Cada Um na Sua Casa é novo ponto baixo da Dreamworks

Roteiro no piloto automático e personagens desinteressantes fazem desta uma das animações mais medíocres da Dreamworks. (Crédito: 20th Century Fox/divulgação)
Roteiro no piloto automático e personagens desinteressantes fazem desta uma das animações mais medíocres da Dreamworks. (Crédito: 20th Century Fox/divulgação)

Cada Um na Sua Casa (Home, EUA, 2015)

Direção: Tim Johnson

Roteiro: Tom J. Astle e Matt Ember, baseado em livro de Adam Rex.

Vozes de: Jim Parsons, Rihanna, Steve Martin, Jennifer Lopez, Matt Jones e Brian Stepanek.

É fato que a Dreamworks Animation nunca teve um currículo brilhante como o da Pixar – afinal, boa parte dos filmes que sucederam Shrek pareciam meras desculpas para fazer citações pop. Os últimos anos, no entanto, pareceram trazer uma melhora substancial aos roteiros do estúdio, especialmente Como Treinar o Seu Dragão 1 e 2, Os Croods e As Aventuras de Peabody & Sherman – e mesmo trabalhos mais irregulares como Gato de Botas e Kung Fu Panda 2 eram divertidos o suficiente para evitar a rejeição total. Já este Cada Um na Sua Casa parece construído a partir de um trabalho preguiçoso sobre o manual de roteiro do estúdio: não basta seguir o padrão do protagonista loser e parceria improvável, é preciso fazê-lo da forma mais tola e mecânica possível.

(Crédito: 20th Century Fox/divulgação)
(Crédito: 20th Century Fox/divulgação)

Cada Um na Sua Casa inicia com uma espécie alienígena, os Boovs, prestes a invadir a Terra depois que seus inimigos, os Gorgs, destruíram seu planeta anterior. Covardes por natureza, os aliens realocam todos os humanos do planeta para a Oceania a fim de ocupar as estruturas já existentes. Quando o protagonista, o atrapalhado Oh (voz de Parsons no original) envia um convite para uma festa a todas as criaturas do Universo, os líderes Boovs o perseguem para que ele impeça a mensagem de chegar aos Gorgs. Temendo ser punido, ele se alia à pequena Tip (Rihanna), que escapou à abdução e está à procura da mãe.

Tentar criar urgência para uma trama dessas é uma esforço destinado ao fracasso por dois motivos: 1) é bizarro que a viagem de Tip para encontrar a mãe ganhe tanta importância, já que se for capturada, deverá ser levada até a mãe e 2) Oh não é apenas um loser, é um loser sem noção – e poucos segundos em cena já são suficientes para torná-lo uma figura que beira o insuportável (pense nos piores momentos da preguiça Sid, da franquia A Era do Gelo) – e também não há qualquer sugestão de ameaça em sua captura. Da mesma forma, a relação entre os dois é desenvolvida claramente seguindo uma checklist: eles começam se estranhando para começarem a se entender, superando o primeiro desafio, para então brigarem e o protagonista reconsiderar suas decisões – algo que até poderia funcionar caso os personagens fossem mais interessantes e esse processo não soasse tão preguiçoso. Para deixar tudo ainda pior, os coadjuvantes não ajudam em nada, com menção desonrosa para o aborrecido capitão Smek, líder dos Boovs (já o gato da heroína é até engraçadinho, talvez por jamais abrir a boca). E claro, é difícil não se incomodar com a resolução terrivelmente arbitrária – afinal, temos que ser politicamente corretos até com os vilões…

(Crédito: 20th Century Fox/divulgação)
(Crédito: 20th Century Fox/divulgação)

Sim, há alguns prazeres espalhados pelo longa, mas principalmente plásticos – algo esperado da Dreamworks: merecem destaque o belo plano que traz o céu noturno refletido no oceano enquanto Tip está sentada sobre seu carro voador e o conceito das cidades invadidas pelos Boovs, que suspendem em bolhas todos os objetos e locais que consideram “inúteis”, mas os acertos param por aí. De modo geral, o humor do filme se concentra na forma de expressão dos Boovs, cheia de erros gramaticais básicos, e em gags físicas extremamente primárias, que basicamente consistem em personagens dando pancadas na cabeça uns dos outros e esbarrando em todo tipo de objeto. Finalmente, Cada Um na Sua Casa quase poderia se chamar Rihanna: O Filme, tamanha a quantidade de músicas da cantora executadas na trilha sonora sem razão aparente – a não ser, claro, lembrar o público que ela é uma das dubladoras, o que termina de atirar o espectador para fora do filme.

Inacreditavelmente dirigido por Tim Johnson, responsável pelo fabuloso Formiguinhaz (primeiro esforço da Dreamworks na animação 3D), Cada Um na Sua Casa pode até apelar às crianças menores por seu visual intensamente colorido e humor visual. No entanto, sua trama surrada e óbvia, personagens sem carisma e diálogos melosos, ancorados em uma estrutura de road movie que já foi empregada em filmes infinitamente melhores, deveriam garantir sua baixa longevidade.

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