
Adrián Biniez nasceu na Argentina em 1974, mas começou a fazer cinema quando chegou em Montevidéu, no início dos anos 90. Em 2009 ganhou o Urso de Prata em Berlim com o seu primeiro longa, Gigante. O filme narra a história de Jara, um segurança de supermercado que se apaixona por Julia, a faxineira do estabelecimento. Ele acompanha os movimentos dela através das câmeras de segurança, nutrindo este amor à distância. O longa conta com ótimos recursos narrativos, complementado por uma marcante fotografia e destacada atuação dos atores, principalmente do protagonista interpretado por Horacio Camandule. Biniez esteve no início do mês de outubro em Porto Alegre para divulgar o filme e concedeu entrevista ao Nonada. O diretor fala sobre a realização de “Gigante” e sobre seus planos para o futuro.
Nonada – Qual a importância de ter seu filme exibido e premiado em Berlim?
Adrián Biniez – A mostra deu muita vida ao filme fora do Uruguai. Ele foi projetado no domingo e a premiação foi entregue no sábado seguinte. Depois da estreia a película passou por 20 países antes de um dos prêmios. Depois dos prêmios o filme acabou sendo ainda mais projetado, assim como o cinema uruguaio. Mas claro que não foram somente as premiações que ajudaram na divulgação.
Nonada – No que você se inspirou para escrever o filme?
Adrián Biniez – Em princípio, na ideia de mostrar o que é o trabalho em um supermercado. Para escrever o personagem me baseei em um amigo meu, e também em uma comédia romântica voltada ao público masculino. Para a história, pensei em várias experiências vividas por mim e por meus amigos em relação a esta coisa de se apaixonar uma mulher com quem você convive e que não te dá muita atenção. Essa paixão é vista à distância, através de câmeras. A ideia do filme é romper com esta distância.
Nonada – Há também toda a história sendo vista por detrás das câmeras…
Adrián Biniez – Sim, sim. Este é um elemento narrativo muito forte, principalmente representado pelas câmeras de segurança. Pensei em mostrar esta ideia de diferentes formas: ele vendo as câmeras, ele sendo filmado, de modo figurado, de modo natural… Há todo um jogo semântico nestes elementos do filme.

Nonada – Como foi a escolha dos atores?
Adrián Biniez – Os atores são muito mesclados. Alguns são amigos meus, outros eu nem conhecia. O Horácio (que interpreta o segurança Jara, protagonista do filme) apareceu para a seleção de atores e após algum tempo foi chamado para o papel principal. Ficamos experimentando o elenco em diferentes lugares, ver quem se encaixava melhor em qual papel… Foi um processo bastante interessante.
Nonada – Como foi juntar os recursos para rodar o filme?
Adrián Biniez – Isso foi um processo muito complicado, durou um pouco menos de um ano. A princípio foi muito difícil juntar recursos, mas depois, faltando seis meses para rodarmos a película, quando já não acreditávamos que conseguiríamos fazer o que queríamos, apareceram patrocinadores e leis de incentivo que foram cruciais para a produção do filme.
Nonada – O que gostaria de ter feito diferente no Gigante?
Adrián Biniez – Eu acredito que o filme tenha muito diálogo, e gostaria de ter tido mais tempo para pensar a história de uma forma mais intelectual. Um ponto que me ressinto é a falta de personagens cercando o filme e cercando o protagonista. Acho que o “Gigante” merecia muito mais trabalho em cima dos demais atores da história.
Nonada – Qual será seu próximo trabalho?
Adrián Biniez – O filme se chamará “5 Tacheres”, e é sobre um jogador de futebol da terceira divisão argentina. Ele está com 35 anos e a equipe, na qual ele jogou a vida inteira, nunca conseguiu se destacar. A película começa quando ele sofre uma falta muito forte em que sofre uma lesão, tendo que se aposentar. A partir deste momento ele fica sem caminho, pois sempre se dedicou ao futebol e não sabe o que fazer no seu futuro, já que nunca foi famoso e não conseguiu fazer fortuna.
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