Caco Velho e o plágio de “Mãe Preta”, que virou sucesso na Europa

Por Thaís Seganfredo Fotos: Arquivo da família

Caco Velho estava no auge de sua carreira quando teve uma surpresa desagradável: chamado por sua filha, ele viu na TV sua própria música tocada por um britânico sem o seu consentimento. Era 1959.

Indignado, o sambista ligou para jornalistas. “Estou arrasado com mais esse furto musical, pois mais uma vez lá no estrangeiro alguém está ganhando dinheiro em cima de mim!”, desabafou ao jornal Radiolândia.

Isso porque as fadistas Maria da Conceição e Amália Rodrigues também tinham gravado "Mãe Preta". O problema era que elas não deram nenhum crédito a Caco Velho.

E pior: a letra original, sobre uma mulher escravizada que trabalhava na casa de uma “sinhá”, havia sido censurada pela ditadura de Salazar em Portugal.

Agora transformada em um fado sobre o amor entre dois portugueses separados pelo mar, "Mãe Preta” virou “Barco Negro” e teve um sucesso estrondoso em Portugal. 

Compare as duas versões: "Mãe Preta", interpretada pelo Conjunto Tocantins

Compare as duas versões: "Barco Negro",  na voz de Amália Rodrigues

Apesar do roubo e do apagamento racista que Caco Velho sofreu, a gravadora conseguiu acionar judicialmente os europeus e hoje “Barco Negro” é cantado no mundo todo, até por Ney Matogrosso.

Nos anos 1960, o próprio Caco fez sucesso fazendo shows em Paris. A convite de Amália, ele também foi a Portugal, onde cantaram juntos a música.

Até hoje, porém, a versão original de “Barco Negro” é pouco conhecida na Europa e mesmo no Brasil