Bicha (nem tão) Má: um panorama detalhado de LGBTs em novelas

CAPA-EDITORA
Arte da capa: Nádia Alíbio

Em pleno século XXI, políticos fazem campanha para erradicar a homossexualidade através da “cura gay”. Há, ainda, aqueles que temem uma iminente “ditadura gay”, planejada por um “movimento gayzista” infiltrado no Brasil. E os que prefeririam ver o filho morto a aparecer “com um bigodudo por aí”.

Demonstrações de preconceito são uma constante na sociedade, mas o fato de partirem de parlamentares – entre os mais notórios, sem dúvida, Marco Feliciano (PSC) e Jair Bolsonaro (PP), além de Levi Fidelix (PRTB), candidato à presidência em 2014 – aponta para um problema ainda maior: se eles estão onde estão, é porque foram eleitos. E se foram eleitos, é porque há muita gente que compactua com esses posicionamentos.

As manifestações de ódio parecem crescer à medida em que o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) garante conquistas históricas e ganha visibilidade. Discutir aspectos de gênero e sexualidade incomoda, especialmente quando eles não correspondem aos (conservadores) padrões estabelecidos. Por isso, não deixa de ser surpreendente que essas discussões, nos últimos anos, tenham pautado o principal produto cultural de massa do Brasil: a telenovela.

Esse apelo das novelas junto à população chamou a atenção da jornalista Fernanda Nascimento, que lança nesta quinta-feira, 30 de julho, o livro Bicha (nem tão) Má – LGBTs em Novelas. A publicação tem como foco Amor à Vida e o personagem Félix, vivido pelo ator Mateus Solano, mas vai muito além disso.

Bicha (nem tão) Má é uma versão adaptada da dissertação de mestrado defendida pela jornalista na PUCRS. Os leitores não familiarizados com a linguagem acadêmica, porém, podem ficar tranquilos. Mesmo em seu primeiro capítulo, de fundamentação teórica, a obra prende pela força da argumentação e pelo extenso trabalho de pesquisa, que não se restringe a Félix e cia. Fernanda traçou o perfil de todas as personagens homossexuais que apareceram em novelas da TV Globo desde o primeiro registro, em 1970 (Assim na Terra como no Céu), a 2013, quando Amor à Vida foi ao ar. São nada menos que 126 perfis, que incluem faixa etária, raça, classe, profissão e outras características, dentro de 62 tramas. Além disso, há uma análise sobre o contexto histórico, abordando, por exemplo, a aceitação e o desfecho de casais LGBTs, como os icônicos Jefferson e Sandrinho (Lui Mendes e André Gonçalves em A Próxima Vítima, de 1995) e Leila e Rafaela, (Silvia Pfeifer e Christiane Torloni, mortas em um incêndio em Torre de Babel, de 1998). Só por este levantamento, o livro já pode ser considerado referência básica para a área.

Em entrevista ao Nonada, a jornalista, que também é uma das fundadoras do grupo Gemis (Gênero, Mídia e Sexualidade), fala sobre a visibilidade dos LGBTs nas novelas, os aspectos positivos e negativos dessa representação, os avanços no campo dos direitos humanos e a onda conservadora que assolou o Brasil. Confira a entrevista a seguir e, logo abaixo, o serviço sobre o lançamento de Bicha (nem tão) Má.

Nonada – Tua monografia (Homoafetividade e Identidade gay: Representações na Teledramaturgia, PUCRS, 2011) também teve como foco a homossexualidade nas novelas. Como chegaste a esse tema?

Fernanda Nascimento – Meu envolvimento com a temática gênero e sexualidade vem do início da minha graduação, e tem a ver com a minha própria identidade, de ser uma mulher lésbica. Quando comecei a me envolver nas discussões de mídia e no movimento estudantil – fui dirigente da regional Sul da Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação) – eu comecei a aprofundar o interesse por essa temática. As três bandeiras da Enecos são: democratização da comunicação, qualificação do comunicador e combate às opressões, e eu militava especialmente nesta para entender o que estava acontecendo com essas opressões de gênero e sexualidade. Quando se aproximou do final da graduação, meu interesse já era fazer um trabalho sobre essa temática. Inicialmente eu tinha pensado em fazer uma análise sobre a revista Veja, em como ela representava homossexuais. Minha ideia era pensar qual era a diferença na representação de lésbicas. Daí, conversando com a minha orientadora, Ana Carolina Escoteguy, ela sugeriu: “quem sabe tu não começas a pensar em como isso se dá nas novelas?”. Eu tinha resistência com as novelas, durante muito tempo eu não vi porque tinha um pouco dessa visão da esquerda de que a novela é alienante. Comecei a pesquisar e perceber que não, que as telenovelas no Brasil, na América Latina, também são construtoras de identidade. Por exemplo: uma temática de gênero e sexualidade nas novelas vai ser exibida por nove meses, uma visibilidade que tu não vais ter num jornal. Por mais que tu tenhas uma notícia relevante, tu não vais ficar falando nove meses sobre aquilo ali todos os dias.

Comecei a pensar que as novelas muitas vezes foram importantes para problematizar algumas temáticas da minha família, que novela a gente não precisa ver para consumir, pode consumir vendo jornais, revistas, e a partir disso desloquei minha atenção para as elas. Na monografia, fiz uma análise da novela Ti Ti Ti, a de 2011 e a de 1985, pensando sobre o que tinha mudado para que se inserisse um núcleo LGBT – o remake da de 2011 tem um núcleo específico, o que não havia em 1985, já mapeando que mudanças haviam ocorrido na sociedade para que se inserisse isso. Em 1985 havia um personagem que fingia ser homossexual para obter vantagens, em 2011 já tinha uma história bem mais problematizada a respeito da homossexualidade. Quando eu entrei no mestrado, meu primeiro objeto de estudo na dissertação era Insensato Coração, uma novela de 2011 que tinha um núcleo formado por LGBTs, sendo que uma delas foi assassinada (o garçom Gilvan, vivido por Miguel Roncato), foi emblemático nesse sentido de haver uma discussão sobre preconceito. Mas aí, no começo de 2013, apareceu o Félix. Com um protagonista homossexual, não tinha como não mudar de objeto de estudo.

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Objeto de estudo da jornalista Fernanda Nascimento foi a novela Amor à Vida, da TV Globo (Foto: Fredy/Vieira/Divulgação)

Nonada – Aí entramos em Amor à Vida... Tu consideras essa novela um marco na dramaturgia brasileira em relação à discussão da temática LGBT?

Fernanda – É um marco, especialmente por essa retomada de uma novela com protagonista LGBT. Roda de Fogo havia sido a última, em 1987 (com Cecil Thiré no papel do vilão, o advogado Mário Liberato), mas não havia, nem nessa novela e nem em outras, uma discussão de gênero e sexualidade tão relevante, tão aprofundada quanto em Amor à Vida. O Félix foi uma personagem que estava no cerne disso e só foi crescendo ao longo da trama, o Mateus Solano fez uma grande representação. Mas não é só isso, na mesma novela a gente teve um casal, Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Antony), que foram responsáveis pela problematização da temática da família.

Nonada – Com a abordagem de questões como adoção e inseminação artificial.

Fernanda – Exatamente. A temática da adoção tinha aparecido em duas novelas anteriormente, Senhora do Destino (2004) e Viver a Vida (2009), mas foi nos últimos capítulos que as personagens se envolveram com as crianças, e de forma muito tênue. Em Amor à Vida, essa socialização se deu desde o princípio, e a questão da inseminação artificial foi uma grande novidade, porque é um recurso que está disponível para casais homossexuais e isso ainda não havia aparecido nas novelas. E no fim ainda teve o estabelecimento do primeiro triângulo amoroso homossexual, entre essas três personagens, além do beijo gay (entre Félix e Niko), que acabou acontecendo no final, após ter sido por tantos anos anunciado. Essa questão do beijo foi uma barreira rompida, depois outras novelas tiveram beijos entre personagens gays. Acabou esse tabu, e acho que se avançou em outras temáticas.

Nonada – A visibilidade nas questões relativas a LGBTs aumentou nas últimas novelas, não?

Fernanda – Falando só no horário nobre, Em Família contou com um casal de lésbicas, Clara (Giovana Antonelli) e Marina (Tainá Müller), bastante visível e comentado, teve beijos entre elas ao longo da trama. Em Império a gente teve um personagem que era a Xana (Aílton Graça), que era crossdresser (pessoa que, sendo de um gênero, se veste como o que é socialmente aceito como do outro, independentemente da orientação sexual), borrava um pouco essas fronteiras entre gênero e sexualidade, as pessoas não conseguiam entender. Para entender como a novela é importante, o jornal Diário Gaúcho usou uma página central inteira para explicar o que era crossdresser, e todos os termos do glossário LGBT. A partir da discussão na novela, houve outras discussões na mídia, e essa é uma das grandes capacidades que a novela tem.

Nonada – Em relação ao perfil das personagens, tu relatas no livro que a maioria dos gays eram retratados utilizando a linguagem camp (o famoso “dar pinta”, comportamento geralmente associado a gays de classes sociais mais baixas), enquanto as lésbicas eram heteronormatizadas. Está havendo alguma mudança em relação a isso?

Fernanda – Em relação aos gays a gente está vendo uma mudança, eles têm se enquadrado mais no padrão heteronormativo. Mas continua tendo muitos gays com comportamento camp que a gente chama “essa bicha”. Em relação a lésbicas não tem uma mudança ainda, segue o padrão lesbian chic. Elas seguem normas de gênero estabelecidas para o gênero feminino e pouco transgridem. As sapatões continuam invisíveis. Isso tem a ver com a sexualidade feminina, que é mais regulada.

Nonada – Tu achas que haveria rejeição em relação a uma representação de lésbica com linguagem butch, sapatão?

Fernanda – Acho que sim, porque tem muito dessa coisa do fetiche em relação às lésbicas. Continuam sendo representadas como se estivessem a serviço dessas atribuições que os homens esperam que elas tenham. Uma lésbica sapatão, butch, é mais transgressora, por isso não tem tanta visibilidade. Nas séries contemporâneas a Amor à Vida, que também abordo no livro, a gente vê avanços nesse sentido (Pé na Cova, com Tamanco, interpretada por Mart’nália), mas, em geral, as lésbicas têm uma visibilidade bem mais restrita do que os homens. Isso está relacionado à questão de a mulher ter uma sexualidade bem mais regulada.

Nonada – Félix é de classe alta, mas utiliza uma linguagem camp, geralmente atribuída a classes mais baixas. Dá para considerar isso uma ruptura também?

Fernanda – Foi, porque especialmente nas primeiras décadas as personagens eram de linguagem camp e classe popular. A priori não há um juízo de que isso seja pejorativo, mas se formos avaliar que nas novelas, de maneira geral, os personagens são de classe alta, ser de classe popular é ser considerado inferior, tem essas duas conotações. Os gays de classe média geralmente são heternormativos e têm um comportamento mais adequado a normas de gênero. Félix dava uma balançada nisso, era um personagem rico, mas com um linguajar muitas vezes adotado por personagens de classe popular. O Félix era muito contraditório de forma geral, por isso o título Bicha (nem tão) Má. Ele sofria preconceito, mas também era completamente preconceituoso: era misógino, tinha preconceito de classe, preconceito geracional… Uma personagem para fazer refletir sobre como esses marcadores sociais nos atravessam o tempo todo. Porque fora o aspecto da sexualidade, ele estava totalmente dentro das normas: era um cara branco, jovem, de classe alta, se adequava a todos os padrões e privilégios. O Félix foi emblemático nesse sentido, para a gente pensar que o oprimido também pode ser opressor, para não absolutizar as posições que nós temos socialmente. Foi uma personagem emblemática para pensar sobre LGBTs e a complexidade dessas representações.

Nonada – E essa questão da vilania? Gays não estão adequados a uma sexualidade normativa, há uma associação indireta, velada, entre as duas coisas?

Fernanda – Existe essa pecha de bicha má na sociedade. Mas eu não considero que tenha sido ruim (a representação de Félix), pelo contrário. A gente não tinha protagonistas – incluindo aí antagonistas – LGBTs, não tinha nenhuma bicha má nas novelas com essa visibilidade do Félix. Claro que quando as pessoas dizem isso está carregado de preconceito, ninguém vai dizer “que hétero mau”. É a mesma coisa quando a gente fala: “eu conheço um gay, mas ele é discreto, não é como essas bichas da novela”.

Nonada – Por um longo tempo, os gays ficaram restritos ao núcleo de humor das novelas, então a ideia era de que fossem propositalmente “afetados”, para serem engraçados. Com o passar dos anos, passamos a ter discussões sobre relacionamentos, adoção, inseminação e abordagem do preconceito. Para ti, as temáticas vão continuar avançando até que ponto?

Fernanda – Eu acho importante discutir a homofobia e a questão da violência. É importante que as novelas tragam isso, a gente tem um contingente de mortes de LGBTs que acontece uma a cada 26 horas. Quase uma por dia, uma violência muito grande, e é uma violência que é negada. Quanto mais a gente discutir e tiver nessas personagens formas de referência para debater esses temas, melhor. Muitas pessoas, a grande maioria, jamais iria assistir a um filme gay por vontade própria, porque há um grande preconceito. Nem de lésbicas. Nas novelas, que é um produto muito consumido, as pessoas são “obrigadas” a ver e pensar sobre aquilo de alguma forma. Babilônia, (atual novela das 21h, com Fernanda Montenegro e Natália Timberg fazendo um casal de lésbicas, Tereza e Estela) está tendo uma resistência enorme e teve toda uma campanha no início da novela contra as personagens lésbicas.

Nonada – Parte dessa resistência não é por causa da idade?

Fernanda – Primeira coisa: elas são homossexuais; segunda: elas são mulheres; terceira: elas são velhas – idosas, velhas é pejorativo. São “sapatosas”, como elas dizem. Claramente há um preconceito geracional, pois, quando a gente fala em personagens idosas, não pressupõe que elas tenham uma sexualidade. A sexualidade está sempre relacionada a uma juventude, as pessoas pensam: “como é que duas velhas sapatas vão ter um relacionamento?” Elas tiveram um beijo que foi um tapa na cara da família brasileira, foi no início da novela, uma demarcação importante. Essa questão da geração é muito limitadora, e, no caso das duas, elas tem mais de 80 anos. Não havia personagens LGBTs ainda com essa idade, um casal, vivendo isso de forma transparente e militante. Mas há outros fatores que explicam essa resistência, como o fato de estarmos vivendo uma grande onda conservadora no Brasil. Isso não está dissociado, os movimentos que acontecem nas novelas refletem um contexto. Existe uma bancada fundamentalista enorme, pressão dos setores conservadores, um retrocesso em várias garantias, e isso se reflete também nas novelas. O núcleo dessas personagens fazendo embate com fundamentalistas era algo que também não tinha acontecido, tem um núcleo de evangélicos, quer fazer um “kit hétero”. Isso é coisa que está acontecendo na realidade, não é ficção.

Nonada – Já teve gente questionando o que a Globo quer com essa “propaganda homossexual” e alertando para a instauração da “ditadura gay”. Nem vamos entrar no mérito dessa discussão, que é tão absurda, mas o que tu achas: a Globo está, realmente, adotando uma nova abordagem em relação à temática LGBT ou é simplesmente disputa por Ibope?

Fernanda – Tem um crescente que nem sempre as pessoas percebem. Nos últimos dois anos teve muitas novelas com essa temática. Se na primeira década a gente teve sete personagens, na segunda, 11, e nos anos 90, um crescimento maior, a partir de 2003 não há nenhuma novela no horário nobre que não tenha tido personagens LGBTs. Claro, Amor à Vida foi um marco. E, depois disso, tivemos três novelas com personagens marcantes LGBT. Já havia um crescimento. Não é possível dizer que não tenha uma relação com o Ibope, mas também tem a ver com uma reivindicação da própria comunidade LGBT, que nos últimos anos obteve conquistas importantes. É bom lembrar que 30 anos atrás ainda havia a classificação da homossexualidade como uma doença. Isso já não existe mais, é impossível que alguém diga isso sem estar expressando preconceito. Hoje já temos um casamento assegurado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), direito à adoção. São inúmeras conquistas ao longo dos anos relacionadas com esse crescimento na ficção, a realidade não está apartada disso. O próximo passo a ser dado seria no sentido de uma maior diversidade, com representação de pessoas transexuais, por exemplo.

Nonada – Também há bastante resistência em relação a transexuais, travestis, transgêneros…

Fernanda – Quando tem, são personagens assexuadas, com uma participação muito pequena. É só a Rogéria, que já chegou a dizer que é “a travesti da família brasileira”. Mas é uma personagem sempre assexuada, parece uma vovó. A Rogéria é uma pessoa importante, mas não ameaça tanto o status quo, porque é uma senhorinha, é engraçada. A pauta das pessoas trans é bem extensa. Teve uma novela que de alguma maneira tocou nisso, Fina Estampa (2012), de forma muito breve, com a personagem Fabricia (Luciana Paes). Alguém foi ao banheiro e descobriu que ela era uma mulher trans, porque ainda não havia feito todas as cirurgias de redesignação sexual, e foi um choque – é um homem ou uma mulher? – e ela explicou. Mas foi um capítulo em 200. A temática das pessoas trans tem adquirido bastante visibilidade no movimento LGBT e é isso é muito necessário, pois elas têm uma expectativa de vida de 30 e poucos anos, são excluídas da escola e do mercado de trabalho, a maioria se prostitui. Enfim, há uma série de questões que fazem com que elas fiquem totalmente marginalizadas, mesmo no movimento LGBT. Talvez possamos ter maior visibilidade dessas outras identidades nas novelas. Isso sem contar que a representação de gays que não sejam brancos é mínima, mas isso tem a ver com a própria representação da população nas novelas. Houve uma melhora, a visibilidade aumentou, mas é regulada. Nem de perto reflete as representações da sociedade.

SERVIÇO:

Lançamento do livro Bicha (nem tão) Má – LGBTs em Telenovelas
(Editora Multifoco, 260 páginas, preço R$ 40,00)
Data: Quinta-feira, 30 de julho, às 20h
Local: Livraria Baleia (Rua Santana, 252, bairro Santana – Porto Alegre)
Também é possível comprar o livro no site www.bichanemtaoma.com.br

 

 

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