Fantaspoa 2016: “A Garota que Sobreviveu” acerta ao subverter o conceito da “final girl”

A Garota que Sobreviveu cumpre o que promete
A Garota que Sobreviveu cumpre o que promete

“Ela sobreviveu a um massacre, mas perdeu sua vida”. A publicidade que estampa o cartaz de A Garota que Sobreviveu (Last Girl Standing) é tão sedutora quanto certeira. Emulando a figura da “final girl” tão frequente no subgênero slasher nos anos 70 e 80 (Sexta-Feira 13, Halloween), o longa traz uma proposta intrigante: o que acontece depois que a heroína está a salvo e sobem os créditos finais?

O filme começa onde termina quase todo slasher: no meio da floresta, Camryn (Akasha Villalobos) confronta um brutamontes mascarado que matou friamente todos os seus amigos. Ela grita, chora, tropeça, desvia de galhos e machadadas, até que, em um golpe de sorte, consegue eliminar o assassino.

Cinco anos depois, Camryn trabalha em uma empresa de lavagem a seco. A jovem sobrevivente tenta lidar com a tragédia, mas seu dia a dia se desenrola num misto de depressão e paranoia. Ela acredita estar sendo seguida e descobre, aqui e ali, pequenos símbolos feitos de palha idênticos aos que o serial killer utilizava em seus rituais pagãos. Estaria o monstro realmente de volta, ou é o estresse pós-traumático da heroína se manifestando através de alucinações?

Após uma noite de pavor na lavanderia, Camry é convidada pelo novo colega de trabalho (Brian Villalobos, marido de Akasha na vida real) a passar uns dias na casa que ele divide com amigos. Logo, a presença dela (e suas visões) passa a deixar todos desconfortáveis. Apenas uma moradora parece confiar nela, Danielle (Danielle Evon Polegar), que também guarda um trauma psicológico. Juntas, elas vão atrás de pistas que ajudem a desvendar a possível ameaça.

Eleito pela revista Fangoria como um dos 10 filmes de horror a serem vistos este ano, A Garota que Sobreviveu cumpre o que promete. Ele nada traz de revolucionário: em Pânico (1996), Wes Craven já havia prestado tributo ao slasher de maneira mais original, duas décadas atrás. Mas não há como negar que se trata de uma abordagem diferente da “final girl”, cuja personalidade rende muitas discussões, sobretudo sob a ótica feminista. De acordo com a escritora Carol J. Clover, autora do livro Homens, Mulheres e Motosserras: A Questão de Gênero no Filme de Terror Moderno (1992), a “final girl” é apresentada como vítima de um opressor masculino para no final, geralmente apoteótico, mostrar que a mulher também tem força para se defender do assassino.

Como de praxe em 95% das produções do gênero, o filme perde em ritmo e verossimilhança no seu terceiro ato, quando alguns personagens assumem superpoderes, voltam dos mortos, etc. Até lá, o filme mostra muitas qualidades: o elenco não faz feio, há sustos na medida, humor balanceado e personagens construídos com uma paciência incomum nesse tipo de produção. O visual do assassino, batizado de Caçador, é marcante com seu porte animalesco e a máscara de cervo, e as referências a Repulsa ao Sexo, de Polanski (o coelho esfolado), O Iluminado e outras sacadas farão a festa do fã mais xiita. É diversão garantida para um sábado à noite.

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