Recortes | Arte – Tá na rede

A obra de Candido Portinari, guardada em coleções particulares em sua maior parte, está agora disponível para visualização em website recém lançado (Puxada da Rede, 1959 - Crédito: reprodução/Projeto Portinari)

Por mais que a experiência virtual com as artes plásticas não substitua a experiência física – a descoberta da obra em suas dimensões reais, cores e peculiaridades –, é inegável que a internet aproxima as pessoas do contato com a produção artística de diversas épocas e lugares. A disseminação de imagens pela rede permite explorações pelos meandros de estilos, de fases da vida de artistas, das influências ao longo do tempo, sem que uma viagem, transoceânica ou não, seja necessária. E, pelo jeito, cada vez mais os acervos estão vindo a público em forma de pixels.

A novidade da vez é a apresentação online de praticamente toda a produção de Candido Portinari (1903-1962), esse “famoso desconhecido”, como descrito por Antonio Callado no fim dos anos 1970. Tal caracterização deveu-se à condição de suas obras: apenas 5% delas estavam disponíveis para a apreciação geral, afinal, a quase totalidade dos quadros está trancafiada em coleções particulares – e, é necessário dizer, fora do país que o artista retratou com tanta intimidade. O Projeto Portinari, existente desde 1979, vem tentando contornar essa situação, mostrando esse conjunto de obras aos brasileiros.

Portal dedicado ao artista apresenta resultado de mais de 30 anos de pesquisa e catalogação (Crédito: reprodução/Projeto Portinari)

O portal portinari.org.br, lançado no final do último fevereiro, é um passo no processo de disponibilização dos trabalhos do pintor de Brodowski. Reunindo 30 mil itens, entre reproduções de quadros, cartas, fotografias, periódicos e depoimentos, o website acaba tocando também na trajetória de intelectuais contemporâneos ao homenageado. Essa coleção é resultado de mais de 30 anos de pesquisa e catalogação sobre a obra, vida e época de Portinari. O trabalho foi dirigido pelo seu único filho, o professor João Candido Portinari.

Num primeiro passeio pelo acervo no site, e entrando pelo mosaico apresentado já na página inicial, é justamente a impressão da exploração na vastidão de elementos a que fica, com a possibilidade de parar, aproximar, tomar outro rumo, em cada clique. Trata-se de uma navegação quase lúdica, para quem entra na página e não sabe exatamente o que vai buscar. As guias são cronológicas, mas dá também para visitar a coleção por tipos, temas, suportes, técnicas e – grata surpresa! – por cores dos trabalhos. Navegar pelas tonalidades de Portinari permite uma interessante leitura das relações entre as pinturas e desenhos. Para uma busca mais objetiva, ou precisa, de documentos e obras, há ainda listas por momentos históricos, pessoas, etc., ou busca avançada.

Misturadas estão fotografias e quadros que outros artistas da mesma época. Cada item do acervo, quando acessado, apresenta um infográfico que demonstra a ligação dele com todos os outros itens do Projeto. Trata-se de uma lógica interessante de visualização, sem contar a boa resolução da maioria das imagens. Uma forma de entrarmos em contato com esse artista que, através de tintas e lápis, falou tanto sobre o Brasil.

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Ainda sobre arte e internet, vale lembrar que importantes instituições culturais estão apresentando alguns de seus catálogos e publicações virtualmente. Exemplo é o Guggenheim, que lançou ainda no ano passado 65 livros sobre arte moderna para leitura online ou download, gratuitamente. Entre as publicações podemos encontrar introduções à obra de Edvard Munch, Francis Bacon, Gustav Klimt e Egon Schiele. Outra coleção que merece o clique é a do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Através do portal MetPublications é possível ler e baixar de graça livros, catálogos de exposições e jornais. Pra começar, vale dar uma olhada nos trabalhos sobre Degas e Vermeer.

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Por fim, o Google Art Project lançou ontem, dia 6 de março (ou madrugada de 7 de março no Brasil), uma novidade: o Art Talks, no Google+ (será que agora a rede social ganha algum fôlego?). A ideia é a de que a cada mês uma conversa, como Hangout on Air, com curadores, diretores de museus, historiadores ou educadores, trate sobre obras determinadas, processos de curadoria ou artistas. A estreia foi sobre ensino online de arte, e aconteceu a partir do MoMA, contando com a participação de Deborah Howes, diretora de aprendizagem digital do museu, moderando um painel com estudantes. No dia 20 de março o assunto será representação do nu feminino, a partir da National Gallery de Londres. Estão previstos Art Talks também a partir da National Gallery of Art de Washington, do Museo Nacional de Arte do México e do Museu de Arte Islâmica no Qatar. Pra quem não puder acompanhar ao vivo, os encontros ficam disponíveis no canal do YouTube do Google Art Project.

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E viva a internet.

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