Em Morreste-me, José Luis Peixoto homenageia legado e memória do pai

Depois de 15 anos, livro finalmente chega ao Brasil pelas mãos da editora Dublinense
Depois de 15 anos, livro finalmente chega ao Brasil pelas mãos da editora Dublinense  (Crédito Dublinense/Divulgação)

Após quase 15 anos longe do público brasileiro, o primeiro livro do escritor português José Luís Peixoto finalmente chega ao mercado editorial brasileiro. Morreste-me  tem agora lançamento pelo Editora Dublinense (64 páginas com preço sugerido de R$ 29,90), num trabalho gráfico belo e acolhedor da editora gaúcha. Afinal, receber essa obra comovente em nosso meio já era uma tarefa que caía de maduro. A singularidade desse texto está no fato de que foi escrito em memória e homenagem ao pai falecido do escritor, então um jovem autor estreante de 23 anos. O livro percorreu o mundo na condição de um relato tocante da relação entre pai/filho, e chega finalmente agora ao Brasil.

A sensibilidade da literatura de língua portuguesa encontra no texto de Morreste-me um daqueles momentos únicos. Isso porque esta é uma obra tocante e comovente, na medida em que o texto fixa-se como um relato em memória ao pai, ao pai morto, ao pai que tanto gerou amor e saudades para o filho e para a família, e tudo isso faz com que o relato do luto do filho, do filho que  ama o pai, seja ao mesmo tempo uma homenagem, seja memória, e seja literatura da mais alta qualidade literária. A leitura de Morreste-me é, assim, tranquila na medida em que mesmo pontuada pela dor da memória da perda, o relato realça a sutileza das pequenas coisas que fizeram aquele amor, aquela saudade, aquela relação pai/filho. A visita do filho à casa paterna é um dos momentos mais tocantes do livro, momento em que ele revê nas coisas deixadas pelo pai o vínculo afetivo de uma vivência intensa, única, filial. Há ainda ritmo e música nesse relato, nessa escrita, nesse depoimento vivo de alguém que não teve medo de mostrar o seu verdadeiro amor pelo pai. A literatura de José Luís Peixoto é, assim, arte de enorme grandeza que coloca este pequeno livro no cume onde estão os melhores textos portugueses da atualidade.

José Luís Peixoto nasceu em Galveias, em 1974. É um dos autores de maior destaque da literatura portuguesa contemporânea. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias, traduzidas num vasto número de idiomas, e é estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras. Em 2001, acompanhando um imenso reconhecimento da crítica e do público, ganhou o Prêmio Literário José Saramago pelo romance Nenhum olhar. Em 2007, Cemitério de pianos recebeu o Prêmio Cálamo Otra Mirada, destinado ao melhor romance estrangeiro publicado na Espanha. Entre os livros que escreveu estão, entre outros: Uma casa na escuridão (2002) e o elogiadíssimo Livro (2010). A presença da escrita contundente e sensível que envolve a preparação de seu primeiro livro – Morreste-me – já nos prepara para entender o ritmo da sensibilidade da sua escrita que veríamos nas obras seguintes. Se nesse pequeno texto/relato/memória já temos um autor estreante e ao mesmo tempo maduro, o fato é que José Luís Peixoto enquadra-se de forma tranquila no contexto da nova geração de escritores que surgiu no vácuo dos consagrados e idolatrados Augustina Bessa-Luís, José Saramago, António Lobo Antunes e José Cardorso Pires.

O livro trata das morte das recordações do pai do autor, José Luis Peixoto (Crédito Dublinense/Divulgação)
O livro trata das morte das recordações do pai do autor, José Luis Peixoto (Crédito Dublinense/Divulgação)

 

Em Morreste-me, o lirismo do que é narrado, o uso culto das palavras e as construções intrigantes e sinceras estão presentes nessa pequena narrativa que forma um verdadeiro testamento ao ser amado. Ao pequeninho e emocionante Morreste-me, seguiu-se a publicação de Algum olhar, obra que consagraria, naquela época, essa promessa das letras portuguesas. O premiado livro colocaria José Luís Peixoto ao lado de nomes como Inês Pedrosa, Gonçalo M. Tavares, Miguel Souza Tavares e João Tordo, referência das letras lusitanas da atualidade. E tudo começou com o enorme sucesso do livro Morreste-me e fez despertar a atenção da crítica literária para o escritor português José Luís Peixoto. O livro percorreu o mundo junto com seu autor, tendo sido lido em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, na Festa Literária de Paraty.

Morreste-me tornou-se assim um livro cult dentro da extensão e premiada produção literária do autor. Além de inserir escritor José Luís Peixoto no patamar dos grandes escritores portugueses da atualidade, este livro é um achado para todos aqueles que cultuam a memória de seus pais. Um relato sincero, intenso e avassalador. E por que não dizer, único.

Boa leitura.

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