M/E/C/A/Festival: maior, melhor e mais organizado

Fotos: Fernando Halal

Um festival começa a se consolidar no momento em que consegue atrair público apenas por seu nome. É cedo para dizer isso, mas, aparentemente, o M/E/C/A/Festival tem tudo para atingir esse padrão. Afinal, em uma amostragem relativamente pequena (duas edições), pode-se dizer que boa parte do pessoal que esteve no evento em 2011 também compareceu na edição realizada no sábado passado, dia 28 de janeiro.

Ainda durante o dia, Penguin Prison colocou todo mundo pra dançar

E olha que, mesmo mantendo a essência, o M/E/C/A/ mudou muito – em geral, pra melhor. A começar pelo local dos shows: o Hotel Fazenda Pontal, localizado a alguns quilômetros de Xangri-Lá, no litoral gaúcho. Sem querer fazer jabá, mas o lugar é belíssimo, bem estruturado e realmente espaçoso. Na hora que o sol se pôs, então, ficou com um visual espetacular.

A organização do festival se deu ao cuidado de deixar o pessoal bem à vontade, com muitas cadeiras no entorno, mais banheiros químicos, cerveja gelada e em quantidade suficiente (no ano anterior, acabou antes da hora) e preços razoáveis para esse tipo de evento. Já na parte de alimentação, várias pessoas reclamaram da pouca variedade de lanches – para falar a verdade, havia apenas um só. Mas ok, talvez esse tenha sido o único ponto fraco na infraestrutura do festival.

Entre estandes de drinks e hairstyle, chamava a atenção uma pequena igreja com um cartaz na frente com os dizeres, em letras garrafais: CASE-AQUI. E parece que teve gente casando mesmo. Agora, é torcer que essas pessoas estivessem em seu perfeito juízo no momento do enlace, pois, como se sabe, o divórcio sai mais caro…

The Rapture: músicas da banda nova-iorquna ficam ainda melhores ao vivo

Falando em juízo, uma das coisas que muitos reclamaram foi a censura a menores de 18 anos. Mas para os organizadores essa mudança deve ter sido um alívio, pois ninguém quer ser responsabilizado por um menor em coma alcoólico.

Em matéria de música, que é o que mais importa, a organização escalou um cast com perfil um pouco diferente do de 2011. Em vez de nomes em voga no momento, como foi o caso de Vampire Weekend e Two Door Cinema Club na primeira edição, as atrações principais não foram tão hypadas assim desta vez. Os americanos do The Rapture e a brasileira-da-gringa Cansei de Ser Sexy já são quase veteranos no cenário indie. Entre os headliners, o mais “novinho” era Mayer Hawthorne, quase um peixe fora d’água por fazer um som meio distante do que curte a galera indie.

A responsabilidade de abrir os trabalhos ficou a cargo da gaúcha Wannabe Jalva, quase um membro fixo do M/E/C/A/ – foi a banda de abertura da primeira edição e também do “aquece” com o Cut Copy, realizado em outubro. Quem já viu os caras ao vivo nota que a performance deles está mais afiada, certamente consequência de um ano de muitos shows, que incluiu até a abertura para o Pearl Jam, diante de 30 mil pessoas.  E mais divertida – cortesia do coelhão de pelúcia que dança enlouquecidamente sobre o palco.

Mesmo deslocado, Mayer Hawthorne mandou bem

O Penguin Prison, com seu som eletrônico mais acessível (A.K.A. som de FM dos anos 80, sem ofensas para quem achar que isso é ofensivo), veio a seguir, colocando todo mundo para dançar sob os últimos raios de sol. Pouco conhecido por aqui – mas com alguns hits entre os indies, como “Don’t Fuck with my Money” -, o grupo nova-iorquino fez uma apresentação impecável tecnicamente, a ponto de parecer playback para quem não estava circulando pelas outras áreas do hotel fazenda. Quem viu, no entanto, sabia que não era playback, e sim uma banda muito competente ao vivo.

Um headliner tocando no meio do festival? Pois foi isso o que aconteceu com o Rapture, sabe-se lá por quê. Independentemente do motivo, os gringos não decepcionaram e até surpreenderam aqueles que não curtem muito o seu som cheio de referências, do punk ao eletrônico. Com a excelente “In the Grace of Your Love”, que dá nome ao mais recente disco da banda, Luke Jenner e cia. mostraram que ao vivo a música do Rapture fica ainda mais legal do que nos discos. Os hits “House of the Jealous Lovers” e “Whoo! Alright-Yeah…Uh Huh”, inevitavelmente, foram os momentos em que o povo mais agitou, mas não faltou espaço para músicas novas, como “Never Die Again”, “Miss You” e “How Deep Is Your Love” (nada a ver com Bee Gees). Um grande show, mas teria sido ainda melhor mais para o final da noite.

Descrever Mayer Hawthorne é difícil. Um americano branquelo, de óculos modernosos, terno claro e… calça capri??? Um sujeito esquisito, que faz dancinhas e gestos estranhos no palco, muitas vezes tendendo para o brega, mas que, quando abre a boca pra cantar, não decepciona. O homem tem uma baita voz, digna dos grandes cantores de soul music dos anos 60/70, e veio ao M/E/CA/ acompanhado de uma grande banda. Infelizmente, o cara parecia meio deslocado no cast do festival. Diante de um público sedento por electrorock, electropop e congêneres, a black music dele até agradou a um bom grupo de fãs, mas entediou outros tantos que provavelmente nunca haviam ouvido falar do cantor. Uma pena, pois músicas como “A Long Time” e “Finally Falling” são muito boas.

A carismática Lovefoxxx comandou a apresentação do CSS no M/E/C/A/Festival

Em meio à saída do fundador, principal compositor e instrumentista Adriano Cintra, o futuro do CSS é incerto. No palco, porém o novo baixista recrutado pelas meninas faz o serviço a contento. O show é impecável, e, quando parece que vai ocorrer algum vacilo instrumental ou mesmo vocal, Lovefoxxx e seu carisma gigantesco tomam conta da situação. “Gente, alguém me empresta um cinto?”, grita ela, lá pelas tantas. Chovem cintos no palco, a vocalista pega um e segue dançando. No set, sons indefectíveis como “Alala”, “Hits me like a Rock”, “Let’s Make Love and Listen to Death from Above”, “Jager Yoga” e “Music is my Hot Hot Sex”. A autobiográfica “City Girrrl” fecha um show excepcional, que mostra que, mesmo com a saída de Adriano, no palco a banda se garante. Fica a expectativa quanto a novas músicas.

Colocar as atrações principais pra tocar mais cedo fez com que a pista esvaziasse consideravelmente para as apresentações do francês Breakbot e dos cariocas do The Twelves (também presentes no ano anterior). A ideia era boa: manter a festa até as 4h com duas atrações eletrônicas para fazer o publico dançar sem preocupação em olhar para o palco. Mas, festa por festa, houve sets excelentes nos intervalos dos shows, e muita gente não conseguiu aguentar o ritmo por tantas horas seguidas.

Cerca de cinco mil pessoas estiveram na segunda edição do M/E/C/A/Festival, o que condiz com a proposta do evento de proporcionar bons shows a um preço baixo para um público seleto. Seleto e fiel, já que muitos prometem voltar em 2013.

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