Aliança do Crime: Johnny Depp retorna às boas atuações em filme mediano

Johnny Depp surge quase irreconhecível em Aliança do Crime (Crédito:
Johnny Depp surge quase irreconhecível em Aliança do Crime (Crédito: Cross Creek Pictures)

Filmes como Bons Companheiros e Cassino, de Scorsese, acompanham o dia a dia da máfia a partir do relato do principal protagonista da trama, interpretados por Ray Liotta e Robert de Niro, respectivamente. Sabendo disso, toda a história ganha uma atmosfera que se assemelha ao que realmente aconteceu. Em Aliança do Crime, de Scott Cooper, a narrativa caminha entre como as pessoas enxerguem alguém e como ela realmente é de fato.

Escrito por Mark Mallouk e Jez Butterworth,o filme conta a história de James “Whitey” Bulger (Johnny Depp), que se torna o maior criminoso de Boston durante as décadas de 1970 e 1980. Para isso, ele conta com a ajuda de  seus capangas Kevin (Jesse Plemons), Steve (Rory Cochrane) e John (W. Earl Brown), de um acordo com o FBI através de seu amigo de infância Connolly (Joel Edgerton) e a blindagem que seu irmão senador proporciona Billy (Benedict Cumberbatch).

Utilizando uma montagem paralela entre os relatos do interrogatório feito pelo FBI e cenas dessas histórias, Aliança do Crime acaba se tornando mais um resumo do reinado de Bulger, do que de mostrar o que de fato aconteceu. E esse é um elemento que prejudica o desenvolvimento do filme, já que, através dessas confissões, não fica nítido para o espectador qual é sua desavença com a Máfia Italiana e quais são os setores que ele controla, entre outras coisas. Algo muito diferente dos filmes de Scorsese, que detalha minuciosamente todo o funcionamento de uma organização criminosa, desde a função de cada integrante a como o esquema é executado.

Além disso, a relação desenvolvida entre Bulger e o FBI, em determinado momento soa patético, já que um plano tão simples tenha passado despercebido por todos os agentes, o que na verdade só revela a vulnerabilidade interna do serviço de inteligência dos Estados Unidos. E quando vemos o personagem de Kevin Bacon ciente do que está acontecendo e incapaz de fazer alguma coisa, temos certeza da fragilidade do sistema, além de beirar ao cômico.

Apesar disso, o filme possui elementos que o salvam de ser uma completa tragédia. Johnny Depp finalmente retorna à um papel que exige dele uma atuação mais introspectiva, sem os exageros, como tem sido seus últimos personagens. Com uma maquiagem densa, lentes azuis e uma careca, Depp encarna Bulger como um homem sério, sarcástico, frio e de uma crueldade capaz de amedrontar até mesmo o mais violento de seus capangas. E quando vemos ele ameaçando a esposa de Connolly, nos damos conta da sua perversidade – não por acaso que a personagem, no início da cena, esteja lendo o livro do exorcista.

Porém, todas as cenas que nos revelam a monstruosidade de Bulger são feitas a partir dos interrogatórios feitos pela FBI, o que demonstra na verdade, como seus capangas o viam. Contudo, quando presenciamos ele se relacionando com sua mãe, esposa e filho, testemunhamos um lado daquele personagem que poucos foram capazes de presenciar. Assim como, quando Bulger se mostra espantado com a esposa ser capaz de desligar os aparelhos que mantêm o filho vivo, nos deparamos como cada ser humano constrói sua própria definição do que é certo ou errado. Não por acaso que o diretor – responsável pelo fantástico Coração Louco e o bom Tudo por Justiça – escolheu inserir o personagem em um universo escuro e cinzento, além de frequentemente colocá-lo com o rosto parcialmente sombreado. Mas se isso pode significar que o personagem é muito mais do que as pessoas enxergam, é possível que também nos indique que ele é alguém que não se pode confiar, que não terá a mínima piedade de matar alguém pelas costas se for necessário.

Quanto aos demais personagens, o diretor consegue conduzi-los com confiança, tendo em vista o elenco de peso do filme. Além de Bulger, o personagem que mais chama atenção é Connolly. No decorrer do filme podemos ver a transformação dele de um homem parcialmente tímido, para um homem mais confiante e seguro de si. E no fundo, ele realmente acredita que suas ações são nobres, já que ele está retirando a máfia italiana da cidade e retribuindo os anos de ajuda e amizade que Bulger proporcionou durante a infância e juventude. Porém, mesmo com atuações excelentes de todo o elenco, permitindo-os tenham pelo menos uma cena de impacto, a forma como o filme é conduzido impossibilita que seus personagens ganhem um destaque mais profundo. Sem contar que volta e meia, quando alguns deles se ausentam da história e voltam, até esquecemos que eles existem.

Aliança do Crime é um filme que, em termo de violência, vai agradar aos fãs de Scorsese, além de trazer uma atuação digna de Johnny Depp. Porém, assim como seus personagens que desaparecem abruptamente da história, a produção é facilmente esquecível.

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