The Toy Dolls: Punk Rock para além dos três acordes

Texto: Paulo Finatto Jr. (paulofinattojr@hotmail.com)

Fotos: Liny Rocks (http://www.flickr.com/photos/linyrocks)

Depois de quinze anos sem dar as caras, os ingleses do The Toy Dolls retornaram a Porto Alegre

A 30th Anniversary Tour – turnê comemorativa aos trinta anos de carreira do The Toy Dolls – lotou o Bar Opinião em mais uma apresentação de luxo no mês de setembro. No repertório as maiores composições do passado da banda.

Exatamente às 23h a banda gaúcha Pernalonga subiu ao palco do Opinião para esquentar a noite. Em um set extremamente curto – com menos de quinze minutos de duração –, o quarteto mostrou cerca de seis músicas para um bom público que já se concentrava na pista. As músicas rápidas e bem trabalhadas não chegaram a empolgar a plateia, que apenas assistiu ao show de abertura. As influências de Green Day e as letras em português são as características mais marcantes do grupo.

Com o Bar Opinião extremamente cheio, o The Toy Dolls entrou em cena precisamente às 23h55, com uma introdução que misturou diversas faixas de abertura do grupo e uma composição clássica de Richard Strauss. Michael “Olga” Algar (vocal e guitarra), Tommy Goober (baixo) e Duncan “The Amazing Mr. Duncan” Redmonds (bateria) iniciaram o espetáculo com “Cloughy is a Bootboy!”, do álbum “Wakey Wakey” (1989). O carismático trio inglês contou com o suporte da plateia desde as primeiras composições: “Dougy Giro” e “Queen Alexandra Road is Where She Said She’d Be” deram sequência à apresentação sem perder o ritmo intenso do primeiro minuto.

Em atividade desde meados dos anos setenta, o The Toy Dolls surgiu pelas mãos de Michael Algar na cidade de Sunderland – localizada ao norte do Reino Unido. Embora nunca tenha assumido as referências de bandas contemporâneas à sua época – como Ramones e New York Dolls – o trio ainda composto por Philip “Flip” Dugdale e Colin “Mr. Scott” Scott consolidou o seu nome a partir de um direcionamento particular dentro do seu estilo.

Com características musicais extremamente simples, o punk rock cresceu como um movimento cultural através do seu som rápido e agressivo. As músicas, que geralmente não ultrapassavam a barreira de três ou quatro acordes, abordavam conceitos políticos e sociais. Na Inglaterra, o gênero genuinamente norte-americano se desdobrou e bandas como Sex Pistols, The Clash, The Damned e .U.K. Subs nasceram sob o domínio internacional dos Ramones.

É evidente que o The Toy Dolls é uma das melhores bandas (e uma das mais técnicas) do punk rock mundial. Olga – o único integrante da formação original de 1979 – é um exímio guitarrista que explora com maestria a simplicidade do estilo através de uma dose surpreende de riffs e de melodias – característica bastante incomum para o punk clássico. Os “novatos” Goober (com o grupo desde 2004) e Redmonds (na banda a partir de 2006) também são responsáveis pelo ótimo espetáculo que o The Toy Dolls executou para os fãs gaúchos.

O ótimo instrumental do trio, aliado às coreografias de Olga e Gobber, proporcionou momentos de diversão para a plateia em faixas como “The Death of Barry the Roofer with Vertigo” e “The Lambrusco Kid” – que trouxe ao palco uma enorme garrafa inflável de champanhe que, depois de estourada, jogou confete e serpentina sobre o público espremido nas primeiras fileiras em frente ao palco. A música, que é um dos maiores sucessos do The Toy Dolls, contou com a voz de apoio de praticamente todos os presentes. Depois de “Harry’s Hands”, o trio inglês emendou – praticamente sem pausa – “Spiders in the Dressing Room” e “Nellie the Elephant”, duas boas músicas com refrãos extremamente marcantes.

Com a nítida postura de trocar poucas palavras com o público – somente depois de “Nellie the Elephant” que Olga fez o seu primeiro agradecimento aos fãs e à cidade – o The Toy Dolls não é uma banda de atitude arrogante. O intuito de celebrar uma noite verdadeiramente punk rock, com o menor intervalo possível entre as músicas, diz muito a respeito da preocupação do trio inglês quanto ao repertório do show. Depois de “Ashbrooke Launderette”, a banda emendou a relativamente nova “I Caught it from Camilla” (do disco “Our Last Álbum?”, de 2004) com a dobradinha clássica “Bless You My Son/My Girlfriend’s Dad’s a Vicar”. Com a plateia na mão, os caras executaram ainda “Olga I Cannot” e “Idle Gossip” na sequência.

Em contraponto ao movimento contestador que surgiu quarenta anos atrás, o The Toy Dolls é uma das poucas bandas que mantém acesa a vertente mais divertida do punk rock. Com onze discos de estúdio e dois registros ao vivo, a banda inglesa atingiu o topo das paradas do seu país em 1984 com a fatídica música “Nellie the Elephant”. O single – que vendeu a impressionante marca de 535 mil cópias para a época – premiou Olga & Cia. com um contrato assinado com a gravadora EMI. De uma das revelações do cenário underground do Reino Unido, o The Toy Dolls se tornou em poucos anos uma das maiores referências técnicas dentro do estilo que ajudou a consolidar no mundo todo.

Depois de quarenta minutos ininterruptos de show, a banda já dava os primeiros sinais de cansaço. De qualquer forma, “Fisticuffs in Frederick Street”, do álbum “Bare Faced Cheek” (1987), é tão direta quanto as outras composições do The Toy Dolls – mas contou com coro e refrão de apoio incondicional dos fãs gaúchos. Depois da curta e virtuosa instrumental “Toccata in Dm” (baseada na homônima composição clássica de Bach) o momento de maior grandiosidade e surpresa do show: a música “Alec’s Gone”, do disco “Absurd-Ditties” (1993).  Embora não seja a faixa de maior repercussão do The Toy Dolls, ela é, certamente, a que melhor deixa transparecer a energia do punk rock através de um refrão muito marcante.

Na reta final do espetáculo, Olga & Cia. emendaram “Harry Cross (A Tribute to Edna)” – com direito a um pequeno solo de bateria – e a instrumental “Wipe Out”, antes da pausa para o primeiro bis, com “When the Saints (Go Marching In)” e “Glenda and the Test Tube Baby”. De volta pela terceira vez ao palco, o The Toy Dolls encerrou definitivamente o seu set de quase 1h15 com a absoluta “She Goes to Finos” – certamente a música de maior apelo (e mais conhecida) entre os fãs do grupo.

A banda e o público voltaram para casa extasiados e com a certeza de um dos melhores e mais divertidos shows do ano. Como a banda está cercada em um mistério – não se sabe se irá encerrar a carreira, abandonar a gravação de discos inéditos ou simplesmente encerrar o ciclo de apresentações ao vivo –, quem compareceu ao Bar Opinião deve se sentir privilegiado por reviver a aura dourada do punk rock inglês.

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