Os heróis chegam à Disney

Relação entre Hiro e Baymax é o centro emocional de "Operação Big Hero". (Crédito: Walt Disney Pictures/divulgação)
Relação entre Hiro e Baymax é o centro emocional de “Operação Big Hero”. (Crédito: Walt Disney Pictures/divulgação)

Operação Big Hero (Big Hero 6, EUA, 2014)

Direção: Don Hall e Chris Williams

Roteiro: Jordan Roberts, Daniel Gerson e Robert L. Baird, baseados nas HQs de Duncan Rouleau e Steven T. Seagle.

Vozes de: Ryan Potter, Scott Adsit, Jaime Chung, T.J. Miller, Genesis Rodriguez, Damon Wayans, Daniel Henney, Maya Rudolph, James Cromwell, Alan Tudyk, Katie Lowes e Stan Lee.

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É curioso que, ao mesmo tempo em que a Pixar tenha passado a lançar os longas mais irregulares de sua trajetória (e lá se vão quase cinco anos, desde Toy Story 3, que o estúdio de John Lasseter não uma grande obra), a Disney venha renascendo criativamente após uma década medíocre na qual poucos filmes se salvavam e menos ainda eram dignos da qualidade padrão dos anos 1990. Reencontrando a fórmula bem-sucedida de seus clássicos ao mesmo tempo em que atualizou seu discurso (vide as fortes heroínas de Enrolados e Frozen), Operação Big Hero surge como um novo acerto ao ciclo iniciado em 2010.

(Divulgação: Walt Disney Pictures/divulgação)
(Divulgação: Walt Disney Pictures/divulgação)

Inspirado numa desconhecida série de quadrinhos publicada pela Marvel, o filme traz como protagonista o brilhante Hiro Hamada, um órfão que, vivendo com o irmão Tadashi e a tia, encontra-se prestes a entrar para a faculdade de robótica de San Fransokyo mesmo sendo ainda um adolescente. Depois que Tadashi morre em uma tragédia no dia de sua admissão, Hiro descobre que um invento seu (“microbôs” que operam por controle mental) está sendo reproduzido por um vilão mascarado. Suspeitando que o sujeito é responsável pela morte do irmão, Hiro decide entrega-lo à Justiça – contando para isso com os quatro amigos de Tadashi e com Baymax, um robô inflável criado por Tadashi para cuidados de saúde.

Surgindo como uma salada cultural em seu design de produção (algo exposto nos primeiros segundos de projeção através de uma ponte Golden Gate com detalhes arquitetônicos tipicamente japoneses), Operação Big Hero acerta ao empregar boa parte do primeiro ato para estabelecer o universo intensamente colorido e tecnologicamente avançado no qual se passa. Também é curiosa a ideia de introduzir Hiro ao mesmo tempo em que explora o “submundo” desse universo, numa divertida cena que estabelece não só a genialidade do garoto, mas também um lado levemente atípico para um herói da Disney (ou era esperado que ele manipulasse descaradamente seus adversários ao participar de uma… rinha de galo?)

Menos interessantes, no entanto, são os quatro companheiros que o acompanham na segunda metade da história, que são introduzidos de maneira esquemática que busca simplesmente antecipar quais serão as habilidades que usarão em combate mais adiante – mas ainda que não evoluam além de suas características mais básicas, Wasabi, Go Go, Fred e Honey Lemon jamais deixam de ser simpáticos. Felizmente, Operação Big Hero conta com um autêntico trunfo na figura de Baymax. Inicialmente representando um segmento típico das animações Disney, o coadjuvante cômico (sua forma de se movimentar representa uma gag por si só), o robô cumpre a importante função de desvendar o interior tumultuado de Hiro tanto por sua programação médica quanto por representar a constante memória de Tadashi, forçando um adolescente em sofrimento a encarar a própria dor – e a interação entre os dois oscila constantemente entre o tocante e o hilário.

(Crédito: Walt Disney Pictures/divulgação)
(Crédito: Walt Disney Pictures/divulgação)

Já quando parte para a ação, Operação Big Hero exibe uma energia impressionante (vale dizer que o co-diretor Chris Williams já havia se destacado nesse aspecto em Bolt) – e embora a combinação das habilidades do grupo seja divertida de acompanhar, é curioso que a melhor sequência surja antes mesmo que os garotos assumem suas personas heroicas: numa perseguição de carro que aproveita tanto a geografia acidentada da cidade (seu lado São Francisco) quanto os tiques cômicos da equipe. Da mesma forma, o conceito visual do filme exibe o brilhantismo esperado da Disney, como já dito, ao estabelecer o tom e as referências culturais daquele universo, desde o sutil (o penteado revolto de Hiro, que remete ao design típico do anime) ao grandioso (as ameaçadoras interações dos microbôs e o fantástico limbo visto no clímax). Assim, é pena que, embora conceba o vilão com um aspecto intimidante em sua máscara impessoal (repare no imponente contra-plongé subaquático em certo momento), o roteiro acabe drenando boa parte de sua força cênica com a revelação de sua identidade e suas motivações.

Mesmo ficando abaixo dos recentes Frozen e Detona Ralph (que alcançaram maior ressonância dramática), Operação Big Hero empolga e faz rir na medida que deseja. Torçamos para que a atual boa fase do estúdio ainda se mantenha por bastante tempo – afinal, é bem provável que voltaremos a encontrar esse carismático super-grupo em novas aventuras. E há bastante potencial para melhorar.

OBS: O filme não integra o Universo Marvel Cinematográfico, mas nem por isso deixa de incluir uma cena pós-créditos. E, tendo origem na Marvel, a ponta tradicional de Stan Lee não poderia ficar de fora.

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