Política de ética e código de conduta

O Nonada Jornalismo é uma organização sem fins lucrativos que trabalha com jornalismo e projetos na área da cultura. Com viés decolonial, desde 2010, busca ecoar as múltiplas vozes que formam o Brasil, com enfoque em pautas sobre processos artísticos, políticas culturais, comunidades tradicionais, culturas populares, direitos humanos e culturais, memória e patrimônio, cultura e clima.

O propósito do Nonada Jornalismo é contribuir para o debate público sobre cultura e todas as suas manifestações, sempre com princípios éticos e editoriais transparentes. Com este documento, procuramos estabelecer as diretrizes e normas de condutas que devem guiar o comportamento dos profissionais em relação ao trabalho no Nonada. 

O guia vale para profissionais contratados via CLT, integrantes de empresas prestadoras de serviços, estagiários e trabalhadores voluntários.

Questões éticas  

Jornalismo de interesse público

O jornalismo cultural, assim como todos os outros campos da profissão, deve ter o interesse público como norma. Isto é, a busca por assuntos que impactam na vida das pessoas, o zelo à preservação dos direitos fundamentais e  aos princípios consagrados na Constituição, a partir do pressuposto de respeito pela dignidade humana. Acrescentamos a isso o norte pela busca da diversidade, que é questão central também em nosso trabalho, priorizando em nosso jornalismo pautas de grupos minorizados, como pessoas não brancas, mulheres, população LGBTQIA+ e PCDs.  

Sem fins lucrativos e sustentável

O Nonada é uma organização sem fins lucrativos e isso traz questões éticas para o nosso trabalho. No Terceiro Setor, a informação pública é fundamental para a existência de uma instituição saudável. Uma Organização da Sociedade civil (OSC) precisa ser comprometida com a transparência total, logo, parte de nossa missão é compartilhar os resultados e conhecimento para nossos pares e público. É crucial demonstrar de maneira transparente à sociedade não apenas a origem dos recursos, mas também como eles foram utilizados e o impacto social gerado. 

Conflitos de interesse

Os profissionais do Nonada não podem usufruir de vantagens pessoais pelo trabalho exercido na organização. Caso a repórter seja escalada para uma pauta em que esse tipo de questão possa ocorrer, é necessário notificar os editores para, então, ser substituída. Da mesma forma, não é permitido receber presentes de assessorias de imprensa ou de possíveis fontes interessadas, uma vez que pode afetar a credibilidade da organização. Lembrando que o acesso a produtos culturais (livros, filmes, cabines de cinema, exposições e peças de teatro, etc) para avaliação de possíveis pautas são parte do processo de trabalho de jornalistas culturais, logo, não são considerados “presentes”. Os repórteres devem informar os editores do Nonada sempre que receberem produtos culturais.

Do mesmo modo, o Nonada não publica reportagens, entrevistas, resenhas e notícias assinados por assessor de imprensa. Convites para participação de eventos ou viagens devem ser debatidos com os editores e aprovados pela direção. Alguns cuidados precisam ser tomados pelos jornalistas que estão em viagem pelo Nonada, principalmente na postura, uma vez que estão também representando a organização. Mais sobre no setor “Condutas”. 

Diversidade como compromisso

O Nonada encara o compromisso com a diversidade de forma séria. Ela deve ser uma das preocupações já na elaboração de pautas e de planejamento de projetos. Além disso, a organização deve estimular a diversidade na formação de equipe, promovendo-a em todos os níveis de trabalho. A diversidade de gênero, cor/etnia e geográfica deve ser central também na escolha das fontes, não apenas para as matérias que tratam do tema como central. 

Off record e fontes anônimas

O Nonada adota como política ética a utilização de informações obtidas de forma pública e de fontes indicadas nos textos publicados. As declarações em off record, aquelas em que a fonte pede para não ser identificada, são importantes no trabalho jornalístico, mas devem ser exceções. E elas acontecem quando a identificação pode causar riscos ou retaliações para as pessoas envolvidas. Desse modo, pode-se omitir nomes, ou usar nomes fictícios – sempre explicando na reportagem os motivos desse ato. Se outro veículo traz informações exclusivas baseadas em um off com repercussão pautada no interesse público, é possível usar a informação, mas dando crédito e acesso ao original. Contudo não é uma prática que deve ser recorrente no trabalho da organização, uma vez que a prioridade é gerar conteúdo próprio.  

Transparência sobre financiamento

O Nonada entende que é preciso ser transparente sobre o financiamento da organização. Nosso trabalho é financiado por diferentes fontes de recursos, incluindo projetos jornalísticos e culturais, subvenções, financiamento coletivo, lei de incentivo à cultura, publicidade e prestação de serviços de conteúdo cultural. As decisões sobre as fontes de financiamento são tomadas pela diretoria executiva da organização. Nos nossos relatórios anuais de atividades (publicados na área Sobre), disponibilizamos de forma atualizada constantemente as formas e fontes de financiamento. Nenhum financiador tem influência sobre o conteúdo jornalístico que produzimos.  

Parceria com outros veículos

O Nonada faz parcerias com outros veículos de comunicação, tanto na produção de reportagens em conjunto ou na constituição de projetos jornalísticos e culturais. Quando elas acontecem, são sempre com parceiros que compartilham das visões esclarecidas aqui nessa política de ética. Além disso, a organização também pode realizar conexões de trabalho com instituições da sociedade civil e da academia, que apoiam a área ou temática em que o Nonada atua. 

Direitos autorais

As imagens utilizadas no Nonada são sempre creditadas e utilizadas conforme os direitos autorais correspondentes. Não se divulga fotografias ou vídeos com o rosto de crianças e adolescentes sem autorização. Cada texto apresenta os nomes de seus respectivos autores – sejam da área que for – com destaque normalmente no início do texto. Na página Equipe, os leitores encontram as informações e contatos sobre os profissionais que compõem a equipe do Nonada. Os textos de prestadores de serviço e de freelancers são de autoria também do Nonada, que fica com o direito dos textos – salvo exceções previamente combinadas com os autores. Além disso, o Nonada, como organização sem fins lucrativos, usa a licença livre creative commons. Nosso conteúdo pode, então, ser reproduzido em portais e outros canais de comunicação, inclusive para fins comerciais. Mas há algumas regras aqui. As fotografias só podem ser reproduzidas junto com as reportagens.

Clareza na escrita e na correção

Em uma apuração na reportagem, deve-se sempre checar as informações no mínimo duas vezes, evitar estereótipos, procurar ouvir não os dois lados, mas os lados que você ou o editor acharem necessários para a matéria que você está escrevendo. Fonte não é personagem. Você não é um escritor de ficção, é um jornalista e essa é uma pessoa de verdade, então, muito cuidado com o que vai escrever.  Sempre que possível, coloque a fonte original dos dados e informações citadas, especialmente em matérias com documentos públicos e em pautas sobre políticas culturais. O jornalista não pode, em qualquer hipótese, recorrer a métodos de investigação imorais, antiéticos ou que possam configurar crime ou ilegalidade. Na hora de escrever, seja claro (mas não nivele o leitor por baixo), coeso, contextualize a matéria, procure estilo textual sem ser pedante. Um bom texto jornalístico é aquele que transmite a informação sem dar grandes rodeios, sem afloramentos desnecessários. Todo erro detectado é imediatamente corrigido pelos editores, com indicação de correção e horário de atualização do texto no cabeçalho da matéria. Leia mais no nosso Manual de Redação.

Disseminação das normas e princípios

Integrantes e colaboradores se comprometem a respeitar este código de ética e também a informar, se necessário, a todos aqueles que interagem no trabalho sobre os princípios elaborados e expostos aqui. O Nonada costuma fazer parcerias de trabalho com outras organizações, profissionais e empresas que compartilham valores similares e que compactuam com a nossa visão de mundo e de jornalismo. 

Relação de trabalho

Jornalistas fixos do Nonada podem ter outros trabalhos? Entendemos que é preciso existir certos cuidados para evitar conflitos de interesse. Os profissionais em cargos de liderança na organização devem se dedicar exclusivamente à empresa, podendo realizar atividades como freelancer e trabalhos ocasionais em outras áreas de cobertura do jornalismo. Membros da equipe fixa que aceitem trabalhos externos devem informar à diretoria e aos editores a decisão. É crucial que essa outra atividade não prejudique as responsabilidades com o jornalismo do Nonada. Ainda assim, os jornalistas devem evitar trabalhos que possam entrar em conflito de interesse com o trabalho do Nonada, como assessoria de imprensa fixa na área cultural, por exemplo. Ou mesmo trabalhar como repórter fixo em um outro veículo que cobre os mesmos assuntos e interesses. Freelancers e colaboradores devem informar aos editores se trabalham em assessoria de imprensa na área cultural ou na área política, incluindo partidos, sindicatos e outras organizações do Terceiro Setor.

Conduta 

O Nonada procura estabelecer sempre um ambiente de respeito mútuo e diálogo entre todos os integrantes. A construção do Nonada sempre foi coletiva, e aspectos de cobertura jornalística e da cultura da organização devem ser debatidos nas reuniões. No entanto, é preciso respeitar a hierarquia e a divisão de responsabilidades, assim como aos diretores da organização e aos editores do veículo, que detêm a decisão final sobre as  tarefas delegadas.

Na redação:

– Em relação à edição do texto, o diálogo e o trato entre repórter e editores deve ser sempre de respeito. As eventuais mudanças propostas pelos editores devem ser debatidas com a repórter, no entanto o editor tem a decisão final sobre os caminhos tomados no texto. Para evitar mudanças bruscas, é preciso entender a pauta desde o início para que tudo flua mais fácil. A conversa com o editor e com colegas segue sendo fundamental. Em último caso, a repórter pode deixar de assinar o texto caso não concorde com as decisões dos editores. 

– Em matérias de cunho investigativo e que envolvam acusações, o procedimento é que o texto passe pela consulta de um advogado antes da publicação. A investigação de uma denúncia deve preservar sua integridade jornalística, então, é necessário garantir aos acusados o direito de se expressarem na reportagem. Se optarem por não se pronunciar, ou não responderem ao contato, a informação deve ser incluída no texto.

– Pedidos de produtos artísticos e de outros materiais necessários para a elaboração da pauta jornalística devem passar pelos editores. O endereço para envio deve ser o da sede do Nonada Jornalismo. 

– A utilização de Inteligência Artificial para textos e imagens no trabalho jornalístico do Nonada deve ser evitada, principalmente no processo de produção e apuração. Se for utilizado, é preciso ser debatido previamente com os editores e relatado em transparência na matéria. Acreditamos que a IA é uma daquelas tecnologias que veio para ficar e impactará em praticamente todos os campos de atuação, mas ainda estamos aprendendo e lidando com as suas possibilidades e implicações no jornalismo. 

– A comunicação geral dos funcionários deve ser feita das 8h às 18h. Fora desse horário não é aconselhável, principalmente em aplicativos de mensagem, mandar recados sobre trabalho. A não ser que a repórter esteja no meio de uma cobertura ou aconteça algo urgente. Se precisar entrar em contato sobre pautas ou atividades corriqueiras, pode-se mandar o material por e-mail para editores ou diretores do Nonada Jornalismo. 

– É importante buscar a harmonia no trabalho entre os colegas, respeitando as diferenças de opiniões e visões, afinal, a essência do jornalismo é a cooperação. 

– Nas relações entre os profissionais, é inaceitável qualquer forma de discriminação com base em etnia, cor, sexo, gênero, identidade ou expressão de gênero, cultura, classe social, estado civil, religião ou crenças, nacionalidade, naturalidade ou regionalidade, orientação sexual, idade, pessoas com deficiência, condição médica, genética, informações ou características, gravidez, amamentação, pontos de vista ou atividades políticas e outras características protegidas por lei.

– São condutas inaceitáveis: intimidação, agressão, abuso, retaliação, ameaça, violência de todas as formas, assédio sexual, bullying psicológico e outras formas de assédio. 

– Em relação ao comportamento de trabalhadores do Nonada nas diversas redes sociais, espera-se uma postura de respeito e que esteja em conformidade com o apreço aos direitos humanos. Não se deve espalhar informações internas da Associação nas redes sem consentimento da direção. 

– Para atividades relativas ao Nonada, a equipe fixa deve obrigatoriamente usar sempre e-mail disponibilizado pela organização. Da mesma forma, este email não poderá ser utilizado em hipótese alguma para atividades profissionais para outras organizações/empresas ou ainda para ações de cunho pessoal.

– Com o objetivo de manter a independência jornalística, os jornalistas do Nonada não enviam as reportagens antes da publicação para aprovação das fontes que foram entrevistadas ou aparecem nas matérias. Exceções podem vir a acontecer e devem ser debatidas com os editores. 

– Jornalistas do Nonada devem informar aos editores se estiverem filiados a partidos políticos ou se participarem de atividades político-partidárias recorrentes.

No trabalho jornalístico:

– Os profissionais do Nonada devem usar crachá em coberturas, entrevistas ou eventos nos quais represente a organização.

– Na entrevista, se você não conhece a fonte, pergunte quais são seus pronomes e como ela prefere ser chamada.  

– Quando for entrevistar uma pessoa que está em um cargo público, deve-se chamá-la pela posição que ela ocupa. Exemplo: Secretária, Ministra, Presidente, etc..

– Antes da entrevista, avaliar com os editores o escopo das perguntas. Não fazer questionamentos de cunho pessoal/sensível aos entrevistados – salvo se for parte da pauta.

– Não atribuir valores, opiniões político-partidárias ou questões morais do repórter aos enunciados das perguntas

– No geral, as entrevistas devem ser gravadas, e os editores podem pedir para ouvir/ler a entrevista realizada pelos repórteres para esclarecer dúvidas. 

– Em uma entrevista, é sempre necessário ter em mente que você está representando o Nonada, então, mantenha uma postura educada e empática, sem perder o tom objetivo.

– Quando estiver em viagem representando o Nonada, a pauta deve estar planejada anteriormente ao deslocamento, assim como todos os gastos, que serão cobertos pela organização. Lembre-se que a independência jornalística continua mesmo quando há convites desse tipo. 

– É de responsabilidade do profissional de reportagem se planejar previamente para saber o quanto tempo de deslocamento levará até a pauta, os gastos envolvidos, além do preparo da pauta. Chegar na hora marcada com perguntas e tópicos prontos é imprescindível. 

– Em relação à construção de imagem e ao trabalho da fotografia ou vídeo, se faz necessário uma conversa prévia entre profissional de fotografia, repórter e editor para decidir e entender a pauta em conjunto e elaborar ideias para a realização das fotos, bem como a melhor hora durante o período de entrevista para que o repórter fotográfico ou videográfico faça seu trabalho. Isso não quer dizer que se deva retirar a independência e a criação do trabalho fotográfico na hora da pauta. Os repórteres fotográficos não devem reconstituir cenas ou eventos com o propósito de fazê-los parecer reais.  

– No caso de entrevistas ou apurações na casa ou espaços pessoais, o repórter fotográfico ou videográfico não deve, em hipótese alguma, invadir a privacidade da pessoa fotografada/gravada. Caso o profissional queira registrar algum objeto ou espaço interno, deve antes pedir autorização para a fonte e para o repórter de texto. 

– Quando se está no processo de apuração de uma reportagem em pauta, não há problema em postar nas redes sociais fotos ou informações do que se está fazendo, contanto que não sejam primordiais ou revelem toda a pauta. O material principal deve ser sempre publicado no Nonada Jornalismo primeiro. 

Com o patrimônio do Nonada:

– Os recursos do Nonada, incluindo computadores e telefones corporativos, disponibilizados aos seus membros, devem ser utilizados de maneira responsável e consciente, principalmente para atividades profissionais, e nunca em oposição às diretrizes estabelecidas neste Código.

– Não se deve baixar aplicativos ou programas nos dispositivos do Nonada sem autorização dos diretores. Depois de utilizado, por exemplo, um computador disponibilizado para um colaborador, é necessário que o profissional deslogue de suas contas pessoais e entregue o notebook para uso geral. O jornalista somente usará sua conta profissional do Nonada para logar nos computadores.

– Para dúvidas específicas sobre o uso de cada equipamento e os cuidados necessários, deve-se conversar com os diretores da organização.