Depois de uma pausa de 4 meses por licença-maternidade, Maria Rita voltou a homenagear a sua mãe, Elis Regina, no retorno da turnê Redescobrir à Porto Alegre – foi o terceiro show nesse formato que a cidade recebeu. Curiosamente – ou não –, a apresentação ocorreu justamente no Dia das Mães.
Apresentando praticamente um cover de luxo das canções do repertório da ‘Pimentinha’, como era chamada a cantora que até hoje é considerada por muitos como a maior da história da música brasileira, Maria foi aplaudida de pé em sua entrada ao palco, abriu com ‘Imagem’ e logo emendou ‘Arrastão’. Desde a primeira música, notou-se que a voz da intérprete não estava 100%, e depois de ‘Como Nossos Pais’ ela explicou, dizendo ter acordado com uma certa “fanheza”.
Apesar da importância imensurável das canções à música nacional, a cantora não chegou a empolgar nesta fase inicial; o público aplaudia, mas mais pelo protocolo do que por estar realmente se emocionando com a apresentação. Versões de ‘Vida de Bailarina’, ‘Bolero de Satã’ e ‘Águas de Março’ foram pouco dignas de nota, mesmo com uma brilhante banda de apoio formada por Thiago Costa, no piano e teclados, Silvinho Mazzuca, no baixo, o mestre Cuca Teixeira na bateria e o maridão Davi Moraes, filho de Moraes Moreira, na guitarra – que não estava no cargo pelos parentescos, mas sim porque é um grande instrumentista.
A pior parte foi quando chegou a vez de ‘Saudosa Maloca’: o clássico de Adoniran Barbosa não vingou na voz da cantora; os propositais erros de português da canção soaram tão honestos quanto uma nota de R$ 3. Felizmente, ela deu a volta por cima logo na sequência, com ‘Agora Tá’, cheia do suingue que faltou à anterior.
O show subiu mais um pouco a ‘Ladeira da Preguiça’ com ‘Vou Deitar e Rolar’, ‘É Com Esse que Eu Vou’, ‘Querelas do Brasil’ e ‘O Bêbado e a Equilibrista’. Todas com interpretação morna e controlada demais, levando-se em conta a visceralidade que era marca de Elis e a estatura que sua obra alcançou.
Como se estivesse num filme, no entanto, Maria Rita teve seu ponto de virada com ‘Menino’, de sublime interpretação. A partir daí, com o jogo quase nos acréscimos, a cantora marcou diversos gols e virou a partida. ‘Me Deixas Louca’ injetou uma dose cavalar de emoção pela primeira vez, e ‘Tatuagem’ não ficou para trás.
Como quem guarda o melhor para o final, a cantora ainda se deu o luxo de deixar o clima “cada vez mais down” ao executar ‘Essa Mulher’ e ‘Se Eu Quiser Falar com Deus’. A partir de ‘Alô, Alô, Marciano’ e ‘Aprendendo a Jogar’, entretanto, foi só correr para o abraço: as duas levantaram os ânimos e ‘Doce de Pimenta’, ‘Morro Velho’, ‘O Que Foi Feito Devera’ e ‘Maria, Maria’ mantiveram o nível, encerrarando a apresentação regular fazendo jus às obras de Rita Lee e Milton Nascimento, reverenciados pela cantora devido à amizade com a mãe Elis – e, lógico, ao fato de ela ter interpretado essas canções.
Maria foi generosa no bis: com a plateia na frente do palco, o que já vai se tornando um clássico em apresentações no reformado Araújo Vianna, fez todos cantarem junto ao interpretar ‘Fascinação’, ‘Romaria’, ‘Madalena’ e ‘Redescobrir’.
Apesar do ótimo final, o que salvou o show, ficou evidente um desequilíbrio no repertório e também foi visível que faltou energia em várias músicas. Talvez o fato de a intérprete não estar com plenas capacidades vocais tenha contribuído. É assim mesmo: “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.
Repertório:
1 – Imagem
2 – Arrastão
3 – Como Nossos Pais
4 – Vida de Bailarina
5 – Bolero de Satã
6 – Águas de Março
7 – Saudosa Maloca
8 – Agora Tá
9 – Ladeira da Preguiça
10 – Vou Deitar e Rolar
11 – É Com Esse que Eu Vou
12 – Querelas do Brasil
13 – O Bêbado e a Equilibrista
14 – Menino
15 – Me Deixas Louca
16 – Tatuagem
17 – Essa Mulher
18 – Se Eu Quiser Falar com Deus
19 – Alô, Alô, Marciano
20 – Aprendendo a Jogar
21 – Doce de Pimenta
22 – Morro Velho
23 – O Que Foi Feito Devera
24 – Maria, Maria
Bis
25 – Fascinação
26 – Romaria
27 – Madalena
28 – Redescobrir