O Grande Hotel Budapeste e o elo entre diferentes gerações

O Grande Hotel Budapeste é um dos melhores filmes de 2014
O Grande Hotel Budapeste é um dos melhores filmes de 2014

Por Raphael Carrozzo

Para quem conhece um pouco da produção de Wes Anderson e tenha assistido pelo menos dois dos seus filmes, não precisa de muito tempo para perceber que está vendo uma de suas obras. E não poderia ser diferente com O Grande Hotel Budapeste, que provavelmente vai alegrar seus mais devotos admiradores.

Escrito pelo próprio Anderson – baseado nas obras de Stefan Zweig – a história começa com um autor, já idoso (Tom Wilkinson), relembrando como surgiu a ideia para uma de suas obras. Quando mais jovem, agora interpretado por Jude Law, hospeda-se no hotel título e conhece Zero Moustafa (F. Murray Abraham), que, mesmo dono do local, insiste em dormir em um quarto minúsculo, o que já indica uma ligação profunda com o lugar.  A partir daí, acompanhamos a narração do sujeito sobre sua história. Décadas antes, Zero, agora interpretado por estreante Tony Revolori, começa a trabalhar no hotel e passa a ser educado pelo concierge do estabelecimento, monsieur Gustave (Ralph Fieenes), que leva suas funções com extrema seriedade, satisfazendo as clientes idosas que se hospedavam ali e cobrando dos seus funcionários o máximo de atenção possível aos detalhes que seriam de sua responsabilidade. Após a morte de uma de suas amantes, a Madame D. (Tilda Swinton), Gustave herda um famoso quadro, o que desagrada o herdeiro da ricaça (Adrien Brody). Perseguido por um assassino profissional (Willem Dafoe) e acusado de um crime que não cometeu, o concierge conta com a ajuda do aprendiz para provar sua inocência e retornar ao hotel que serve de lar para ambos.

Além de todas as suas evidentes manias e características, que vão dos planos centralizados e simétricos, aos travellings, cores saturadas e quadros revelando objetos perfeitamente organizados sobre uma mesa, Anderson também chama seus companheiros habituais para participar do longa-metragem, Bill Murray (que atuou em todos os seus filmes), Owen Wilson (que ajudou o diretor a escrever alguns de seus filmes), Willem Dafoe, Adrien Brody, Jason Schwartzman. Uma decisão que acaba trazendo familiaridade ao seus longas metragens, denotando fidelidade dos atores com suas obras e vice-versa. Porém, quem acaba se sobressaindo são os estreantes na cinematografia de Anderson, Fiennes e Revolori, que conseguiram criar uma química fantástica pra história.

Os elementos usados por Anderson criam um ambiente teatral, se levar em conta as atuações, o design de produção, a divisão da história em capítulos e as cores chapadas; mas também criam um espaço cinematográfico, ao utilizar as panorâmicas e travellings para inserir novos elementos a história e as gags sonoras, entre outros. Esse formato ajuda na narrativa ao montar um mundo fabulesco, se propondo a fazer um flerte com a literatura, e dar mais realismo para obra.

E se em suas histórias, sempre podemos absorver uma lição ingênua e delicada, em O Grande Hotel Budapeste não poderia ser diferente. Ao contar uma história que atravessa gerações, Anderson mostra o vínculo que nós criamos com os objetos que nos remetem a uma boa lembrança. Itens que podem não ter um significado emocional forte para uns, que são vistos meramente como utilitários para o que se criou, como,  por exemplo, uma obra de arte ou um hotel; conseguem ser sutilmente ressignificados, trazendo um apego emocional importante. Junto com O Fantástico Sr. Raposo, Os Excêntricos Tenenbaums, Moonrise Kingdom e Três é demais, O Grande Hotel Budapeste se torna uma de suas melhores filmes e um dos melhores longas de 2014.

 

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