O trecho que faltava na história de Sylvia Plath

Sylvia Plath suicidou-se em 11 de fevereiro de 1963 (Crédito: Arquivo)

Se a vida da escritora Sylvia Plath fosse um livro, “Last Letter”, o poema inacabado recentemente descoberto de Ted Hughes, seu marido também escritor, seria um epílogo perfeito. Encontrado em outubro num dos cadernos de Hughes que estão sob a guarda da Biblioteca Britânica, o poema dá pistas sobre os momentos anteriores ao suicídio de Sylvia, que na manhã de 11 de fevereiro de 1963 deitou a cabeça sobre uma toalha dentro do forno da sua casa, com o gás ligado, após tomar uma grande quantidade de narcóticos.

O poema de 150 linhas foi reescrito várias vezes, e evidencia um sentimento de culpa por parte de Hughes, que abandonara Sylvia por outra mulher, a também poetisa Assia Wevil, alguns meses antes da morte da esposa. O texto revela que Ted recebera uma carta de suicídio de Sylvia uma semana antes da tragédia, e por isso dirigira-se à sua casa com questionamentos. Sylvia queimou a carta na sua frente “com um estranho sorriso”, segundo o poema.

Dirigindo-se à mulher ao longo de todo o texto, Hughes revela o seu atormento devido à notícia do suicídio: “Então, uma voz, como uma arma escolhida/ou uma injeção calculada,/friamente deixou essas cinco palavras/no mais fundo dos meus ouvidos: ‘A sua mulher está morta'”. O escritor investiga poeticamente a noite anterior ao acontecimento, tentando compreender as motivações de Sylvia para dar cabo da vida. O autor acredita que o ciúme foi determinante, já que ele passara o final de semana com uma amante e não estivera em casa para atender seus eventuais telefonemas.

Considera-se este texto como uma peça que faltava para a compreensão do fim da trajetória de Sylvia Plath. Foi escrito em meados da década de 1970, e publicado pela revista inglesa New Statesman apenas no fim deste ano. O remorso que Ted Hughes sentiu até o fim da vida por causa da morte da esposa fica evidente no poema, o que tem causado comoção na imprensa da Inglaterra. O escritor morreu em 1998, ano em que também publicou o livro Birthday Letters, uma reflexão poética dedicada a Sylvia Plath e à tumultuosa relação dos dois.

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