O GIG Rock em três atos – II

 Texto: Daniel Sanes

Fotos: Fernando Halal e Júlia Schwarz

Sábado, 9 de julho  

As bandas que tocaram na terceira noite do GIG Rock tiveram sorte por se apresentar em um dia sagrado para os notívagos: o sábado. No entanto, o bom público que compareceu ao Beco não chegou cedo, e aí quem deu azar foram os primeiros a subir no palco – no caso, os Telecines.

Banda uruguaia Soundays, que gravou seu primeiro disco em Porto Alegre, agitou o público na noite de sábado (Crédito: Júlia Schwarz)

O grupo, apontado como um dos melhores da cena atual do rock gaúcho, mandou bem com seu rock cheio de riffs marcantes, a la Foo Fighters e Queens of the Stone Age, em um dos shows mais pesados do festival – pena que diante de uma plateia ínfima. Mesma situação enfrentada pelo Big Richards, cujo som, com uma levada mais pop, causou alguma estranheza ao público. Como pouca gente aparentava conhecer o grupo, o cover de “All my Life”, do Foo Fighters, foi o momento em que houve maior receptividade.

A atração internacional da noite – e, na verdade, a única de fora do Rio Grande do Sul no festival além do Television – veio logo a seguir, surpreendendo quem acreditava que eles encerrariam a noite. Embora tenham tocado no mesmo Beco há cerca de três meses e gravado seu primeiro álbum em Porto Alegre, os uruguaios do Soundays não são lá tão famosos por estas bandas. De qualquer forma, certamente ganharam novos fãs após o festival. A apresentação dos caras foi pegada do início ao fim, e o indie rock deles não deve nada a grupos como Arctic Monkeys e Libertines – o vocal, inclusive, lembra um pouco o de Alex Turner. Se músicas como “My Little Junk” ou “No Place to Hide” fossem feitas por uma banda norte-americana ou britânica, já estariam bombando no mundo inteiro. Mas, como se trata de um grupo de um país do terceiro mundo, as coisas não são tão simples assim…

Dating Robots fez um show pesado e dançante (Crédito: Júlia Schwarz)

Com o público empolgado e a casa já relativamente cheia, o Dating Robots não se intimidou e fez um show pesado e dançante ao mesmo tempo. O electrorock com influências de punk da banda fica mais interessante ao vivo, e músicas como “Movement Talk” já se tornaram clássicos entre os frequentadores do Beco. A vocalista e guitarrista Mariana Kircher, com seu visual e postura meio Joan Jett, é uma atração à parte, ora sussurrando, ora gritando enlouquecidamente. Resumindo o show em uma palavra: atitude.

O rock com acento britânico e forte influência de Oasis da Gulivers encerrou a noite. A banda não é exatamente nova, mas teve um significativo salto de popularidade após o lançamento, no ano passado, do disco Em Boas Mãos. “Previsível como Sempre”, “Quem Tem Razão” e “Ausente”, por exemplo, foram cantadas por muita gente. Uma apresentação bacana e um bom fim de noite – isso para que não foi até o andar de baixo, onde a festa continuou até o dia seguinte.

Domingo, 10 de julho

Assim como a quinta-feira, o domingo foi um dia de casa quase vazia. No show de abertura, de Diego Lopes e Bebop, ao ouvir alguém da plateia gritar “tá do caralho!”, o cara devolveu, ironicamente, com um “obrigado, pai”. Em tempo: Diego é baixista da Acústicos & Valvulados, mas em seu projeto solo canta e toca piano. O som é um pop rock bem feito e meio debochado, como mostra a faixa “Aline”.

Electro do Redhead Outdoors botou todo mundo pra dançar (Crédito: Fernando Halal)

O Redhead Outdoors está mais para eletrônico do que para rock, mas não ficou deslocado no festival, até porque seu som é recheado de guitarras. É verdade que a banda ficaria melhor acompanhada de atrações similares – o que nem de longe foi o caso –, mas as músicas, todas extremamente dançantes, são realmente boas. Os caras já tem certo reconhecimento em vários países, mas certamente mereciam ter maior visibilidade no Brasil.

Walverdes fez um dos shows mais pesados (Crédito: Fernando Halal)

Uma das bandas mais pesadas do Rio Grande do Sul veio logo em seguida e, como de costume, não deixou pedra sobre pedra. Com nada menos que 18 anos de estrada, a Walverdes é um exemplo de resistência na cena indie. Sem nunca estourar de fato – o que é compreensível, tendo em vista que seu trabalho não tem nada de comercial – ,  o trio mostrou que segue em grande forma. O show foi calcado em Breakdance, seu disco mais recente, mas clássicos como “Sapiência 2” e “Seja mais Certo” não poderiam deixar de figurar no repertório.

Quem não ficou surdo após o show da Walverdes dançou ao som da Identidade, banda que remete ao rock gaúcho das antigas, mas um pouco mais “suingada” – “Não Para de Dançar” e “Lucy Jones” mostram bem isso. Mas o melhor mesmo ficou para o final: “Jogo Sujo”, com seu riff direto e grudento, fechou em grande estilo a quarta noite do GIG Rock 2011.

Segunda-feira, 11 de julho

O "canalha" Plato Divorak e Os Exciters fizeram um apresentação divertida e cheia de psicodelia (Crédito: Júlia Schwarz)

A quinta noite do GIG Rock foi, definitivamente, dedicada aos clássicos. Se no domingo não havia muita gente, na segunda-feira as coisas melhoraram um pouco. O porém é que quando Plato Divorak & Os Exciters começaram a tocar o público ainda estava chegando. O lendário vocalista, que recentemente lançou o primeiro disco de sua nova banda, comandou um show vibrante e cheio de psicodelia, como era de se esperar. Músicas como “A Mulher Brasileira É a Mais Linda”, “Jacqueline dos Theatros”, “Úrsula” eram intercaladas por comentários hilários de Plato e seu famigerado bordão: “canalha!” Impossível não se divertir.

A única banda “intrusa” na noite dos veteranos era a Sandálias. Talvez pelo fato de o grupo ser pouco conhecido, seu show foi recebido mais friamente. Mas os caras não se preocuparam muito com isso, e sim em divulgar seu trabalho para o maior número de pessoas possível, tanto que emendaram uma música na outra quase sem intervalo.

Frank Jorge levou uma grande trupe de músicos para o palco em um show com homenagens a Beatles e Jovem Guarda (Crédito: Júlia Schwarz)

Ao subir no palco, Frank Jorge impressionou pela quantidade de músicos:  um trio de sopros, dois guitarristas, um baixista e um baterista – Alexandre Birck, seu eterno companheiro de Graforreia Xilarmônica. E foi um clássico da banda, “Nunca Diga”, que deu início ao show, seguida por várias músicas da carreira solo de Frank e alguns covers, como “Nowhere Man” (Beatles). A massa humana e instrumental no palco – acrescente-se ainda a participação da convidada Gabi Lima em duas músicas – deu um clima de bailinho da Jovem Guarda ao show. Aliás, Roberto Carlos é o que não faltou. Foram nada menos que três covers: “Os Seus Botões”, “Se Você Pensa” e “Quando”. E, para que não fique nenhuma dúvida: sim, ele cantou “Amigo Punk”.

Egisto dal Santo já tocou com praticamente todos os músicos do rock gaúcho dos anos 80. Embora por algum tempo tenha se dedicado mais à carreira de produtor, o cara está reconquistando, aos poucos, seu espaço em cima dos palcos. E ele mesmo brincou com a condição de outsider: “vou tocar agora a única música que fiz que já me deu algum dinheiro. Hoje fui ver a minha conta e tinham depositado 76 pilas”. A tal música era nada menos que “Nunca Mais Voltar”, parceria com Charles Master gravada pelo TNT. Um show de rock’n’roll clássico e com pegada bluesy, mas teria sido mais interessante (para o músico e para o festival) se tivesse ocorrido antes da apresentação de Frank Jorge – que, sejamos sinceros, é quem atraiu a maioria do público ao Beco na noite de segunda-feira.

No próximo post, as resenhas dos dois últimos dias de GIG Rock. E se você ainda não leu o review dos dois primeiros dias, acesse aqui.

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