Cobertura Oscar 2012 | Nem tão forte, nem tão perto

O Nonada segue a sua cobertura do Oscar 2012 com o filme Tão Forte e Tão Perto. Acompanhe-nos para ficar por dentro dos filmes que têm (ou não) chance de levar alguma estatueta para casa.

(Crédito: Warner Bros)
Filme de Stephen Daldry concorre a dois Oscar (Crédito: Warner Bros)

Por Fernando Costa*

Desde sua estreia, em 2000, o diretor Stephen Daldry realizou quatro longas-metragens e foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor por três deles: Billy Elliot, As Horas e O Leitor. Ainda que não tenha sido diretamente indicado, seu quarto filme Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, 2011) não deixou de ser lembrado este ano com uma indicação na categoria de Melhor Filme. Ao que parece, a Academia sempre volta uma atenção especial para Daldry. Tal atitude, quiçá até justificável das vezes anteriores, tornou-se indefensável e intoleravelmente favorecedora nesta edição do prêmio. Não só trata-se do pior filme da carreira do diretor, como também do mais fraco dentre os (em boa medida já sofríveis) concorrentes a Melhor Filme do ano.

Tão forte e tão perto tem como protagonista Oskar Schell (insuportavelmente interpretado pelo estreante Thomas Horn), um garoto de onze anos, precocemente intelectualizado cujo principal passatempo é fazer as “viagens de exploração” propostas por seu pai Thomas (Tom Hanks) que funcionam uma espécie de caça ao tesouro pelas ruas de Nova York em busca dos mistérios da cidade. Em 11 de setembro de 2001, tudo muda. Thomas é morto nos atentados às Torres Gêmeas, e Oskar, incapaz de aceitar a perda, concentra todo o seu empenho naquilo que pensa ser o último enigma legado pelo pai.

O primeiro problema do filme é o roteiro do veterano Eric Roth, repleto de situações forçadas, exageros notáveis e, sobretudo, oportunidades perdidas. Em sua viagem, Oskar cruza com destino de pessoas desconhecidas que nunca são transformadas em personagens propriamente; suas histórias são em geral subaproveitadas com tanta fugacidade que nada do contato com a “alteridade” fica devidamente cristalizado nem no espectador, nem na forma do filme. Se o que Daldry pretendia era encenar o processo de amadurecimento do menino através da vivência com esses desconhecidos com os quais o menino estaria misteriosamente conectado, tal procedimento falha precisamente porque esses “outros” em momento nenhum se tornam mais do que uma presença decorativa, uma coleção de tipos excêntricos e inócuas figurações periféricas.

(Crédito: Warner Bros)
Max von Sydow concorre ao prêmio de ator coadjuvante (Crédito: Warner Bros)

Os únicos personagens realmente marcantes, desenvolvidos com alguma profundidade, são uma mulher divorciada vivida com competência por Viola Davis e, em especial, o inquilino anônimo mudo interpretado com muita confiança pelo grande Max von Sydow (merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante). Na verdade, os momentos mais redentores do filme, nos quais temos um contraponto à aborrecedora presença de Oskar, são garantidos por von Sydow.

No restante dos momentos, Tão Forte e Tão Perto oscila entre o sentimentalismo melodramático da personagem de Sandra Bullock, que interpreta a mãe do garoto, e um ludismo aventureiro desencantado e meio paranoico (bastante acentuado na fotografia por vezes desnecessariamente estilizada) que impera nas perambulações de Oskar pela Nova York pós-11 de setembro. Flashbacks que reconstituem o dia dos atentados pela perspectiva da família fazem a costura ad hoc bastante gratuita dessas variações de humor da produção. Note-se, de passagem, que a própria presença do 11 de setembro como elemento compositivo da trama é já em si duvidosa; como o filme não nos oferece nenhum insight  relevante (desenvolto ou mesmo implícito) sobre a catástrofe, não há alternativa senão concluir que ela está lá apenas como pretexto narrativo para a morte do pai. Assim, ao abordar os atentados de forma tão módica, o filme perde a chance de oferecer uma imagem mais bem articulada do trauma coletivo que acarretaram.

O fracasso do filme mais recente de Daldry só não é tão vexatório quanto sua bizarra indicação ao Oscar de Melhor Filme, fazendo conjunto com outras produções quase tão ruins quanto (Cavalo de Guerra e Histórias Cruzadas, em particular). A consequência é a inevitável exclusão de trabalhos muito superiores que mereceriam ser indicadas à categoria; para citar alguns: Drive, O Espião que Sabia Demais, Tudo pelo Poder e O Abrigo.

*Estudante de jornalismo da UFRGS

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