Recortes | Comics – Censura, inovação e lançamentos do mês

Uma das revistas censuradas, Les Autres Gens, de Thomas Cadene

A Izneo, editora e distribuidora francesa de quadrinhos digitais, que representa obras quadrinísticas dos dez maiores produtores da França (assim como outros europeus, em especial a Bélgica), foi forçada a tirar de circulação (virtual) 1500 edições, de um total de 4000 títulos que a empresa atualmente distribui. Por quê? A Apple não quis. Essa demanda é em relação aos títulos distribuídos pelo seu aplicativo, restrito a maiores de 17 anos; os títulos da loja iBook, da Apple, não precisaram ser retirados.

Segundo o site francês IDBoox, um dos administradores da Izneo foi contatado por um funcionário da Apple Stores dos Estados Unidos, pedindo que esses títulos fossem retirados do aplicativo porque foram considerados pornográficos para um público estadunidense. Só que os títulos não eram para um público infantil, eram quadrinhos digitais de público adulto, mas a Apple não quis discussão, dando um ultimato: se os quadrinhos não fossem retirados do aplicativo da empresa em 30 horas, a Apple removeria o aplicativo da Appstore.

O problema foi que esses quadrinhos supostamente pornográficos não foram listados pela empresa estadunidense, de modo que a Izneo não soube quais quadrinhos deveriam retirar. Acabaram excluindo todos os quadrinhos com qualquer mínima sugestão de seios, decotes, curvas ou gestos sugestivos – o que, em relação a quadrinhos europeus, não deixa muita coisa sobrando. Foram retirados 2800 títulos do aplicativo, incluindo Largo Winch, XIII e Blake & Mortimer. Desde então, diversos deles já voltaram a ser vendidos, restando agora apenas (“apenas”) 1500 títulos removidos.

Um dos autores censurados, Thomas Cadêne, disse que “se três quartos das editoras se recusassem a vender qualquer quadrinho com imagens de bundas, é óbvio que o mercado iria colidir imediatamente e o nível de liberdade criativa iria cair muito”. Ele comparou a ação da Apple com a do governo da China.

Ironicamente, durante os anos 50 e 60, as editoras francesas censuravam fortemente os quadrinhos estadunidenses. Aparentemente, agora o jogo virou.

Ironicamente, também, pensar na vitrine de bundas e peitos nos quadrinhos de super-heróis estadunidenses, ferramenta utilizada obviamente para ajudar a vender mais revistar para um público juvenil e  masculino. Enquanto que a nudez nos quadrinhos europeus não é nem vulgar, mas sim sutil e estilística, nem utilizada como forma de aumentar a vendagem (até porque esses quadrinhos são, mesmo na Europa, de cunho mais alternativo).

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A capa de Avengers: Endless Wartime

A Marvel anunciou no final de março que pretende voltar a produzir graphic novels originais. A escolha para a primeira dessa nova leva não podia ter sido melhor acertada: Os Vingadores. Avengers: Endless Wartime está sendo escrita por Warren Ellis (Planetary, Secret Avengers) com arte é de Mike McKone (Exiles, Teen Titans).

No entanto, a novidade (inovadora) vem por conta de uma ação inédita com a editora italiana Panini. O álbum será lançado ao mesmo tempo nos Estados Unidos e em todos os países nos quais a Panini atua (Itália, Espanha, Alemanha, França, Brasil, Finlândia e Turquia). A graphic novel será lançada já traduzida para a língua de cada um desses países no dia 2 de outubro. Essa é uma estratégia nova que tem tudo para dar certo e seguir sendo aplicada para outros lançamentos (torçamos), inclusive de graphic novels da DC Comics, concorrente da Marvel, mas que, no Brasil, também é distribuída pela Panini.

Avengers: Endless Wartime contará com Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Gavião Arqueiro, Wolverine e Capitão Marvel. A graphic novel terá acabamento de luxo e tamanho gigante, com prefácio do ator Clark Gregg (o agente Phil Coulson da filme dos Vingadores) e posfácio de Stan Lee (Excelsior!). Ainda não foram definidos nem número de páginas nem preço.

Abaixo, a sinopse da história.

Um ser abominável, tido como enterrado há muito tempo, ressurgiu em uma terra devastada pela guerra, mas agora ele usa uma bandeira americana. Confrontado com outro pesadelo renascido, Capitão América não vai admitir ainda mais mortes pelas mãos de um fantasma do seu passado. Assombrado por seu maior fracasso, Thor precisa recomeçar a caça a uma fera familiar. Lado a lado com os maiores super-heróis que o mundo já viu, unidos para acabar com uma ameaça que nenhum deles poderia enfrentar sozinho, os Vingadores irão encarar o maior adversário que o grupo jamais enfrentou. Mas será que mesmo todos eles combinados podem não ser suficientes para superar esta força de pura malignidade.

Só resta saber se o sucesso do filme vai ajudar na venda inicial dessa retomada por parte da Marvel da produção de graphic novels; e se a qualidade da história vai ajudar nas vendas a longo prazo. De qualquer forma, count me in.

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Lançamentos:

Capa do primeiro volume de Peter Pan

– Esse mês sai o primeiro volume de Peter Pan, pela editora Nemo, de Régis Loisel. A adaptação da história de J.M. Barie para os quadrinhos é feita por um dos maiores quadrinistas europeus da última década foi muito elogiada na época de seu lançamento na França (ganhando inclusive o Grand Prix do Festival de Angoulême em 2003), e novamente quando foi traduzida para o inglês e lançada nos Estados Unidos. Em uma visão adulta da história, o primeiro dos três volumes da série é dividido em dois capítulos: “Londres” e “Opikanoba”. Em formato 24 x 32 cm, 112 páginas, capa dura, o livro chega nas bancas porR$ 69,00. Com violência, palavrões e sujeira, desenho estilizado e detalhado com cores marcantes, esse é um lançamento imperdível.

-Sai também o primeiro volume de outra trilogia, Kimba, o Leão Branco, de Osamu Tezuka, pela Editora NewPop. Uma das histórias mais famosas do deus do mangá, Kimba, é, junto com Hamlet, de Shakespeare, uma das inspirações para o famoso filme da Disney, O Rei Leão.  Em formato 15 x 21 cm, 168 páginas cor a revista custa R$ 24,90, preço que, em três edições para  a história inteira, vale a pena. Aqui no Brasil, a história ficou famosa pelo desenho (uma das várias adaptações japonesas da história para anime) que veio para cá e foi febre nos anos 70.

– A editora Abril lançou o especial Disney Super-Heróis, disponível  nas bancas em formato pequeno, 304 páginas, a 16 reais. Uma coletânea com os principais super-heróis da Disney, a edição conta com Superpateta, Superpato e Superpata (desculpem a cacofonia) enfrentando os tradicionais e conhecidos vilões, como os irmãos Metralha, Mancha Negra e a Maga Patalójika. Participam desta edição artistas como Guido Martina, Massimo de Vita, Nino Russo, Conrad Lazaro, Francesco Artibani, Anne-Marie Dester, Luciano Gatto, Giorgio Cavazzano, Gorm Transgaard, Wanda Gattino.

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