Recortes | Arte – A arte brasileira ocupa Londres

Já que nem só de esportes vivem os jogos olímpicos, vale a pena saber o que Londres prepara de programação cultural para quem vai visitar a cidade no ensejo das Olimpíadas. E têm brasileiros metidos nessa história. Trinta jovens artistas contemporâneos, conterrâneos nossos, participam do Rio Occupation London, evento que vem promovendo um intercâmbio entre o Rio de Janeiro e Londres – a próxima sede dos jogos e a atual – no que diz respeito à arte. Eles expõem em galerias como as do Tate Modern, do Victoria&Albert, do Southbank e do Somerset, e também intervêm nos espaços públicos da cidade. Ainda que não dê para conferir as obras de perto, selecionamos aqui recortes do trabalho de alguns destes artistas, que trabalham especificamente com artes visuais.

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Usando técnicas diversas de fotografia, João Penoni, designer gráfico e artista visual, explora as marcas que a luminosidade deixa no espaço. Ele capta os trajetos da luz através de exposição lenta, e inclusive providenciou bastões luminosos para aqueles que compareceram ao evento de abertura do Rio Occupation London. É claro que tudo foi registrado e será transformado em arte. Há quase uma década ele vem trabalhando com investigações sobre a relação entre corpo, espaço e luz, utilizando também a performance e o vídeo. Seu interesse é refletir sobre a representação do corpo em movimento. Penoni realizou recentemente uma série Chamada “Mangue“, em que pintou o corpo com várias cores e pendurou-se em manguezais, registrando-se. O trabalho não deixa de ser um conjunto de autorretratos.

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O ilustrador João Sánchez elabora o visual das poesias de Ramon Mello, que estão espalhadas em cartazes por Londres e em um grande painel. Utilizando serigrafia, ele dá a sua própria interpretação aos textos através do uso de pedaços de notícias e fotos de jornal. Uma mistura das linguagens visual e poética que, pelo estilo do artista, deve ser rica em elementos. Cruzando tradições artísticas diversas, de tempos e lugares distantes, do popular ao acadêmico, Sánchez reflete, de certa forma, o espírito do nosso tempo. Sua trajetória passa pela cidade de Madrid, onde ministrou cursos em técnicas de impressão e chegou a trabalhar em grandes estúdios: o de litografia de Antônio Gavo e o de impressão Beneveniste CP&P. No Rio, fundou o Estúdio Baren de Design Gráfico.

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Conhecido por realizar uma das coberturas fotográficas mais famosas do grafiti carioca, o fotógrafo Ratão Diniz volta o seu olhar da periferia do Rio de Janeiro para a periferia de Londres. Ele faz ampliações gigantes de fotos das regiões periféricas da cidade-sede das Olimpíadas, mostrando a ligação entre a produção artística típica da vida urbana contemporânea – nomeadamente, o grafiti –, e o modo de vida da população. As ampliações são expostas nas fachadas da cidade olímpica, trazendo para o centro esse universo cool e popular, tão próximo e tão distante.  Ratão é formado pela Escola de Fotógrafos Populares do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, e vem trabalhando com o Coletivo Multimídia Favela em Foco, formado por fotógrafos da comunidade da Maré e dedicado ao registro da vida na periferia.

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Outra fotógrafa está na lista de artistas que cruzam o oceano para mostrar a arte contemporânea brasileira: Andrea Capella trabalha com os horizontes urbanos do Rio e de Londres, colocando-os em relação. Ela apresenta banners de 20 metros de comprimento com as cenas registradas através de uma técnica muito peculiar: exposição fotográfica de 12 horas. As cidades são mostradas em diversos momentos, de modo a questionar a forma pela qual reconhecemos as paisagens a partir do nosso imaginário. Andrea é também cineasta, e tem mais de 15 curta-metragens no currículo. Colabora nas áreas de iluminação, fotografia e vídeo com artistas de teatro, artes visuais e dança.

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A tradicional alegria da cultura brasileira, traduzida pela abundância de cores vivas, é transportada a Londres pelo artista gráfico Breno Pineschi, adepto do estilo do feito à mão e das cores vibrantes. Ele ocupa a cidade espalhando 10 mil bananas de papel contendo fortes ímãs, de modo que elas podem ser vistas em cachos nos mais improváveis lugares: ônibus, orelhões, estruturas de pontes, etc. Pensadas para serem reconhecidas como parte de uma série, elas são todas iguais, apenas com variações na coloração. Trabalhando desde 2007 à frente do estúdio de criação Hardcuore, Breno tem alguns trabalhos de peso no currículo, como videoclipe do músico João Brasil e os motion graphics para a Roda Rio 2016, no Forte de Copacabana, que marcou o lançamento da candidatura do Rio para sede das Olimpíadas de 2016.

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Por fim, o artista visual Eric Fully, em parceria com o ator e figurinista Robson Rozza, prepara uma oficina com grupos comunitários de Londres. Eles ensinam a feitura de trajes de papel, através da utilização de jornais e materiais reciclados de ambas as cidades. Os participantes passam a conhecer algumas figuras míticas da cultura brasileira, como Carmem Miranda, orixás e cangaceiros, e produzem figurinos baseados nestas figuras. Fully atua na área de inclusão através do uso criativo da pintura, do artesanato, e da reciclagem, ministrando oficinas para jovens de comunidades periféricas do Rio. Estudante de Belas Artes, ele tenta integrar em suas aulas o mercado da arte e a criatividade dos moradores das comunidades, promovendo o desenvolvimento de habilidades e a geração de renda.

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Gostou? Pelo previsto, no ano que vem será a vez dos artistas londrinos trazerem suas obras para o Rio de Janeiro. É esperar para ver.

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