Os ângulos sonoros da Chimi Churris

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(Crédito: Genova Wisniewski)

Por Henrique Coradini

Depois do desvario weird-folk/funk/praêro de seu primeiro disco Épiscoférias, a Chimi Churris apresenta em Entropia uma nova sonoridade guiada por guitarras elétricas em constante diálogo, bateria sincopada e incursões eletrônicas incidentais. Nas três músicas que compõem o disco – Bob Em Los Andes, Durga Negra e Hash -, a banda volta a abordar ângulos (como em fotografias mesmo) de seu universo particular de êxtase, ruído e sabor.

Há, na sonoridade desse EP, uma qualidade quase infantil que não tenta evitar os desarranjos, mas busca fazer com que deles brotem novas possíveis texturas, muitas delas deixadas a cargo do próprio ouvinte, meio que uma brincadeira mesmo, tipo um quebra-cabeças feito pra ser desmontado. As melodias vocais são entoadas despreocupadamente e o non-sense é cantado meio reza, meio ciranda.

Entropia é um registro festivo quando a festa é um dos criminosos mais perseguidos da cidade. Desobediência traduzida em brincadeira.

Conversamos com o guitarrista Ricardo Giacomoni acerca deste EP novo e outras coisas mais.

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Entropia é o EP que antecede o novo álbum da banda, previsto para 2015 (crédito: divulgação)

Nonada – Antes de qualquer coisa, por que raios Entropia? Vocês parecem ter trabalhado um tanto em volta desse título meio ideia. Qual a relação dele com as canções do EP?

Ricardo – Entropia… Então, acho que tem várias leituras a serem feitas, das químicas até as cósmicas; o significado UNO do que é ou representa não existe para todos da mesma forma, é a desordem das partículas. Mas acho que o termo remete a um lance interior que está para ser catapultado, expurgado em ânsia, e teria uma relação com o álbum que vamos lançar mais adiante, nos quais as músicas que compõem o Entropia vão estar.

Nonada – Com “Entropia”, a música de vocês dá uma guinada ao guitar-rock com elementos de psicodelia. Como essa nova sonoridade foi assimilada após o primeiro registro?

Ricardo – Psicodelia sempre vem, mas antes de nos pilharmos nas guitarras, as micro&marcofonias dos captadores de contato dos violões do Épiscoférias faziam qualquer psicodelia virar bad trip, haha. Acho que o enjambre continua, mas ele ainda resiste.  Ainda é o modo no qual fazemos todo processo, mas acho que agora que podemos nos ouvir ao vivo, graças às guitas e sintetizadores digitais. Vai rolando mudanças de sonoridades com os outros elementos e a possibilidade de inserção de outros, como na percussão e batucáveis.

Nonada – Como foi o processo de gravação do disco? Parece haver um misto de gravação em estúdio com elementos do lo-fi (ou seja, caseirão).

Ricardo – Bem isso, entre estúdio e casa é a ponte. Começamos as “gravineas” no estúdio do Mario Nelson na Zona Sul, para evitar de rolar muitas interferências e talz.  Os mais barulhento optamos por gravar no estúdio e, ouvindo as mixagens das músicas, fomos inserindo algumas vozes e barulháveis na casa do Mário, o Arruda.

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Em Entropia, as melodias vocais são entoadas despreocupadamente (Crédito: Genova Wisniewski)

Nonada – Um elemento que fica do primeiro disco é a espontaneidade, as músicas ficaram com um ar tri “ao vivão” e pequenas imperfeições (ou “ruídos”) não foram tosadas. Essa imperfeição parece ter papel fundamental na Chimi Churris. Como ela se manifesta nessas canções de Entropia?

Ricardo – O Épiscoférias foi todo gravado em casa, com campainhas que tocam na chegada de alguém que está no portão, que ao chegar na nossa escura sala de gravações já se pilha de gravar algo e por ay ya indo. Atualmente o caseirão continua porque continuamos gravando na casa de bróders e o enjambre, o ruído inesperado sempre tá ali, meio escondido, não aparente, mas quando coloca o fonezão, PUM, ele surge escondido.  Acho que essas músicas estão com mais produção, mas o noise tá ali.

Nonada – A banda sempre operou em pequenos bares ou em festas ao ar livre. Como sobreviver e divulgar um EP recém lançado quando festividades vêm sendo cada vez mais coibidas na cidade?

Ricardo – Tá foda. Inclusive antes dessa entrevista íamos fazer o lançamento no Papillon e algumas horas antes da festa ficamos sabendo que o bar tinha sido interditado. Mas essa é uma realidade da cidade que só permite diversão aos “fortunas”. Os bares que fecham em sua maioria são os pequenos bares, os que acolhem a cena independente artística, dae a rua se abre como um espaço de todos, e acho que esse lance de festas na rua já está acontecendo há um tempo; a cidade tá cheia de coletivos que estão nessas pilhas de ocupar os espaços públicos e abrazar os corpos em sua expressão. Mas a cena de música independente sempre é assim, é preciso fazer os corres para poder tocar, fortalecer a cena das bandas e fazer uma resistência à cultura hegemônica dos bares cleans.

Nonada – A Chimi Churris parece operar sempre num formato multimídia. A música nunca vem por si só, está sempre aliada a registros audiovisuais e ilustrações. Isso é uma preocupação oficial da banda ou surge como uma extensão natural ao som?

Ricardo – Acho que isso se dá pelas pilhas de cada um da banda; é mais uma forma de expressão, uma polifonia de ímpetos expressivos que confluem na produção dos materiais gráficos e dos registros audiovisuais, mas não tem muito roteiro ou demanda, vai se fazendo na complementariedade, é sempre um E para além de um OU. E é difícil pensar em algo que se faça sem imagens, a potência de transmissão imagética possibilita a duvida, o cristal que distorce a certeza, e daí surgem os múltiplos sentidos.

Nonada – Cada música do disco vem com uma ilustração em especial. Essa pareceu ser uma preocupação da banda, que o EP que também fosse meio zine. Como vocês trabalharam isso?

Ricardo – A parada é gráfica, haha, sempre tivemos essa pilhas da produção gráfica, antes mesmo das Chimi Churris; a ilustras de dentro do Entropia são do ilustre PHlange[baterista da banda], que empunha uma nanquim como suas baquetas: lindamente. Quando pensamos em lançar qualquer algo que seja pilhamos de pensar no formato que vai ter, como vai ser a experiência da pessoa com aquele material, pois o CD tem as músicas que estão na internet também, então é massa “extesiar” de outras formas, e sempre no enjambre do orça. E a ideia é chamar outros artistas no sentido de se produzir outras formas de leitura que não corram sempre dentro da própria banda, como a tipografia do [Diego] Gerlach [quadrinista de São Leopoldo].

Nonada – E, ok, depois dessas três músicas, quando vamos poder ouvir mais dessa fase guitarreada da Chimi Churris?

Ricardo – Já tá sendo, estamos com a pilha de lançar o álbum no primeiro semestre de 2015, e agora, passada a finalização do Entropia, já estamos gravando as outras músicas que vão compor o álbum, acho que vai dá bom.

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