Cobertura Oscar 2012 | A descoberta da magia

O Nonada segue a sua cobertura do Oscar 2012 com o filme A Invenção de Hugo Cabret. Acompanhe-nos para ficar por dentro dos filmes que têm (ou não) chance de levar alguma estatueta para casa.

A Invenção de Hugo Cabret tem 11 indicações ao Oscar (Crédito: Divulgação)

Scorsese fazendo filme infanto-juvenil? Onde estão os gângsteres, as traições? Os problemas modernos de uma sociedade contemporânea quebrada? Na verdade, temos a tendência a esquecer que o cineasta também já se aprofundou em outros temas além dos que estamos habituados, tais como New York, New York, de 1977 e A Época da Inocência, de 1993. Além do mais, ele é um dos criadores e diretores do prestigiado The Film Foundation, instituto a fim de preservar os filmes antigos, principalmente os mudos do começo do século passado. Há também o fato de Scorsese ter um grande interesse em documentários, principalmente no campo musical.

Dito isto, começamos a entender que Hugo Cabret é de fato todas essas últimas facetas juntas, o que só demonstra a versatilidade do diretor. Uma vez que o filme é uma mistura de história do cinema, com aventura fidedigna e recuperação de imagens clássicas da sétima arte. E de quebra uma homenagem ao francês Méliès, o primeiro a que se vale a alcunha de cineasta na história. O problema em escrever uma resenha sobre Hugo Cabret reside no fato de que é um filme apaixonante, principalmente para nós que gostamos de cinema. Logo, é preciso se afastar um pouco e observar com mais frieza, porque, apesar de ser um excelente filme, há alguns tropeços no roteiro. Mas, como toda história que se preze, vamos começar pelo começo, o enredo.

Ben Kingsley interpreta Méliès (Crédito: Divulgação)

O garoto que dá título a obra (papel de Asa Butterfield) perde o pai em um incêndio e é criado pelo tio alcoólatra, que trabalha na manutenção de relógios de uma grande estação em Paris. O pai (interpretado por Jude Law) lhe deixou um autômato quebrado que é capaz de escrever. O grande desafio de Hugo é consertar o robô e receber a tal mensagem. Sorte que Hugo herdou o talento do pai e é muito engenhoso para a mecânica. Vivendo praticamente sozinho, ele acaba roubando para se alimentar e também “pegando emprestadas” peças de um senhor (o sempre ótimo Ben Kingsley), dono de uma loja de peças e brinquedos. É importante frisar que essa estação em que se passa boa parte do filme é um microcosmo, uma mini Paris no pós-Primeira Guerra Mundial.  Só passear com os olhos e notar os tipos, e as situações já são gratificantes. Ainda mais com um belo 3D, que vem complementar o filme e que é tão significativo, porque ajuda a prestar uma homenagem para o cinema antigo e, ao mesmo tempo em que faz isso, também vislumbra um bom caminho para o futuro dessa técnica.

O problema maior de A Invenção de Hugo Cabret talvez esteja na demora em começar a aventura de fato. Somos apresentados a todos os personagens, arquétipos, o que é necessário – mas algumas ligações são lerdas, principalmente referente ao protagonista. Talvez porque ele não tenha força o suficiente na história, isto é, Hugo, na verdade, é um grande observador dos acontecimentos. Nesse sentido, Isabelle (Chloe Moretz) seja mais atraente, pelo seu natural espírito curioso e aventureiro. Voltando à história, tudo acaba se resolvendo quando descobrem que o tio de Isabelle é na verdade Méliès, o primeiro a começar a delinear o cinema, através da magia e dos sonhos (ele era um famoso mágico). Amargurado por ter sido esquecido nos dias atuais, ele reluta a olhar para o passado, mas as coisas mudam perto do fim do filme quando entra em cena um estudioso e pesquisador do cinema fã de sua obra.

É por aí que o filme também deixa um pouco a desejar, apesar de ser uma bela homenagem, acabamos caindo em uma espécie de didática, que nunca soa muito bem em um filme. É no mínimo estranho, mas ao mesmo tempo também é muito bonito visualmente, o modo como Scorsese faz isso. São aquelas cenas que invadem o cenário de produção dos filmes de Méliès, utilizando o 3D reapresentando cenas de alguns dos 500 filmes que Méliès produziu.

Apesar dessas rápidas reviravoltas mais para o fim da trama, A Invenção de Hugo Cabret é muito divertido e emocionante, principalmente para os cinéfilos e admiradores do cinema.

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.

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