Estranhos eventos

Se você algum dia já se perguntou “O que esse bando de gente estranha está fazendo numa fila na frente de uma escola em pleno sábado de manhã?” é porque, provavelmente, já viu um evento de animes (criativamente, os nomes variam de “anime-alguma coisa” a “qualquer coisa-anime”). Mesmo que não tenha entrado, pela fila dá pra se ter uma ideia do que deve ser lá dentro. Muitas pessoas esquisitasse reunindo para falar de coisas que gostam em comum. E estranho, na minha acepção, é um grande elogio. Pessoas normais são tediosas.

Os Eventos

Normalmente, eventos de anime se instalam em uma escola por um fim de semana, tomando conta de ginásios, pátios, salas de aula e tudo o mais para montar bancas, oficinas, palcos e o que for necessário. Bastante espaço, já que esses eventos juntam milhares e milhares de pessoas.

São diversas atrações reunidas envolvendo desenhos japoneses, desenhos não japoneses, mangás e outros quadrinhos, séries, games, filmes, livros, música, moda entre outros temas da cultura pop. Inicialmente mais focados em um público nipófilo, hoje em dia esses eventos abrangem muito mais do que apenas a cultura pop japonesa. Asiática, em geral. Mas também estadunidense. Cultura pop mundial.

Um cosplay de Link, personagem da franquia The Legend of Zelda (Flickr Nina Yasmine)

É no palco principal que acontecem as apresentações. Bandas que tocam músicas-tema de animes, desenhos, séries, músicas próprias. Dubladores de personagens famosos. Concurso de cosplay (que é quando um fã se veste como um personagem de um desenho que ele gosta). Na parte das bancas é onde se pode comprar camisetas, chaveiros, bottons, DVDs, mangás, miniaturas, penduricalhos, bichos de pelúcia, chapéus, armas, plaquinhas (ah, as plaquinhas) e algumas coisas que eu ainda hoje não entendi a função.

Além disso tudo, tem as salas temáticas, que são ainda mais variadas. Salas para oficinas e workshops de desenho, discussões sobre algum tema específico, para jogar video games, cartas, para assistir animes, para encontros de fã clubes, para dublagem, discutir qual a melhor técnica de luta (de verdade, de desenho, virtual, tanto faz), entre outros. Basicamente tudo por que o variado público se interessa.

As pessoas

Se explicar o evento já foi complicado, tentar definir o público é ainda mais.

Usei acima o adjetivo estranho, e acho que é o mais adequado. Em última análise, são pessoas que gostam de coisas não comuns (embora cada vez mais comuns) e se reúnem para compartilhar seus gostos. Acho que o fator mais importante é a diversão. O intuito maior, a razão que reúne tanta gente, é a diversão, com temas (produtos culturais) que, em geral, não fazem parte do dia-a-dia.

Sem inibições. Um grupo de amigas que assistia Sailor Moon quando crianças e, já adultas, resolvem se vestir cada uma de sua guerreira favorita. Uma maratona coletiva de Cavaleiros do Zodíaco. Amigos que há tempo não jogavam Magik e querem matar a saudade. Uma estudante de moda querendo usar as roupas que ela cria. Alguém à procura de mangás raros. Ou sei lá. Eu, por exemplo, sempre quis fazer cosplay de Jiraya e lutar com ninjas-pássaro-tengu malvados. Vai saber. Vão porque gostam, vão porque querem. Sem motivo específico.

Um cosplay do clássico brinquedo de soldadinho (Flickr Man of Wax)

Cada vez mais, o público aumenta e se diversifica. Ao mesmo tempo em que cada vez pessoas mais velhas participam, também cada vez pessoas mais novas. Ao mesmo tempo em que um tema incomum se populariza, produtos já populares ganham seu espaço. Ao mesmo tempo em que pessoas não tão estranhas começam a aparecer, mais pessoas ainda mais estranhas também aparecem. Isso tudo é ótimo.

O resto

Já vou a eventos há bastante tempo. No último a que fui, tinha muita gente que se destacava não por estar vestida estranho, mas exatamente pelo contrário: pareciam cotidianas demais para um evento. Podiam estar lá como quem passeia em um shopping. Foram para o evento porque gostam de um dos temas abrangentes, não necessariamente de tudo. Ou mesmo gostam de tudo e simplesmente não querem se vestir diferente. Não precisam. Ainda assim, paravam para tirar fotos de cosplays que acharam interessantes ou bem-feitos.

Da mesma forma, no shopping perto do colégio onde esse evento acontecia, diversas pessoas de cosplay passeavam, como se ainda estivessem no evento, sem sequer se importar com os olhares dos outros. Ou na parada, esperavam seus ônibus. Com uma gigante espada em uma bainha ao lado da cintura.

Uma cena comum (mesmo) são as plaquinhas. Solidários “free hugs”, piadas internas, piadas externas, comentários aleatórios, mendicâncias. Imagine que você veio ao evento, comprou uma camisa da série que adora, dez bottons de músicos e desenhos, um pôster, um refri e três miniaturas de Pokémon. Não tem dinheiro nem para o ônibus. Ora, pegue uma plaquinha e peça moedas para as outras pessoas, por que não? Na onda do “se colar, colou” (os “free hugs”, “free kisses”, entre outros, partem desse mesmo princípio).

Meu objetivo era fazer um perfil das pessoas que vão a eventos de anime e dos eventos em si. Pensei que, sendo eu uma dessas pessoas, não deveria ser difícil explicar a atração que, por exemplo, uma camiseta dos Cavaleiros do Zodíaco pode causar. Ou um chaveiro do Eevee e todas (TODAS) as suas evoluções. Oito chaveiros, eu digo. Ou um boné do Mario. Enfim, foi difícil.

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