Texto: Daniel Sanes
Fotos: Rodrigo Esper / I Hate Flash
Desde que sua realização foi confirmada, o M/E/C/A Festival provocou frisson e gerou muitas expectativas. Não só na gauchada, mas no dito público indie de todo o Brasil. Afinal, embora a grande maioria da população ignore a existência do Vampire Weekend, quem acompanha a cena rock/pop sabe muito bem o que a presença de uma das mais hypadas bandas dos últimos tempos no Rio Grande do Sul significa. E foi graças a esse grupo de jovens músicos norte-americanos que muita gente se dirigiu ao município litorâneo de Xangri-Lá no sábado passado, dia 29 de janeiro.
Muita gente, mas não tanto quanto o esperado pela organização. Para se ter uma ideia, quem chegou sem ingresso ao Jimbaran Club, local do evento, pôde muito bem comprar sua entrada pelo valor de segundo lote – eram três, e, no dia dos shows, o comum é restarem apenas tickets para os do último. No total, estima-se que cinco mil pessoas assistiram aos shows.
Havia pouquíssimas pessoas na pista quando começou a primeira apresentação. Uma pena, pois a Wannabe Jalva é uma das melhores bandas de rock alternativo que surgiram no Brasil nos últimos anos. Ainda sob um sol escaldante – fez um belo dia de praia, o que deve ter retardado a chegada de várias pessoas –, os únicos representantes gaúchos no festival mandaram ver um set curto e coeso. Desconhecido de muitos, o grupo certamente angariou admiradores, e deve aumentar seu “rebanho” em breve, já que está em processo de gravação de um EP que promete.
Depois, foi a vez da primeira de duas atrações paranaenses, Rosie and Me, possivelmente familiar apenas àqueles que resolveram baixar algumas músicas antes de embarcar para Xangri-Lá. A apresentação da banda, liderada pela meiga e tímida vocalista Rosanne, esteve longe de ser ruim. No entanto, o som do grupo, uma espécie de indie folk, destoou das batidas dançantes que foram a tônica do M/E/C/A. Assim, a galera preferiu aproveitar para curtir a performance sentada no gramado. Quem prestou atenção, além de ser surpreendido por boas composições próprias, ainda foi agraciado com um cover bacana de “Ready For The Floor”,do Hot Chip.
Se alguma atração nacional tinha status de banda grande, “quase” comparável aos gringos, essa banda, sem dúvida, era o Copacabana Club. E o grupo curitibano mostrou a que veio com um show energético e cheio de sex appeal, cortesia da vocalista Cacá. Ficou evidente que o grande hit deles ainda é a grudenta “Just Do It”, mas outras músicas igualmente boas, como “King of the Night”, fizeram com que o clima de celebração continuasse até o fim.
A ansiedade tomou conta logo após o show do Copacabana Club. Afinal, muitos desconheciam o Two Door Cinema Club, mas outros tantos se deslocaram para o litoral gaúcho apenas para ver o grupo irlandês.
Quase anônima no Brasil, a banda mostrou serviço em um show fantástico calcado em seu único disco, Tourist History, e que, para uma parcela do publico, até ofuscou a atração principal. Hits ou não, músicas como “Undercover Martyn”, “I Can’t Talk”, “What You Know” e “Come Back Home” têm potencial para superar os limites entre underground e mainstream. Para as meninas, claro, uma atração a mais: os jovens Alex Trimble, Kevin Baird e Sam Halliday, sempre sorridentes e visivelmente empolgados com a recepção da galera.
Se ainda havia alguns espaços vazios na frente da pista, eles foram preenchidos logo em seguida. Fãs, músicos e curiosos – e havia muitos, a maior parte deles pessoas que sequer conhecia alguma das bandas, mas que estava em Xangri-Lá e resolveu conferir “qual era” do festival – se aglomeraram para ver os tão badalados norte-americanos. Com seu som ao mesmo tempo pop e esquisito (cortesia das influências de música africana), o Vampire Weekend parecia querer mostrar que não estava ali como atração principal à toa.
Conhecida por sua performance alucinante, a banda realmente dava a impressão de subir no palco apenas por diversão, como se não estivesse recebendo nenhum centavo por isso. E a cada hit o público ia à loucura, cantando sucessos do disco de estreia e do badaladíssimo Contra. “A-Punk”, “Cousins” e “Cape Cod Kwassa Kwassa” foram as músicas mais ovacionadas, mas a massa sabia simplesmente todo o repertório de Ezra Koenig, Rostam Batmanglij, Chris Tomson e Chris Baio.
O duo de DJs cariocas The Twelves aqueceu a galera para a festa que viria logo depois e que teve a discotecagem do jornalista/agitador cultural Lúcio Ribeiro. Aliás, festa é o que não faltou no M/E/C/A: tanto na véspera quanto no dia anterior, o Jimbaran e a M/E/C/A Land, na plataforma de Atlântida, receberam DJs, exibições de surf e skate e uma exposição do cultuado fotógrafo norte-americano Mark “The Cobra Snake” Hunter.
O que deu certo e o que deu errado
O M/E/C/A contou com uma estrutura legal, que funcionou razoavelmente: banheiros químicos em boa quantidade, pouco atraso para o início dos shows e um espaço bem adequado tanto no palco indie, onde aconteceram os shows, quanto no club, onde ocorreu a discotecagem. Mesmo assim, ocorreram algumas falhas, sendo que a principal delas, sem dúvida, foi dispor de um estoque de cerveja reduzidíssimo. Mesmo com um público aquém do esperado, a bebida acabou perto da meia-noite! A escassez de lixeiras também foi um erro, já que gerou montanhas de latinhas e garrafas em vários pontos da pista, o que, além de ser antiecológico, poderia ter ferido alguém – se é que não feriu. E com o calor que estava, não ter um bebedouro ou ao menos um lugar decente para lavar as mãos ou o rosto foi uma crueldade.
Outros aspectos foram elogiados por alguns e criticados por outros, como a tal pulseirinha para consumir bebida alcoólica na qual estava escrito a palavra “maior”. Muitos se irritaram por ter que enfrentar uma fila para comprar bebida, e antes disso, adquirir a pulseira. No entanto, é louvável a preocupação dos organizadores em evitar com que menores de idade consumissem álcool. Se bem que isso não evitou que muitos marmanjos comprassem bebidas e levassem para seus amigos “dimenor”…
Por sua estrutura interna, o Jimbaran se mostrou um excelente local para shows, com espaço suficiente para um palco de tamanho respeitável e todas as instalações necessárias. No entanto, a área reservada para estacionamento é bem acanhada, e a localização não é exatamente das mais privilegiadas.
Apesar de alguns pontos negativos, é importante lembrar que o M/E/C/A está engatinhando. Em uma provável futura edição – empolgados, os organizadores prometem voltar a Xangri-Lá em 2012 –, certamente os erros serão corrigidos. O importante é que o público valorize mais a iniciativa, para que festivais como esse não sejam apenas agradáveis e bissextas surpresas.
Mais fotos de Rodrigo Esper no M/E/C/A Festival em http://ihateflash.net/2011/01/31/mecafestival/