Foo Fighters de dentro da plateia

Foo Fighters abriu a turnê pelo Brasil em Porto Alegre (Crédito: Ita Pritsch)
Foo Fighters abriu a turnê pelo Brasil em Porto Alegre (Crédito: Ita Pritsch)

Há algo na fisionomia de Dave Grohl que nos faz criar uma espécie de carisma quase que instantâneo. Deve ser porque ele se parece com qualquer cara que já começou uma banda simplesmente para se divertir tocando. A diferença é que ele toca para estádios ou para 30 mil pessoas como foi nesta quarta-feira, dia 21 de janeiro, no estacionamento da Fiergs em Porto Alegre. Além de um frontman carismático, Grohl também é extremamente comunicativo no palco, muitas vezes interagindo com a plateia, atiçando para as próximas músicas. E foram várias. Mais especificamente 26 canções em um show com quase três horas de duração. Antes de começarmos propriamente essa resenha (é mesmo uma resenha? resenhas de shows realmente existem?), vamos comentar um pouco sobre a Kaiser Chiefs, banda que abriu para o Foo Fighters. A banda Comunidade Nin Jitsu começou os trabalhos, mas, infelizmente, não consegui chegar a tempo para a apresentação.

Os britânicos começaram com um dos seus maiores hits, Every day i love you less and less, e podia-se ver algumas pessoas pulando e cantando junto. Eles sabiam, entretanto, que o Foo Fighters era a estrela da noite e também atiçavam a plateia, pedindo para o público gritar o nome da banda. O palco enorme era dividido por um corredor em que os músicos poderiam se locomover, o que já é um padrão em apresentações do Foo Fighters. Desse modo, a pista Premium foi dividida em duas, e o restante do grande público ficou mais atrás, no fim do corredor. Com cerca de uma hora de duração, o show da Kaiser Chiefs foi extremamente empolgante com pontos altos para um cover do The Who, com a música Pimbal Wizard, e a Misery Company, com seu refrão regado à ótima gargalhada do vocalista. Ah, é claro que não podia faltar a Ruby, responsável pelo sucesso do conjunto. Às 20h40min acabava o show e algumas pessoas ainda chegavam à Fiergs. Escutei relatos de cerca de duas horas de engarrafamento entre a Assis Brasil e o local da apresentação.

Britânicos da Kaiser Chief fizeram um show de abertura vibrante (Crédito de Ita Pritsch)
Britânicos da Kaiser Chief fizeram um show de abertura vibrante (Crédito de Ita Pritsch)

Enquanto esperava o show do Foo Fighters, reparei que a maioria das pessoas utilizava esse intervalo para tirar uma selfie, a fim de guardar o momento em alguma rede social – embora o sinal de internet estivesse fraquíssimo por lá. Apareceu até um famigerado Pau de Selfie, em um grupo de três pessoas que procuravam a melhor posição.

Não demorou muito até Dave Grohl surgir risonho mascando um chiclete (algo que parece que ele nasceu fazendo) exatamente às 21h20 da noite, para o público virar a câmera para o palco e tirar aquelas fotos de muito longe e borradas que ninguém saberia identificar quem foi retratado depois…Mas voltando à apresentação, eles começaram tocando o single Something to nothing, do mais recente álbum intitulado Sonic Highways, que vem sendo repetido frequentemente nas rádios locais. A música não apresenta nada de novo, assim como o álbum, realmente uma queda em relação ao Wasting Light, de 2011. A maioria do público, entretanto, já estava ganha e ficou mais empolgada ainda com a próxima música, The Pretender, do disco Echoes, Silence, Patience & Grace, de 2007. Estabelece-se aí a força de uma apresentação do Foo Fighters: músicas estendidas e com um refrão marcante somado ao carisma da banda. Em cada lado do palco, telas mostravam os integrantes do conjunto mais de perto, assim como imagens específicas para o show. Regredindo temporalmente, as próximas foram Learn to Fly e Breakout, faixas do terceiro álbum There’s nothing left to lose, lançado lá em 1999. As duas foram bem cantadas pelo público animado, principalmente Breakout, que fez Dave Grohl correr pelo corredor pela primeira vez na apresentação. Pode-se notar também que o som que alternava nas três primeiras canções começou a se estabilizar em Breakout, mesmo assim houve momento na apresentação em que o som parecia bem mais baixo. Realmente uma falha técnica em um lugar que se mostra cada vez mais complicado para grandes apresentações. A excelente Arlandria continuou a rota de empolgação e então Grohl conversou com o público explicando que eles iam tocar por muito tempo, porque nunca tinham tocado na cidade. Se mostrando verborrágico durante boa parte da apresentação, essa só seria uma das primeiras inserções do vocalista, ele acabou dando o tom da noite: “às vezes vamos conversar, às vezes vamos tocar dez músicas sem parar”.

A excelente Generator e My Hero, do The colour and the shape, foram as próximas e tivemos mais uma intervenção do vocalista que avisou que eles iriam tocar canções de todos os discos, do primeiro até o último. Emendaram, então, de brincadeira, uma música country em referência à cidade de Nashville, do estado de Tennessee, nos Estados Unidos, onde a música Congregation foi composta – essa sim tocada em seguida. Por falar em brincadeira, essa é uma boa palavra para definir o espírito da noite: parece que eles têm que se divertir para tocarem. Isso fica bem claro durante a apresentação dos membros da banda, em que o frontman introduz cada um e pede para que eles demonstrem algum virtuosismo no instrumento. O baterista Taylor Hawkins parece ser o que mais se assemelha à persona de Dave Grohl. Às vezes ele também canta, como é o caso de Cold Day in the Sun, lado B, do álbum Duplo In Your Honor, de 2005 – a composição que seguiu-se após a apresentação dos integrantes. Taylor desenvolve bem também no vocal, mas ao contrário de outras apresentações, aqui ele se mantém na bateria enquanto canta. A nova In the Clear, uma boa música do novo álbum, foi a próxima a ser tocada seguida de Stick around, do álbum Foo Fighters, o primeiro. A música mais grunge do conjunto e que funciona muito bem até hoje. Em Monkey Wrench, tivemos um dos pontos altos da noite. Como vocês devem saber, o Foo Fighters costuma estender a duração da suas músicas nas apresentações, por vezes, pode ficar demasiado longo, mas acabou funcionando perfeitamente nessa música do álbum The colour and the shape. Uma das mais rápidas e pesadas, eles alternaram a melodia para um tom suave, quase como um intervalo, que o público entendeu e acompanhou ao som de luzes do celular, só para depois voltarem com toda a força. Houve ainda um pequeno solo de bateria de Taylor para finalizar a música.

Show alternou músicas de todos os álbuns da banda e covers (Crédito de Duda Bairros/ T4F Time For Fun)
Show alternou músicas de todos os álbuns da banda e covers (Crédito de Duda Bairros/ T4F Time For Fun)

Então, podemos dizer que começaram os momentos dentro da apresentação. O primeiro foi o momento acústico: Dave Grohl ficou sozinho no palco, caminhando até a frente do corredor, com o violão e emendou Skin and bones, que contou com um belo trabalho de Rami Jaffee, que costuma acompanhar o Foo Fighters em turnê, em uma espécie de mini-sanfona. Durante toda a parte acústica, que também envolveu a música Wheels, Dave Grohl ficou na frente do corredor perto da pista normal, e o som pareceu mais prejudicado, fora isso, as pessoas da pista Premium (local em que os jornalistas também estavam) começaram a conversar. Tive a estranha sensação de que parecia uma outra apresentação, para outro público, uma espécie de show dentro do show. Apesar disso, foi um momento mais intimista e bom para quem foi de casal no show, o que era frequente ali na pista Premium. Quando começou Times like these, então, a melecada entre os casais só aumentou. A música começou acústica e terminou ligada na tomada, quando surgiu a banda no meio do corredor em um palco giratório, o que nos leva a outro momento do show: os covers.

Segundo o próprio Grohl afirmou no show, eles queriam se divertir e fazer uma homenagem aos heróis do rock que eles cresceram escutando. Então, a primeira homenagem da noite foi ao Kiss com a música Detroit Rock City. Com uma bandeira do Brasil na frente, já que está apenas começando a turnê pelo País, eles rodavam para cada lado conforme tocavam as músicas. A próxima foi uma excelente releitura de um clássico do Rolling Stones: Miss you. Ela foi muito bem interpretada por Taylor. Cheia de groove, foi um dos pontos altos da noite. Alguém da pista Premium lançou uma bandeira do Rio Grande do Sul à Dave Grohl, mesmo provavelmente não sabendo o que era ele a enrolou no pescoço durante alguns minutos. Grohl então assumiu as baquetas para tocarem Tie your mother down, clássico do Queen, bom para relembrar o talento natural dele na bateria. Finalizaram com mais uma do Queen, o clássico Under pressure.

Depois desses momentos, o show voltou a apostar nos hits mais “pesados” da banda, sendo que foram tocadas praticamente uma atrás da outra All my life, These days, Rope e Outside. Dave Grohl explica que eles não são o tipo de banda que saem e voltam para o bis no palco, dando pista que já estava perto do fim do show. Começa então, Best of you, que acaba por transformar o público em um belíssimo coro. O que levou Grohl a agradecer e dizer que a plateia era incrível – o que ele provavelmente faz em todos os shows. Para finalizar, aquela música é sempre a última em suas apresentações: Everlong, justamente a composição que talvez mais resuma o espírito do Foo Fighters. Um forte refrão, regado de momentos de silêncio, só para estourar novamente.

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.
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