Mustache & os Apaches: à prova de rótulos

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Quinteto se apresentou em Porto Alegre, mostrando novas influências além do folk e bluegrass

 

Fotos: Fernando Halal

Para a crítica musical, “rotular” é o modo mais fácil de descrever a sonoridade de um artista. Nos apegamos a conceitos já conhecidos para transmitir ao público a sensação que temos quando ouvimos algo novo (ou nem tanto). Recorrendo a esse manjado artifício jornalístico, poderia dizer que Mustache & os Apaches é uma banda de folk rock, estilo que ganhou um novo gás nos últimos anos graças a nomes como Mumford and Sons. Mas isso seria um grande erro.

A banda gaúcha-mineira-paulista (quatro gaúchos, um mineiro e São Paulo como cidade-sede, na verdade) está muitos passos adiante. Não somente porque seu folk nada tem de derivativo –  algo que seria até compreensível quando se bebe de um gênero tão tradicional, assim como o bluegrass, outro estilo centenário abraçado pelo Mustache –, mas também porque o quinteto não teme experimentar. O público que foi ao bar Opinião no dia 11 de abril para mais uma edição do projeto Segunda Maluca parece ter percebido essa evolução natural do grupo, e, mesmo reduzido, se acotovelou na pista para dançar e assistir a uma apresentação de alto nível.

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Versáteis, músicos se revezam nos vocais (à frente, Axel Flag e sua viola)

Dizer que Axel Flag (voz, percussão, viola), Jack Rubens (voz, bandolim e guitarra), Lumineiro (voz, bateria e washboard), Pedro Pastoriz (voz, violão e banjo) e Tomas Oliveira (voz e contrabaixo) são bons músicos é chover no molhado. Bons músicos executam bem; os caras são compositores de primeira. De quebra, se revezam nos instrumentos e nas harmonias vocais, algo que causa um impacto visual quase tão interessante quanto o sonoro. Além disso, sabem explorar bem a bagagem acumulada nas apresentações de rua, o que se reflete na postura de palco e nos hilários diálogos entre os integrantes.

“Twang”, cujo clipe teve alta rotatividade na MTV e um dos destaques do primeiro disco, de 2013, mostra inegável força ao vivo, assim como “Come to Sing with Us” e “Nega Lilu”. Mas são as canções de Time Is Monkey (2015), um álbum com um quê de psicodelia e repleto de latinidade, que melhor representam o Mustache de hoje. “Mambo Jambo” e a impagável “Orangotangos”, que em estúdio têm participação de Gustavo da Lua, percussionista da Nação Zumbi, são bons exemplos da versatilidade de uma banda definitivamente à prova de rótulos. Bom, pelo menos até o próximo disco…

Infelizmente, só consegui chegar ao Opinião no final o show do Maestro Sujo e o Sanatório Gotham. Não posso, portanto, avaliar a apresentação, apenas lamentar que os caras tenham tocado para uma plateia diminuta, que pouco aumentou até o fim da noite.

Sei que é chato bater na mesma tecla sempre, mas é triste que eventos como esse tenham um público tão minguado. A desculpa de que é segunda-feira não cola mais, visto que os bares da Cidade Baixa que ficam abertos nesse dia geralmente estão lotados. Depois há quem reclame que faltam opções culturais em Porto Alegre.

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