Caetano Juvena e os Homens de Aço

 Caetano Veloso não envelhece. Caê é um juvenil, atleta de categoria de base, Peter Pan da Música Brasileira. Acompanhado da exCÊlente banda Cê, ele trouxe sua nova Terra do Nunca, a turnê Abraçaço, para o Teatro Araújo Vianna na última quinta-feira.

“Posso dizer que sempre fui adolescente. Quinze anos é a minha idade. Talvez 14. O resto são marcos exteriores que não me dizem respeito, como esse número 70 que a gravadora e meu escritório de produção colaram em meu nome no site que rola na internet”, escreveu o próprio, em coluna para o jornal carioca O Globo.

Aplaudido de pé quando entrou no palco, atrasado em 11 minutos, a juventude do baiano fica evidente logo na primeira música do show, “A Bossa Nova É Foda”, com uma empolgação adolescente quase heavy metal, mas também com a profundidade esperada de alguém com tamanha estatura e obra.

Com “Lindeza”, Caetano contemplou o álbum “Circuladô”, de 1991, e voltou a dar um “Abraçaço” na plateia que lotou o auditório com “Quando o Galo Cantou”, a faixa-título do álbum e “Parabéns”. “Homem”, do disco “Cê” (2006), e “Um Comunista”, contemplativa homenagem a Marighella, com uma bela iluminação vermelha que destacou um dos quadros que formavam o cenário, foram as seguintes e evidenciaram toda a qualidade dos músicos.

Caetano trouxe a turnê de "Abraçaço" ao Araújo Vianna (FOTO: RICARDO ARA)

 Falar bem dos Super-Homens da banda Cê, para quem viu o show, é desnecessário: Marcelo Callado é um baterista sensacional, Pedro Sá é excelente guitarrista e Ricardo Dias Gomes não deve nada a Geddy Lee, apenas para ficar em outro baixista que também toca teclados. Desde 2006 acompanhando Caetano, ao longo dos álbuns “Cê”, “Zii e Zie” (2009) e “Abraçaço”, os três trouxeram um frescor à sonoridade do compositor, afastando uma possível mesmice e refletindo a sempre inquieta personalidade do baiano.

“Triste Bahia” colocou na roda o clássico “Transa” e foi aplaudida já no verso inicial que dá nome à música. “Estou Triste”, “Odeio” – que se tornou um pequeno clássico do álbum Cê –, “Escapulário” e a coroação com “Funk Melódico” fecharam de forma magistral a primeira metade da apresentação, pontuada por algumas insistentes –e chatas– fãs que corriam à frente do palco para fazer uma foto do cantor e acabavam barradas pelos seguranças.

 A fixação por Caetano Veloso é tamanha que, lá atrás, uma senhora levou um binóculo para acompanhar a apresentação, farta de qualidade: “Alguém Cantando”, “Quero Ser Justo” e “Eclipse Oculto”, de execução sublime, precederam “Mãe”, em homenagem à longeva Dona Canô, que faleceu recentemente.

“De Noite na Cama”, “O Império da Lei”, “Reconvexo” e a brilhante “Você Não Entende Nada” encerraram a apresentação, que contou com aglomeração na frente do palco no bis.

O músico tocou o último álbum, "Abraçaço", quase na íntegra (FOTO: RICARDO ARA)

Iniciando com “Vinco”, Caetano provocou gritos na breve citação gaúcha da canção, quando canta “China, gaúcha pampeira, prenda minha”, e seguiu iluminado pel'”A Luz de Tieta”, mandando todos para casa – ou ao show de Moraes Moreira, que acontecia simultaneamente – ao som de “Outro”, totalizando 1h30min de show.

 Uma perfomance irretocável, com a execução quase na íntegra de “Abraçaço” – só faltou a faixa de encerramento, “Gayana” –,deixou uma certeza: quem disse que foi ruim está mentindo.

Repertório:

A Bossa Nova É Foda
Lindeza
Quando o Galo Cantou
Um Abraçaço
Parabéns
Homem
Um Comunista
Triste Bahia
Estou Triste
Odeio
Escapulário
Funk Melódico
Alguém Cantando
Quero Ser Justo
Eclipse Oculto
Mãe
De Noite na Cama
O Império da Lei
Reconvexo
Você Não Entende Nada
 
BIS
Vinco
A Luz de Tieta
Outro
 

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