Sublime with Rome: repertório de clássicos ameniza a falta de pegada

Texto: Paulo Finatto Jr. (paulofinattojr@hotmail.com)

Os anos passaram e o Sublime, que encerrou as suas atividades após a morte de Bradley Nowell na década de 90, surpreendentemente retornou aos palcos. Nessa nova empreitada, batizada de Sublime with Rome, os dois integrantes remanescentes do grupo – Eric Wilson (baixo) e Bud Gaugh (bateria) – recrutaram o jovem Rome Ramirez para o posto de frontman do power trio. A banda, que gravou e preparou o novo álbum, intitulado Yours Truly (2011), para sair em julho, visitou o nosso país para uma série de shows.

O frontman Rome Ramirez foi quem mostrou mais vontade no palco

O roteiro do trio incluiu oito datas pelo território brasileiro e, na capital gaúcha, praticamente atingiu a capacidade máxima do Pepsi on Stage na quarta-feira passada, dia 18 de maio. Embora concentre o seu show nos clássicos do passado, sobretudo do álbum póstumo do ex-vocalista (Sublime, de 1996), o Sublime with Rome não abriu mão de mostrar que a essência de um dos maiores nomes do ska/punk norte-americano se mantém acesa. Os principais destaques de Yours Truly estiveram presentes no espetáculo de cerca de 1h20min – que contou com a abertura da prata da casa Second Hand. Em cerca de meia hora, o conjunto mostrou versões para faixas famosas do gênero (incluindo “Total Hate ‘95”, do Sublime) e uma interessante composição própria. A tarefa de aquecer os presentes foi satisfatoriamente cumprida.

Por volta das 23h20min, Rome Ramirez (vocal e guitarra), Eric Wilson (baixo) e o substituto de Bud Gaugh – que não viajou ao Brasil para resolver problemas familiares – Matt Ochoa (bateria) entraram em cena com a dobradinha “Don’t Push” e “Garden Grove” – executadas sem nenhuma pausa. O grupo, que aparentava certo desânimo em cima do palco, possuía em Rome, de apenas 22 anos, a única figura de destaque. Com apenas 33% do Sublime que ajudou a escrever a história do ska/punk no mundo inteiro, muitos se decepcionaram com a performance apática de Eric e apenas razoável de Matt, do Dirty Heads. Porém, o impacto de clássicos como “Right Back” e “Smoke Two Joints”, mesmo que executados sem o brilho característico, foi fundamental para que o público atraísse para si os holofotes do Pepsi on Stage e cantasse junto com o novo frontman.

O apagado baixista Eric Wilson era o único membro original

De modo muito claro, “Lovers Rock”, a primeira faixa do repertório retirada do ainda inédito Yours Truly, comprovou que o grupo californiano ainda se mantém na crista do gênero. Outras músicas novas, como a cadenciada “You Better Listen” e a característica “Punk Jam (Paper Cuts)”, mantiveram o mesmo (mediano) astral do espetáculo. Porém, sem o mesmo carisma e o bom-humor que contornou o show na capital paulista cinco dias atrás, o Sublime with Rome era uma banda burocrática que pouco se esforçou para fazer do espetáculo uma noite inesquecível para os gaúchos. De qualquer forma, a qualidade de músicas como “Jailhouse” e da dobradinha “Date Rape” e “Wrong Way” certamente não decepcionaram quem esperava, pelo menos, relembrar os anos dourados do grupo ainda capitaneado por Bradley Nowell.

Em um primeiro momento pode parecer injusto, mas as comparações do Sublime with Rome – que vem sendo processado pela família de Nowell pelo uso indevido da marca – e a extinta banda que fez muito sucesso na MTV pós-disco 40 Oz. to Freedom (1992) são inevitáveis. De um lado, Rome Ramirez, que iniciou a sua carreira no mundo da música com uma (pasmem) banda cover do Sublime, busca ao máximo dar uma identidade diferenciada ao grupo capitaneado agora com o seu nome. De outro, o clima nostálgico é imenso, sobretudo com aquilo que a banda escreveu de mais bonito na década de 90. Os hits “Scarlet Begonias” e “What I Got” tiveram um impacto extremamente positivo quando foram executados. Do mesmo modo, “5446 That’s My Number” – que não apareceu no set list de São Paulo – mostrou um pouco mais de fôlego.

Matt Ochoa substituiu o baterista Bud Gaugh, que não viajou com o Sublime with Rome para o Brasil

Na reta final do espetáculo, “Badfish” e “Under My Voodoo” repercutiram os melhores momentos do Sublime na sua versão agora repaginada. De volta para o bis, a banda de Rome Ramirez executou a dobradinha “STP” e “Take It or Leave It” antes do encerramento com “Santeria”, certamente a faixa mais imponente (e aguardada) da noite. Entretanto, o show dos californianos esteve longe de mostrar a qualidade que a maioria depositava nas costas do grupo antes da apresentação. O sucesso de um espetáculo ao vivo não depende exclusivamente da qualidade das músicas executadas. O carisma – e até mesmo a performance enérgica – não acompanharam os integrantes da banda em Porto Alegre. Os fãs de carteirinha certamente se decepcionaram com o que viram no palco do Pepsi on Stage. Outros tampouco pareceram se importar com isso.

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