateria que antecedeu Young Man Blues, famosa na versão do The Who. Mountain Time, turbinada por improvisos no começo, foi a música escolhida para encerrar a primeira parte do show.

Mas é claro que não ia acabar por aí. No bis, Bonamassa tocou a –excelente– faixa título do novo disco (confira aqui o clipe), que já entrou em primeiro lugar nos mais vendidos de blues da Billboard, e, para encerrar, mandou Just Got Paid, clássico do ZZ Top que contou com improvisos e trechos de Dazed and Confused, do Led Zeppelin. Na última, incentivou todos a ficarem de pé e irem para a frente do palco, no que foi prontamente atendido. De brinde, jogou seus óculos escuros, que usou durante todo o show. Joe ainda disse que demorou 23 anos para vir ao Brasil, mas que certamente não vai demorar tudo isso para voltar. O único ponto que deixou um pouco a desejar, além do teclado sumido no meio dos outros instrumentos e do formato do show, foi a qualidade da imagem dos dois telões.

Duvido que algum dos presentes vá esquecer do show. Presenciou-se um artista que já está na história da música e que ainda vai subir muitos degraus rumo ao topo, podendo até mesmo estabelecer novos limites a serem alcançados. Bonamassa assusta: toca e canta como poucos e ainda produz uma quantidade absurda de discos, para a felicidade dos fãs. É realmente um monstro, no bom sentido do termo. Não demorará muito para se tornar ídolo e referência mundial, o que ele já é para muitos. Potencial para isso certamente não falta.

Set list:
Slow Train
Last Kiss
Midnight Blues
Dust Bowl
Who’s Been Talkin’
Sloe Gin
The Ballad of John Henry
Lonesome Road Blues
Song of Yesterday
Look Over Yonders Wall
Blues Deluxe
Young Man Blues
Mountain Time

Bis:
Driving Towards The Daylight
Just Got Paid

Aqui pode ser conferida uma galeria de fotos do show: http://www.flickr.com/photos/77691622@N07/sets/72157630032973648/

*Estudante de Jornalismo da  UFRGS 

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