Texto: Daniel Sanes
Fotos: Fernando Halal (halalson@yahoo.com.br, http://www.flickr.com/fernandohalal)
Os saudosistas que sentiam falta da efervescente cena rock dos anos 80 em Porto Alegre não têm mais do que reclamar há muito tempo. Se o número de shows internacionais na capital – mesmo com um crescimento significativo nos últimos anos – ainda é considerado baixo pelos mais exigentes, não se pode dizer que faltem boas opções locais para os roqueiros gaúchos.
Felizmente, há demanda para isso. Que o digam Gulivers e Cartolas. As duas bandas se apresentaram no dia 28 de outubro e, mesmo em uma quinta-feira, na iminência de um feriadão, quase lotaram o Verde Club.
Os Gulivers subiram ao palco conscientes de que grande parte do público estava ali pela atração principal. Afinal, mesmo tendo cinco anos de estrada, a banda só lançou seu primeiro álbum, Em Boas Mãos, há cerca de três meses, o que faz com que ela seja uma novidade para muitos dos que foram ao show.
E já é possível notar diferenças entre as apresentações anteriores ao disco e as atuais. Mais confiantes e afiados no palco, os Gulivers fazem um show redondo e sem firulas, preocupando-se somente com o que realmente interessa: a música. Algumas canções, naquele estilo “rock gaúcho britânico”, já são cantadas pela galera, como Amigo Macaco e Ausente. Prova de que, aos poucos, com um “trabalho de formiguinha”, o grupo está conseguindo arrebatar novos fãs a cada show.
Entre as diversas bandas porto-alegrenses influenciadas pelo britpop, os Cartolas, sem dúvida, estão entre as mais criativas. Com letras que parecem que não vão encaixar nas estrofes, mas que sempre acabam encaixando, e bem – cortesia do guitarrista Dé Silveira –, o grupo merecia ter mais reconhecimento fora do Rio Grande do Sul. É verdade que gravou seu primeiro disco, Original de Fábrica , ao vencer um festival fora do Estado, o Claro que é Rock. Mas depois disso parece que o mercado externo encolheu um pouco para os caras, que não deixariam nada a desejar em uma “disputa” com bandas como Cachorro Grande e Pública, por exemplo.
Alheios (ou não) a isso, os Cartolas esbanjam carisma quando sobem ao palco. O que é um tanto paradoxal, considerando a postura a la Liam Gallagher – veja bem, não estamos falando de arrogância – do vocalista Luciano Preza. Com danças esquisitas e eternamente de óculos de sombra, o cara é um show a parte.
Um tanto mais lento que seu antecessor, Quase Certeza Absoluta já caiu nas graças dos rockers de Porto Alegre. Partido em Franja, Meu Bem e o Assovio e O Divórcio (aqui sem a especialíssima participação de Izmália) conquistaram lugar, arrisco a dizer que cativo, no repertório da banda.
Mas é claro que as primeiras músicas, aquelas que tornaram os Cartolas conhecidos, ainda sejam as mais esperadas pelo público. Realmente seria um absurdo imaginar um show dos caras sem o O Rabugento, Acusações Baratas, Que Diabos Tu Tem Dentro da Cabeça? e a inevitável Cara de Vilão. Grande banda, grande show e a certeza de um amanhecer de sexta-feira mais feliz, mesmo para quem tinha que acordar cedo.