Gadú mudou

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FOTOS Camila Medroa

Sim, ela mudou. Suas letras, seus arranjos e até seu cabelo. Agora Maria Gadú tem um trabalho mais dançante, uma performance mais agitada, um toque a mais de brasilidade. Mas o público continua comparecendo em peso, mesmo no frio cortante do inverno de Porto Alegre. Ela lançou, na última quinta-feira, seu mais novo disco Guelã (2015) no Opinião, casa de shows que estava mais intimista que o normal.

Indicada duas vezes ao Grammy Latino, Gadú foi um fenômeno quando surgiu em 2009 com o hit “Shimbalaiê”. Seu talento e personalidade lhe renderam reconhecimento de renomados artistas da MPB, como Lenine, Nando Reis e Caetano Veloso, com quem gravou o CD e DVD Maria Gadú e Caetano Veloso – Multishow ao Vivo (2011).

A plateia do show era formada, em sua maioria, por casais de todas as idades. Gadú foi bastante ovacionada do início até o fim do show. Ela tocou grande parte das músicas novas, como “Suspiro”, “Ela”, “Sakédu”, “Vaga”, “Aquária” e “Obloco”, esta última música de trabalho, que lembra muito músicas de pernambucanos como Siba e Lenine.

Uma das poucas músicas antigas que manteve no setlist foi “Bela Flor”, que fez parte da novela Cordel Encantado (2011). De melodia alegre, Gadú arrisca em contratempos vocais que poderiam ser evitados. Ficaram de fora alguns sucessos como “Dona Cila”, “Tudo Diferente”, “A história de Lily Braun” e a própria “Shimbalaiê”, gravados em seu primeiro CD, autointitulado (2009).

Algumas canções do novo álbum continuam minimalistas, mas uma, em especial, parece declamação de um poema: “Trovoa”, de autoria de Maurício Pereira (Os Mulheres Negras) e também regravada pelo grupo paulista Metá Metá apresenta uma letra extensa, intensa e encantadora.

O destaque do show – além do momento em que tocou Caetano – ficou por conta da versão de “Ne Me Quitte Pas”. Sua extensão vocal e interpretação surpreendem, assim como o arranjo, com fortes sons de caixa de bateria. Nessa hora, não dá para ter dúvidas sobre o seu talento como cantora e arranjadora.

Houve um momento em que ela conversou com a plateia. Falou no quanto estava emocionada com um público tão ávido e carinhoso. “Acho que esse foi nosso melhor show até agora”, disse. A plateia, claro, foi ao delírio.

O fim ficou por conta de “Sonhos Roubados”, um funk romântico que fez o pessoal dos bastidores irem para o palco e dançarem junto com a banda. Sim, ela mudou. Cresceu em talento, encontrou sua essência e provou que não é mais uma artista passageira. Uma jornalista gaúcha a perguntou por que ela havia mudado. Maria Gadú disse no palco o que gostaria de ter dito na hora: “E por que você continua a mesma?”

 

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Editora, nordestina, nômade e entusiasta de produções autorais. Gosta de escrever sobre música e qualquer coisa que seja cultura.
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