Ode ao legado Marley

Julian Marley ditou o tom do show no Opinião
Julian Marley ditou o tom do show no Opinião

Texto Vinicius Duarte

Fotografia Francielle Caetano

Pelos corredores do Bar Opinião, espremem-se jovens de todas as idades entre dezoito e oitenta anos. Com os poucos cabelos grisalhos que restam, um senhor, que aparenta alcançar a casa dos sessenta anos, está entre a multidão. Ao lado, sua neta, o que é possível deduzir pela similaridade entre os olhos com traços orientais e bocas pequenas, parece não ter mais que dezoito anos. Quando a banda anunciada como atração da noite entra em cena, apresentando um longo solo instrumental conduzido pelo saxofonista Glen Dacosta, ambos sorriem demonstrando entusiasmo. A longa abertura acaba e o também sexagenário Tyrone Downie deixa seu teclado de lado. Sua tarefa é dar força a um coro, incentivando o público a exaltar uma das estrelas hereditárias da família Marley. Avô e neta, acompanhados de todos os presentes, o ajudam.

Quando Julian sobe ao palco, o delírio dos fãs explode em forma de gritos, assovios e lágrimas. Não é para menos. A imagem e os trejeitos do cantor britânico remetem diretamente a maior figura do reggae mundial: Bob Marley. Quarto filho do cantor jamaicano, Julian Marley sintetiza a atenção de todos os presentes a cada verso. Rodeado por músicos que emplacaram sucessos ao lado de seu pai, Julian oferece ao público a expectativa que muitos fãs carregam: sentir a energia de Bob Marley em um show. É realmente improvável questionar a semelhança entre pai e filho.

Liderado pelo baixista Aston “Familyman” Barrett, The Wailers mantém a mística que tornou Bob Marley um ícone. Apesar da larga diferença de idade, a banda é impecável ao lado de Julian durante todo o show, que se estende por cerca de uma hora e trinta minutos. A setlist não poderia deixar de contar com os hits emplacados pelo patriarca de Julian – e outros conhecidos ex-membros, como Peter Tosh e Bunny Wailer. O público, que compreende a grandiosidade daquele momento, acompanha frase a frase o repertório que inclui Rebel Music, Natural Mystic e Positive Vibration.

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The Wailers band reunion & Julian Marley tocaram no Opinião no dia 15 de janeiro

Os celulares e as câmeras apontadas para o palco registram momentos peculiares, mesmo para quem está acostumado com grandes espetáculos. Julian aparentemente surpreso com o carinho do público, volta seu rosto ao sentido da banda, sorrindo, como se estivesse comprovando que a música que seu pai difundiu realmente chegou aos quatro cantos do planeta. Também emocionado, Tyrone Downie, por duas ou três vezes, arrisca agradecer em um português carregado pelo sotaque nativo da ilha da América Central.

O relógio se aproxima da 1h da madrugada quando a banda ensaia sua partida. Ainda há tempo de interpretar One Love, uma das canções mais tocadas da carreira da banda. Demonstrando cansaço, que pode ser creditado ao calor tropical do hemisfério do sul, os músicos interpretaram Get Up, Stand Up, canção que clama por resistência e luta pelos direitos. É a deixa final para que Julian Marley e os companheiros de The Wailers deixem o palco. Agradecendo a energia e o louvor dos fãs brasileiros, os músicos despedem-se sob palmas. Encerra-se mais um culto. Uma prova de que o legado de Marley perdura, mesmo trinta e seis anos após sua morte.

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