O arauto da verdadeira Jamaica

Texto Airan Albino

Fotos Ita Pritsch

Damian Marley trouxe a cultura Rastafari para os palcos do Opinião
Damian Marley trouxe a cultura Rastafari para os palcos do Opinião

O 11° membro da prole mais famosa do reggae mostrou que talento, sim, passa de geração em geração. Damian Robert Nesta Marley trouxe uma Jamaica diferente para Porto Alegre: Jamrock. Essa é uma das alcunhas do país nas localidades mais pobres. O show teve um início eletrizante ao som de Make It Bun Dem, parceria com Skrillex. Junto de Damian Marley, um porta-bandeira abriu os caminhos da apresentação. O estandarte representava a cultura Rastafari, pilar central do gênero. A euforia com a abertura foi tanta que um fã se jogou ao palco e, em questão de segundos, foi devolvido à massa.

O cantor – conhecido pelo engajamento nas letras – fez o Opinião brisar. Muito interativo, ele estabeleceu um elo com os presentes. As indagações anteciparam diversas canções. “Vocês estão prontos?”, “vocês estão sentindo?”, “vocês amam Bob Marley?” e, não podia faltar, “vocês conhecem maconha?”, pronto, o público ficou ainda mais contagiado. Seus singles embalaram a noite. Beautiful serviu como companhia para os casais. Em Road to Zion, trabalho conjunto com o rapper Nas, o próprio Damian Marley levantou seu isqueiro e pediu para que todos o acompanhassem.

Ele teve pouco contato com seu pai, Bob Marley, o mestre do gênero. Apenas dois anos. Informação que contrapõe os olhares do público. O apelido Jr.Gong, dado por sua semelhança com Bob “Tuff Gong” Marley, não foi à toa. Hipnotiza fãs, admiradores, avulsos e, até, seguranças. A comparação com Bob foi posta à prova em diversas oportunidades, nas performances de War, Concrete Jungle, No More Trouble, Could You Be Loved e Get Up Stand Up. Junior não decepcionou.

O ápice da apresentação de Damian Marley foi o seu maior sucesso: Welcome to Jamrock. Os versos que renderam dois Grammy’s criticam a realidade jamaicana (mas que serve para a maioria dos países), o contraste entre resorts e guetos, a violência das gangues e a corrupção na política. Gongzilla (outro apelido) fala de um ciclo comum na parte pobre da nação: “Sério, vamos lidar com isso. A educação no gueto é básica e a maioria dos jovens a desperdiça. E quando a deixam, eles pegam armas para repor isso. Eles não têm como enfrentar isso”.

Ainda sobre o hit de Jr. Gong, a canção usa parte de outra melodia conhecida em Jamrock. “Out in the streets they call it merther”. Apesar de nem todos entenderem o inglês jamaicano, a multidão interpretou acertadamente a expressão local merther. Conforme a música World A Music, de Ini Kamoze a palavra se refere ao estado da pessoa que consume dois símbolos da Ilha central-americana: fuma ao som de reggae.

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