James Estrin e o fotojornalismo: novas estratégias para contar boas histórias

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A palestra do fotojornalista James Estrin, editor do blog Lens do New York Times, foi uma das mais disputadas do FestFotoPoA (Crédito da foto: Vinícius Roratto)

Contar boas histórias da forma mais humana e menos óbvia possível. Para o norte-americano James Estrin, editor do blog Lens do New York Times, esse é um ponto fundamental do fotojornalismo contemporâneo. Como foi possível perceber em sua palestra no 8° Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, essa questão permeia toda a sua trajetória no jornal novaiorquino, seja como fotógrafo, seja como pescador de bons trabalhos fotográficos de todo o mundo.

Estrin, que trabalha desde os seus 23 anos no NYT (hoje ele tem 58 anos), esteve ao longo dos últimos dias em Porto Alegre realizando leituras de portfólio no festival. No sábado (16), falou para o público que lotou o auditório do Margs sobre sua carreira, sobre o seu trabalho em um dos mais importantes sites de fotografia do globo e sobre as perspectivas para os fotógrafos num contexto de popularização da foto relacionado às mídias sociais.

Desde o início, quando apresentou suas produções sobre o tema da espiritualidade que não enfatizam apenas o ritual – o mais obviamente atraente para a fotografia -, mas principalmente as emoções relacionadas às práticas, ele demonstrou o que considera o diferencial em um mundo com tantas imagens: o que foge do clichê. É preciso “não contar as mesmas histórias da mesma maneira o tempo todo”, comentou.

Para tanto, mencionou que o caminho a se tomar é o oposto do que geralmente se toma na mídia norte-americana e europeia quando o foco recai sobre realidades culturalmente distantes ou diferentes. “Jornalistas caem de para-quedas em lugares como a África e acabam contanto histórias incompletas, sem mostrar os seres humanos em sua formação integral”, sublinhou. O uso de pessoas como símbolos de questões sociais é recorrente e acaba afastanto a possibilidade do olhar para o outro como um ser inteiro, muito semelhante ao próprio fotógrafo, apenas com diferenças culturais.

Estratégias para falar dessas mesmas questões sociais sem cair no óbvio são várias. Estrin destacou dois exemplos de fotógrafas que lhe chamaram a atenção e que tiveram seus trabalhos publicados no blog Lens.

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James Estrin trabalha há 35 anos no New York Times  (Crédito da foto: Vinícius Roratto)

Uma delas é Shannon Jensen, que produziu imagens dos sapatos de refugiados do Sudão, legendando as fotos com informações sobre os donos dos sapatos, incluindo as distâncias percorridas por eles. Uma nova forma de falar sobre a crise de refugiados de guerra no continente africano, sem recorrer à maneira mais tradicional de mostrar conflitos. A outra é Tanya Habjouqa, que enfocou os momentos de prazer de pessoas que moram na Faixa de Gaza. “Isso me parece mais poderoso do que mostrar pessoas jogando pedras”, afirmou, explicando que o prazer pode ser um ponto de aproximação original entre seres humanos de realidades distintas. Outra forma de criar pontes via imagens.

Em relação às transformações tecnológicas, o fotógrafo é um otimista. Ele considera melhor ser fotógrafo hoje do que há algumas décadas, quando só era possível apresentar um trabalho para um público amplo a partir do aval de editores. Hoje o fotógrafo não precisa da aprovação de outras pessoas para mostrar o que deseja mostrar.

Receptivo aos trabalhos dos fotógrafos de fora dos Estados Unidos, Estrin é um entusiasta do que é produzido em países como o Brasil. Ao final de sua fala, logo após ser iniciada a sessão se perguntas, a primeira questão, que arrancou risos da plateia, foi justamente qual era o seu e-mail. Ele recebe portfólios do mundo todo, e afirma avaliar todos, pois não sabe de onde virão as histórias mais necessárias. E, é claro, bem contadas.

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