Pra quem curte rap, a cena tá linda

Fizemos um panorama da cena do rap brasileiro em 2016, que vem se diversificando com grupos de vários estados do país

por Mairon Rodrigues

Pra quem gosta de RAP, sabe que 2016 foi especial. Lá fora a Beyoncé lançou “Formation” no Super Bowl e fez todo mundo ter orgulho do nariz mais negroide, cabelo crespo e tudo mais. A Tribe Called Quest saiu de um hiato e voltou com o ótimo We Got It From Here… Thank You 4 Your Service, o Chance The Rapper elevou o nível do gospel americano com a arrebatadora faixa “Blessings”, Kanye fez The LiFe of Pablo, que é bem abaixo do que ele pode fazer. E mais algumas coisas.

Mas e aqui no Brasil? Aqui o bicho pegou, amigos! A gente sempre soube que a cena do RAP brasileiro era pautada por Rio De Janeiro e São Paulo, os estados monopolizavam o game rap e isso meio que deixou a rapa do resto do país nervosa. Mas vou explicar como aqui virou a chave: Tudo começou com “Quem Tava Lá?”, da molecada do Costa Gold. Gostando ou não, quem já ouviu o rap de 2014 pra cá, sabe do hype que os moleques têm. Clipes bem produzidos, beats ótimos do produtor Pedro Lotto e tudo mais. Só que na faixa “QuemTava Lá?” a gurizada subiu num salto que não é deles (e ainda usaram a figura do nosso Mestre Yoda do RAP Br, o MC Marechal) foi tipo um “quem trampa de verdade no rap é a gente, vocês nem tanto”. Eis que aparece a tia (como ela mesmo se intitula) Lívia Cruz, que trabalha sério no rap faz muito tempo, respondendo que ELA TAVA LÁ com a faixa “Eu Tava Lá” e, depois daí, amigo, o bicho pegou sério.

Parece que o monstro tinha saído da jaula e o rap brasileiro virou de cabeça pra baixo com o grito nordestino chamado “Sulicídio” de Diomedes Chinaski e Baco Exu Do Blues. Produção do alienígena Mazili e o ótimo Sly e o negócio já começa pegando com a frase “Sem amores pelos rappers do Rio e nem paixão por vocês de São Paulo”. Muita gente tirou a música como um ataque pessoal ao rap feito no sudeste, só que quem entendeu assim não entendeu nada. Depois disso muitos grupos de fora começaram a saltar dos bueiros de todo lugar do Brasil. Zudizilla daqui do RS, mais precisamente de Pelotas, já tinha soltado o ótimo disco Faça a Coisa Certa e ninguém tinha visto, depois disso, parece que abriu o leque. A D.V Tribo, de BH surgiu no cenário com o trio Djonga, Fabrício FBC e a ótima Clara Lima, uma mina fortíssima na cena do freestyle mineiro. No Distrito Federal surgiu Froid, com seu rap com um flow mais lento e com letras igualmente pesadas sobre questões raciais e sociais.

As minas são importantes no processo também, Flora Matos lançou faixa depois de muito tempo e a gente sabe como é marginalizado o rolê delas no meio machista que é o rap. Lay, a nossa Ghetto Woman, lançou um disco cheio de malandragem e empoderamento feminino e que pouco foi ouvido no ano passado.

O Rio de Janeiro mostrou o ótimo BK, que faz um rap com a poesia mais concreta, ninguém pode esquecer das Cyphers feitas no ótimo canal chamado Rap Box do Léo Casa 1, a mais arrebatadora, na minha opinião, é “Expurgo” que reuniram os já citados Baco Exu Do Blues e Diomedes mais o fenomenal nordestino radicado em São Paulo chamado RAPadura (inclusive a parte do RAPadura é um tapa na cara contra a xenofobia contra os nordestinos), teve as Cyphers feitas de modo independente como “Poetas no Topo” que reuniu Makalister Renton, BK, Menestrel, Djonga, Sant e Menestrel, nas duas edições de “Favela Vive” com ADL, BK, Funkero e o nosso Falcão chamado MV Bill.

2016 foi um ano fantástico pro RAP feito no Brasil, Mano Brown lançou o Boogie Naipe se firmando como um dos grandes nomes da música negra cantada em português, Rincon Sapiência lançou “Ponta de Lança”, que é uma ode ao MC. Não sei se o rap brasileiro vive uma Golden Era como viveu os EUA de 1985 a 1990, não sei se foi só um pulso que o rap deu antes de voltar a ser o que era. Mas pra quem curte a cena, 2016 foi linda. Que venha 2017!

 

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