Seu Jorge: samba-rock, suingue carioca e pequenos equívocos no repertório

Texto e fotos: Paulo Finatto Jr. (paulofinattojr@hotmail.com)

Músico retornou a Porto Alegre para mais um show da turnê do disco América Brasil

De volta à capital gaúcha para continuar com a turnê do aclamado disco América Brasil (2007), o carioca Seu Jorge mais uma vez esgotou todos os ingressos disponíveis para a sua apresentação no Teatro do Bourbon Country na quinta-feira, dia 16 de junho. Embora não tenha trazido nenhuma novidade para o repertório em comparação com o show de três anos atrás, quando promovia o álbum ainda inédito, o público massivo traduziu a importância do músico para a MPB contemporânea em mais de duas horas de samba-rock.

Com um pequeno atraso, Jorge Mário da Silva – o nome verdadeiro do cantor, que iniciou a sua carreira no então promissor grupo Farofa Carioca em 1998 – subiu ao palco do Teatro do Bourbon por volta de 21h30min para iniciar o seu show. O músico, acompanhado por uma banda expressiva e verdadeiramente competente, abriu o espetáculo com um dos seus maiores sucessos, o samba-rock “Mina do Condomínio”. A faixa precedeu outras duas outras composições interessantes que, curiosamente, não chegaram a empolgar a grande plateia que ocupava cada centímetro da pista e dos setores superiores da casa. Os gaúchos apenas assistiram Seu Jorge executar “Chega no Suingue” e “Mangueira”.

Por mais que possua um repertório consistente e independente de qualquer hit radiofônico e/ou popular, os fãs gaúchos mostraram certa ansiedade – desde o princípio do espetáculo – para conferir as músicas mais conhecidas do compositor. Entretanto, as versões que Seu Jorge costuma fazer para “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” (de Hyldon, que ficou mais conhecida depois que o Kid Abelha regravou) e “Negro Drama” (dos Racionais MC’s) impressionaram mais pela ousadia – especialmente essa última – do que pela resposta do público. Porém, a virada de mesa aconteceu com “É Isso Aí”, releitura prestigiada de “The Blower’s Daughter” (Damien Rice), assinada por Ana Carolina e Seu Jorge, e “Seu Olhar”, provavelmente a música mais bonita e introspectiva do repertório escolhido para a noite.

Os recursos – claramente ousados – para quebrar o gelo e empolgar o público (que se mostrava um tanto quanto alheio ao show em músicas de menor impacto) não funcionaram e causaram estranheza. As versões estendidas para “Chatterton” – com um diferenciado quê de reggae – e “Tive Razão” abriram espaço para improvisos/pequenos solos dos músicos da banda de apoio e deixaram muitos dos gaúchos impacientes com o andamento do espetáculo. No entanto, nenhum dos momentos pode ser apontado como algo desastroso dentro do repertório, sobretudo pela fatia expressiva dos mais fanáticos que acompanharam, mesmo que timidamente, a voz grave do cantor nesses dois momentos ímpares do show. Na sequência, “Pessoal Particular” e “Carolina” – duas faixas extremamente características do samba-rock assinado por Seu Jorge – deram sobrevida ao espetáculo, que se desdobrou entre altos e baixos no quesito interatividade com a plateia.

Cantor apresentou um set list repleto de hits e algumas improváveis surpresas

Se o repertório montado para o recente show de Porto Alegre salientou pequenos equívocos, o cantor compensou esbanjando simpatia e boa vontade em proporcionar uma grande noite aos seus fãs sulistas. Seu Jorge, que vestia uma simples e bem-humorada camiseta branca com os dizeres “troco ½ copo de chopp por ¼ com você” entrou na famigerada brincadeira do “toca Raul!” e emendou – sozinho em cena, empunhando o violão – uma versão muito bonita para “Maluco Beleza”. Na sequência final do espetáculo, além de executar “Burguesinha” – aguardada e muito aplaudida por todo o Teatro do Bourbon Country –, o carioca retornou para um bis que não deixou dúvidas sobre o quanto animado pode ser um show seu. Da época de Farofa Carioca, “São Gonça” ganhou sorrisos do público, mas foi com “Sossego” (do eterno Tim Maia) que o cantor conquistou o carinho e o respeito definitivo da plateia inteira.

Na saída do palco, Seu Jorge deixou transparecer no rosto uma sincera gratidão durante o derradeiro “muito obrigado”, por mais um show de sucesso absoluto (em questão de números/público) na capital gaúcha. Se houve pequenos erros isolados no set list dessa renovada turnê ainda batizada de América Brasil , a animação contornou boa parte do espetáculo e é a mais marcante das contribuições que o cantor trouxe para a MPB com seu samba-rock envolvente e cheio de suingue.

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