Ouvidoria: 20 perguntas para Madblush

MADBLUSH, entrevistado da série Ouvidoria desta semana, cantou pela primeira vez em 2007 no famoso Bar Ocidente. Antes disso já era conhecido na cidade por seu trabalho como DJ e performer. Em 2013 lançou seu primeiro EP “Intenso Cru” em São Paulo. Assumindo definitivamente seu lado compositor e produtor. A mistura de estilos, gêneros e a desconstrução dos padrões é percebida em sua música que mistura Pop, Música Eletrônica, Rap, Hip-Hop, Funk Carioca, Batuque e o que mais ele tiver vontade de unir à sua voz, letras, beats, teclados e samples. Os EP’s “Cactus Pt.1” e “Cactus II” (2017 e 2018) deram origem ao seu primeiro álbum completo “CACTUS”. Fez shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Montevideo, Punta Del Este, Porto Alegre e outras cidades.

Em 2019 participou de vários eventos como A noite dos Museus, Festival Viva Cultura, Casa Expandida(CCMQ), Porto Alegre em Cena e quando foi indicado como revelação no Prêmio Açorianos de Música. Seu NOVO POP que mistura, faz pensar e também dançar, o colocam como um dos poucos artistas gaúchos com um trabalho autoral mais conectado com o cenário atual. Acabou de lançar dois singles: “Enlouquecer” (março) e “Isolados” atual música de trabalho que foi escrita e produzida em isolamento social, fala sobre a pandemia que vivemos e tem videoclipe também produzido por MADBLUSH . O artista promete um novo álbum em breve.

Confira aqui todas as entrevistas da série.

1. Quando e como começou tua carreira?

Como cantor, exatamente em 2007, quando lancei minha primeira música “I Wanna Be Real” produzida pelo músico e produtor Ota Matroberti. Daí rolou o primeiro show no lendário bar Ocidente e não parei mais! Como compositor e produtor me assumi e me lancei em 2010 mais ou menos quando lancei a faixa “Blush Na Cara” que ganhou versão em inglês e videoclipe, que deu muita repercussão ao meu trabalho.

2. Principais trabalhos:

EP “Intenso Cru” (2013) – Lançado em SP em parceria com a marca de óculos Chilli Beans.

Single “Be A Puta” (2014) – ( O single virou um hino tipo funk-contestação. O videoclipe (Direção de Thiago Carvalho) ganhou na premiação do canal francês Gay Music chart, que premiava produções de todo o mundo. Ganhou como “Revelação”, “Melhor artista Queer” e “Melhor vídeo Brasileiro”

Single LoveLoveLove (2016) – Teve uma uma versão remix e foi trilha da campanha de verão da marca de sapatos e acessórios Luz Da Lua. A trilha foi veiculada nacionalmente em canais como Globo, GNT e Multishow.

Tive duas músicas (Blush In The Face e Scream de Ota Mastroberti) na trilha da série “O Ninho”(2016) (Direção de Márcio Reolon e Filipe Matzembacher) e também fiz uma participação atuando em um dos episódios.

EP “Cactus Pt.1” (2017)

EP “Cactus II” (2018)

Álbum CACTUS (primeiro álbum completo – 2018) – Eu fui indicado como Revelação Pop com este álbum no Prêmio Açorianos de Música.

Single “Isolados” (2020)

3. Como você descreveria sua essência enquanto artista?

Livre. Inquieto. Em evolução constante. Alegre mas contestador. Sem medo de experimentar!

4. O que mais irrita na cena cultural?

Nossa, pergunta difícil ahahah. Muitas coisas!! No Brasil é triste como não temos apoio, não temos orgulho e não lutamos mais pela cultura que vem piorando muito em função deste governo atual. Acho que está tudo meio adormecido e isso me deixa nervoso. A falta de memória do brasileiro é um fator péssimo. Não valorizamos grandes talentos. Valorizamos celebridades. Nada contra as celebridades, mas né!? Aqui em Porto Alegre, a falta de memória das pessoas ou o apego exagerado ao passado são coisas que eu percebo! Não tem meio termo. Então me parece que tudo está cada vez mais tedioso. Aquela atitude que a galera criativa da cidade tinha e se orgulhava tanto nos anos 80, 90 e boa parte dos 2000 começou a ser substituída por uma mesmice, uma arrogância local que não reverbera em nada pro resto do país e ao mesmo tempo o tal complexo de vira-lata que acha que tudo que vem de outros lugares é melhor. É muito louco porque é bem bipolar né!? Então para ser artista aqui, viver da cultura e ter um trabalho diferenciado, mesmo sendo Pop, você precisa rebolar, girar, se virar em mil, pra não sucumbir ou ficar fazendo a mesma coisa sempre. Ou também pode ir embora. No caso ainda estou me virando em mil ahahahah!

5. Quais qualidades são imprescindíveis a um artista?

Coragem de expor sua arte. Seja ela qual for. Persistência. Um pouco de ousadia. Não se acomodar. E amor, claro!

6. Qual o momento de maior dificuldade que já passou na carreira?

Minha carreira ainda está em evolução, sinto isso, acho tudo muito novo e preciso ainda ter muitas experiências. Eu sempre lidei com dificuldades em minha vida desde criança e aprendi que precisamos aprender e crescer com tudo que acontece. Então sempre aprendo e melhoro! Talvez o maior problema que tive em minha carreira foi o abuso de álcool que me atrapalhou em alguns momentos dando brechas para mal entendidos desnecessários entre os anos de 2014 e 2017.

7. E de maior felicidade?

Felicidade acontece quando estou no palco e transformo a realidade das pessoas. Quando recebo msgs de pessoas que refletiram sobre algo ou se conectaram ao meu pensamento quando escutam as minhas músicas. Quando reconhecem e valorizam meu talento. Foram vários, mas talvez quando cantei a primeira música totalmente produzida por mim, lancei o primeiro EP “Intenso Cru” e o primeiro álbum CACTUS foram momentos lindos demais!

8. Um artista não deve…

Não deve ter medo de superar seus medos. Não deve se acomodar. Não deve guardar sua arte. Mostre! Nem que seja pra 1 pessoa. Compartilhar é necessário.

9. Cinco coisas que mais te inspiram a criar (vale tudo):

1.Refletir sobre situações da minha vida.

2.Contestar e criticar coisas que acredito que precisam mudar. Muitas vezes com uma ironia divertida.

3.Fazer dançar.

4.Experimentar e fazer algo diferente.

5. As várias possibilidades na música.

10. Acredita em arte sem política?

No meu caso não.

11. Qual seria o melhor modelo de financiamento da arte?

Políticas públicas conscientes. Que valorizam a manutenção da cultura e da memória cultural do país, mas com olhos pras novidades e valorização de novos artistas. E um posicionamento privado também voltado para alavancar carreiras de artistas independentes com trabalhos consistentes e não só quem já é reconhecido ou só tem engajamento nas redes.

12. Existe cultura gaúcha?

Tradicionalista? Acho que sim né!? eheheheh – Mas no resto como já respondi na pergunta 04, acho um pouco perdida.

13. Que conselho você daria a Jair Bolsonaro?

Renuncia! Mas só eu querendo não vai mudar. Precisaria todo mundo pedir. Gritar! Exigir! Aí ele talvez aceitasse o conselho. Mas acho que não rola ainda. Qualquer outro conselho sensato ele não entenderia também.

14. Todo artista tem de ir onde o povo está?

Acho que é uma troca. O artista precisa mostrar sua arte. E o povo também precisa ter interesse em conhecer, absorver e também trocar com o artista. E tem muitas pessoas que não estão interessadas em arte devido à falta de empenho de muitos governantes em despertar esse interesse em seu povo.

15. Ser brasileiro é…

Ter coragem de continuar lutando mesmo contra uma parcela da população que não anda pensando muito bem e quer a volta do retrocesso. Ser brasileiro é ser alegre e feliz, mas ultimamente é ser ou estar anestesiado, cansado ou sem noção. Ser brasileiro é bom. Mas ultimamente é uma forma de errar constantemente, talvez pra aprender e evoluir né?! Ser brasileiro é isso, essa mistura que não está bem mixada ainda.

16. O que você mudaria no jornalismo cultural?

Acho que estamos em um caminho meio estagnado. Falta uma procura maior por artistas diferentes, formas de expor mais esses artistas e manifestações. Contato mais intenso com o trabalho destes artistas. Até por meio de crítica mesmo. Quando a crítica é boa pode ser bem utilizada. Eu acho.

17. Um livro:

Manifesto contrassexual – Paul B.Preciado

18. Um espetáculo:

São muitos, mas veio esse na cabeça agora . Gostei muito. “Whi The Horse?” com a Maria Alice Vergueiro que nos deixou há pouco.

19. Um álbum:

São tantos. Mesmo! Mas tenho que colocar aqui o meu CACTUS. É o meu primeiro álbum e acho que ele diz tanta coisa, eu digo tanta coisa! Se escutar ele na íntegra, na ordem, vc vive uma experiência politica, divertida, contestadora. Escutem!

20. Um filme:

Seraphine (2008) – Revi recentemente pela terceira vez e me causa muitos sentimentos! É a história da pintora primitiva Séraphine de Senlis Louis, que trabalhou como empregada na casa de burgueses em Senlis, France.

Amo cinema e não tem como não falar de clássicos de divas como Bette Davis e Joan Crawford que vira e mexe estou olhando com meu namorado. Colecionamos! ahahhaha

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