Cobertura Oscar 2012 | A época de ouro em Paris

O Nonada segue a sua cobertura do Oscar 2012 com o filme Meia-Noite em Paris. Acompanhe-nos para ficar por dentro dos filmes que têm (ou não) chance de levar alguma estatueta para casa.

A Paris de Woody Allen é atraente a cada esquina, a cada caminhada. (Crédito: Divulgação)

Dizem que para se escrever uma crítica – ou para se escrever uma boa crítica – é preciso distanciamento. Seja ele temporal, físico, ou temático. Assisti Meia-Noite em Paris assim que foi lançado em junho do ano passado, e, para escrever agora para o Nonada, tendo em vista que o longa está entre os dez concorrentes a melhor filme, revi há alguns dias. Se o distanciamento pode fornecer uma visão diferente sobre uma obra, nesse caso a minha impressão continuou a mesma: Meia-Noite em Paris é fascinante.

Talvez essa seja a melhor definição para um filme que consegue a proeza de arrancar uma bela atuação de um apenas carismático Owen Wilson. E isso só acontece graças ao roteiro fantástico (no sentido de não realístico) e muito bem amarrado do senhor Woody Allen. E, claro, também pelo cenário que o cineasta escolheu para filmar (e homenagear): Paris. Mas qual Paris que Woody Allen nos revela a partir de sua lente? É verdade que o plano inicial do filme nos mostra a cidade luz da época atual, em que Gil (Owen Wilson), um roteirista norte-americano bem-sucedido que na verdade almeja ser um escritor, e a sua noiva Inez (Rachel McAdams) estão a passeio a fim de planejar o casamento.

Entretanto isso muda, pois o cineasta evocando outros filmes seus como A Rosa Púrpura do Cairo, traz o realismo mágico ao encontro do frustrado (assim como a maioria dos protagonistas de Allen) Gil. E o “estranhamento” surge no formato de um carro que o leva para a Paris da década de 20 à noite, revelando o que seria a “época de ouro” para o escritor. Lá, na boemia viviam grandes nomes da literatura e cultura mundial, como  F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Picasso, Ernest Hemingway, etc. Este último, aliás, rouba a atenção em alguns momentos devido a boa atuação de Corey Stoll, infringindo aquela personalidade forte característica ao escritor que se tem no imaginário comum. É nesse momento também que grandes diálogos e sacadas inteligentes são postas em ação, Allen está em casa em suas enormes referências intelectuais como a de sugerir a ideia do filme O Anjo Exterminador a Luis Buñuel.

Apesar dessa aura romântica que reside principalmente na teoria da “época de ouro” que leva Gil a pensar que antigamente é melhor do que o presente, o modo como Allen lida com isso é pragmático – um traço contínuo e facilmente identificável de sua obra. Para Woody Allen, evocando uma de suas frases clássicas, “a realidade é chata, mas é o único lugar onde se pode comer um bom filé”. Ainda assim, o mais atraente em Meia-Noite em Paris é que o filme não se importa muito com isso, quer dizer, Allen aqui não se preocupa tanto com as questões filosóficas, mas sim em contar a história desse homem frustrado que deseja ser um escritor “de verdade”. E é justamente isso é que faz de Meia-Noite em Paris um filme tão bom.

Ao permitir essa espécie de embate entre a ficção de uma Paris distante e idealizada, contra a realidade de uma Paris atual ainda bonita, mas talvez não tão interessante culturalmente, Allen e Gil mesmo sendo pragmáticos também agem romanticamente preferindo a realidade. Mas uma realidade chuvosa e bela de Paris – sem o casamento com a esposa que acaba descobrindo que não ama e sem o trabalho que não gosta.

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.

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