Mallu e a alegria como dom

Texto: Carolina Teixeira
Fotos: Ita Pritsch

Um pouco tímida e insegura no palco, cantora ganha o público pela alegria e simpatia.
Um pouco tímida e insegura no palco, cantora ganha o público pela alegria e simpatia.

“Agora, amigo, eu tô em outra/Eu tô ficando velha, eu tô ficando louca”. Com estes versos de “Velha e Louca”, música que abre o álbum Pitanga, Mallu Magalhães deu o recado sobre a nova fase de sua carreira. Ela não é mais a adolescente de 15 anos que se escondia atrás da franja do cabelo bagunçado e do violão. Mas tampouco está velha e louca como anuncia. No último sábado, 6 de abril, a cantora subiu ao palco do Opinião para a rodada de encerramento da turnê do terceiro disco, lançado em 2012, e o que se viu em Porto Alegre é que, como canta na mesma música, Mallu tem a alegria como dom.

Com o Opinião lotado por fãs, todos na faixa etária da cantora, ela abriu o show com “Cena” para uma plateia empolgada, que cantou junto a música inteira. Em seguida veio o sambinha “Ô, Ana”, também do álbum Pitanga, que daria o tom da noite. Os fãs não deixaram de cantar nem mesmo nas faixas em inglês. Em “Youhuhu”, a terceira do setlist, até o assobio ganhou coro do público. Além do novo trabalho, Mallu relembrou composições de discos anteriores como “Compromisso” e “Te Acho tão Bonito”, sempre distribuindo sorrisos enquanto cantava.

O repertório da noite de sábado ainda contou com versões da cantora para “Elegia”, de Caetano Veloso, “All of me”, de Louis Armstrong, e “Me Gustas Tu”, de Manu Chao. Estes três momentos, junto com a apresentação de uma música inédita da cantora, ainda sem nome, foram os únicos em que os jovens calaram, provavelmente por desconhecimento das músicas. Mesmo assim, acompanharam com palmas. Como era de se esperar, o ápice da noite foi a apresentação de “Velha e Louca”, que levou o público ao delírio e ganhou coreografia, um tanto desajeitada, no palco.

Mallu Magalhães aos 20: uma evolução notável de “Tchubaruba” a “Velha e Louca”

Do início da carreira, quando estourou na internet em 2008 com o hit “Tchubaruba”, até o terceiro disco, é notável a evolução de Mallu, principalmente no estilo. Aos 20 anos, Mallu deixou o folk rock, com referências a Johnny Cash e Bob Dylan, para trás. As composições agora transitam entre a bossa nova, a MPB e o samba. A influência de Marcelo Camelo, namorado da cantora e produtor do último álbum, é forte. As canções intimistas, com pegadas de sambinhas e tons melódicos lembram muito o trabalho do músico carioca.

 Entretanto, no palco, Mallu não acompanha toda a mudança anunciada em Pitanga. A apresentação ao vivo fica no meio do caminho entre a primeira e a segunda fase da cantora. No show, com quase uma hora e meia de duração, ela ainda se mostra tímida no palco, falando baixo – muitas vezes não se sobrepõe ao público – e sem saber muito o que fazer quando não está segurando algum instrumento musical. A cantora até tentou ensaiar algumas dancinhas, mas sem segurança em seus passos.

Após sair do palco com a banda, Mallu voltou sozinha para encerrar o show com mais três faixas, entre elas “Sambinha bom”, outro sucesso do álbum Pitanga. Não satisfeito, o público pediu por mais e ela teve que improvisar no bis, trazendo um songbook para o palco. Apesar da timidez e da insegurança no palco, a simpatia e alegria de Mallu são singulares e conquistam quem assiste à apresentação. Ao contrário do verso inicial de “Velha e Louca”, certamente o que define o show da cantora é outro trecho da mesma música: o que a menina tem de torta, tem de feliz.

Compartilhe
Ler mais sobre
opinião pitanga
Ler mais sobre
Processos artísticos Resenha

O Terno e sua simpatia eletrizante