Angra: entre os clássicos do passado e um público cada vez mais renovado

Texto: Paulo Finatto Jr. (paulofinattojr@hotmail.com)

Fotos: Liny Rocks (http://www.flickr.com/linyrocks)

Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt – a dupla de guitarristas é que mantém intacto o passado do Angra.

O futuro do Angra parecia incerto após o fraco “Aurora Consurgens” (2006). A banda, que se envolveu em uma série de conflitos como seu ex-empresário, por pouco não encerrou as atividades. No entanto, quatro anos se passaram e o quinteto paulista deu a volta por cima com o ótimo “Aqua” (2010). A turnê, que vai aos Estados Unidos e à Europa nos próximos meses, passou por Porto Alegre no início de dezembro.

Com o Opinião praticamente tomado por fãs, e com uma fila gigantesca do lado de fora, a noite iniciou precisamente às 20h25 com a banda Tierramystica. O grupo, que é um dos atuais (e principais) expoentes do metal gaúcho, dava continuidade à turnê que promove o disco “A New Horizon” (2010). Guilherme Antoniolli (vocal), Fabino Muller (guitarra), Alexandre Tellini (guitarra), Ricardo Duran (charango/violão/ocarina/vocal), Rafael Martinelli (baixo), Luciano Thumé (teclado) e Eduardo Gomes (bateria) contaram com o suporte incondicional da plateia desde a abertura do espetáculo com a intensa “Golden Courtyard”.

No repertório próprio da banda, “Celebrate of the Sun” e a cadenciada “Wings of Hope” comprovaram o porquê do sucesso de “A New Horizon” – que mistura o metal melódico com a música sul-americana – e que está com a primeira tiragem praticamente esgotada, poucos meses após a sua chegada às lojas. De qualquer forma, não há como deixar passar em branco a versão que o Tierramystica executou para “Fear the Dark” (Iron Maiden). A música animou muito os presentes, que ainda chegavam ao local do show. Certamente, mais uma grande apresentação da banda que ainda vai crescer muito em 2011.

Na sequência, a nova Daydream XI entrou em cena às 21h25 para mostrar o seu metal progressivo extremamente pesado aos fãs gaúchos. A banda, que conta com Tiago Masseti (vocal), Cássio de Assis (guitarra), Marcelo Pereira (guitarra), Tomás Gonzaga (baixo) e Bruno Giordano (bateria), iniciou a apresentação com a interessante “The Guts of Hell”, composição recém lançada pelo quinteto porto-alegrense. Embora o público parecesse desconhecer as músicas do EP “Humanity’s Prologue” (2006), é inegável o talento dos caras, sobretudo em “Graveyard of Disgrace” e na complexa, e com mais de dez minutos de duração, “Open Minds”. No entanto, o cover para “Holy Diver” (Dio) – que encerrou o espetáculo em uma espécie de homenagem póstuma ao cantor – animou o público que cantou junto do início ao fim.

Depois de quase uma hora de espera desnecessária (em decorrência de problemas técnicos com o equipamento dos guitarristas), às 22h48 o Angra apareceu no Opinião com a introdutória “Viderunt te Aque”, para o êxtase dos fãs que ocupavam cada centímetro na frente do palco. Edu Falaschi (vocal), Kiko Loureiro (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Ricardo Confessori (bateria) iniciaram o show com a certeira “Arising Thunder” – a melhor composição do álbum “Aqua”. O público, bastante renovado em comparação com o show que a banda realizou durante a turnê de “Rebirth” (2001) na capital gaúcha, cantou com Edu e comprovou, ainda mais, o retorno por cima do Angra após o controverso “Aurora Consurgens”.

Com um set extremamente baseado nas composições mais novas, a clássica “Angels Cry” animou bastante os presentes, que mostraram conhecer cada uma das músicas mais antigas da carreira do grupo. No entanto, “Waiting Silence” e “Spread You Fire” – ambas do disco “Temple of Shadows” (2004) – comprovaram o sucesso duradouro da “nova” formação da banda – e que as ridículas discussões “Andre Matos vs. Edu Falaschi” são mais do que desnecessárias após quase dez anos com o vocalista. Depois da cadenciada “Lease of Life”, o quinteto executou outra interessante faixa de “Aqua”: a progressiva e melódica “The Rage of the Waters”.

Edu Falaschi – depois de dez anos e quatro discos com a banda, o vocalista não possui mais a sombra do antigo líder, Andre Matos.

Na sequência, a cadenciada “Heroes of Sand” contou com as vozes da plateia, que cantaram em uníssono com Edu Falaschi. A música, que ganhou a admiração dos fãs com os anos, pode ser considerada um dos maiores clássicos do Angra na atualidade. Em “The Voice Commanding You” quem assumiu o posto de frontman foi o guitarrista Rafael Bittencourt. De propósito ou não, a pausa para a voz de Edu era mais do que necessária. O cantor não estava em ótimas condições para uma apresentação ao vivo – mas soube superar os evidentes problemas de saúde com muito profissionalismo e respeito aos fãs.

Em contrapartida à faixa anterior, “Lisbon” contou novamente com as vozes da plateia em uníssono. A banda não conta mais com Fabio Laguna (teclado) ao vivo – as orquestrações e as linhas de teclado são inseridas agora através de samplers. No entanto, essa nova característica sonora do Angra permitiu que o quinteto rearranjasse muitas das composições do passado com ainda mais peso – e a única música retirada de “Fireworks” (1998) mostrou claramente esse novo direcionamento. Na sequência, “Awake from Darkness” comprovou mais uma vez que há qualidade em “Aqua”. Depois da clássica “Nothing to Say”, a cadenciada “Rebirth”, novamente com arranjos de muito peso, encerrou a primeira parte do espetáculo.

De volta para o bis, o Angra emendou – para o delírio dos fãs – “Carry On” e “Nova Era”, provavelmente as duas músicas mais esperadas da noite. Depois, a banda promoveu uma troca de instrumentos no encerramento do espetáculo. Com Rafael Bittencourt (vocal), Edu Falaschi (guitarra), Ricardo Confessori (guitarra), Kiko Loureiro (baixo) e Felipe Andreoli (bateria), os caras executaram “Heaven and Hell” (Black Sabbath) – mais uma sincera homenagem ao cantor Ronnie James Dio. Embora em clima de brincadeira, os músicos mostraram muita proximidade com os novos instrumentos. Com Kiko Loureiro como frontman, “From Whom the Bells Tolls” (Metallica) encerrou de vez a apresentação à 0h34.

Em um show aparentemente curto – com apenas 1 hora e 30 minutos de duração e um setlist de dezesseis músicas – os fãs deixaram o Opinião mais do que contentes com o novo momento que o Angra vive. A banda, que construiu a sua carreira com ótimos discos e se consolidou como o principal representante do metal brasileiro de todos os tempos, deverá recuperar os anos perdidos com o disco “Aqua”. O show, que claramente poderia privilegiar mais o passado do quinteto – com “Make Believe” ou com “Time” (só para citar duas músicas que não poderiam ficar de fora) – certamente agradou a massa de adolescentes que admira atualmente a banda, assim como os fãs mais antigos.

Sites das bandas de abertura:

Tierramystica – http://www.myspace.com/tierramystica

Daydream XI – http://www.myspace.com/daydreamxi

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