Osamu Tezuka e Mauricio de Sousa finalmente juntos. Meio estranha (e herética, para alguns) a idéia dos personagens dos dois quadrinistas juntos, mas é o que anunciou a editora Panini, que publica os revistas da Turma da Mônica. Maurício de Sousa conheceu Tezuka e os dois se tornaram muito amigos ao longo da década de 80. Em suas conversas, a ideia de juntar os personagens dos dois autores tinha surgindo enquanto Tezuka ainda era vivo e há algumas imagens na internet que mostram os personagens de ambos juntos. Segundo o próprio Maurício, os dois pretendiam fazer da história uma animação. No entanto, com a morte de Tezuka em 89, os planos foram largados. Mais de vinte anos depois, os herdeiros de Tezuka concordaram em juntar personagens clássicos do quadrinista japonês como AstroBoy, Kimba, Blackjack e Safiri com a Turma da Mônica. A história será publicada nas revistas Turma da Mônica Jovem (o mangá da franquia, o que faz sentido) números 43 e 44.
A parte que alguns criticam nisso tudo (e eu sou um desses alguns) é a união de um quadrinista que era e sempre foi um artista criativo e inesgotável com um quadrinista que há muito se esgotou e hoje não é mais artista e sim empresário. Tezuka criava, roteirizava e desenhava todas as suas histórias, chegou a publicar cinco séries de mangá ao mesmo tempo, nos gêneros mais diferentes possíveis, nunca se repetindo, nunca estagnando. Mauricio de Sousa, por mais amigo que fosse de Tezuka, foi bem o contrário. Assim que teve dinheiro para contratar roteiristas e desenhistas (que ficam com quase nenhum crédito, já que ele imprime sua assinatura em todas as páginas), deixou de criar, tem a sua fama toda baseada nos mesmos personagens há mais de quarenta anos, e os quadrinhos que ele produz (no sentido de que ele paga quem de fato produz) são sem qualidade artística nenhuma.
Pelo menos, o cross-over será na revista Turma da Mônica Jovem, cuja característica é de maior liberdade criativa dos desenhistas e roteiristas (o que não quer dizer muita coisa, mas já é algo). Para quem nunca leu o mangá da Turma da Mônica, não há melhor hora para começar.
Falando de empresários ex-artistas que ganham créditos pelo que os artistas de verdade fazem, os personagens de Walt Disney (o empresário-ex-artista-que-ganha-crédito-pelo-que-os-outros-fazem-por-ele mor) vão ganhar uma nova coleção de quadrinhos, anunciou a editora Abril. Estreando dia 9 de março, a coleção Disney Essencial terá vinte edições temáticas semanais toda sexta-feira. Essa idéia, por menos que eu goste dos personagens da Disney, eu achei muito boa. Os personagens em si são ótimos e com bom potencial para histórias, e como a idéia é publicar só as melhores histórias (antigas ou recentes, já lidas em outras revistas ou inéditas no Brasil), eu imagino que seja uma coleção que valha a pena procurar.
Os títulos de cada volume temático da coleção, em ordem de lançamento, são Tio Patinhas versus Maga Patalójika, Donald e Seus Sobrinhos, Os Problemas Domésticos do Pateta, Tio Patinhas e a Moeda Número Um, Mickey e Minnie, Donald e Seus Primos, Mickey versus Mancha Negra, As Grandes Aventuras do Superpateta, Tio Patinhas versus Irmãos Metralha, Mickey versus João Bafo-de-Onça, Donald e Margarida, Os Passatempos Malucos do Pateta, As Grandes Viagens do Tio Patinhas, Mickey e Pluto, Os Infinitos Azares do Pato Donald, Pateta e Seus Antepassados, Tio Patinhas versus Patacôncio, Donald e Seu Carro 313, O Detetive Mickey e Donald e Seus Empregos Que Não Duram.
Como promoção de lançamento, a segunda vem de brinde na compra da primeira. Tanto para quem quer rememorar quanto para quem nunca leu e quer conhecer, é uma ótima recomendação. Leiam.
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Seguindo na idéia de lançamento e autoria, a DC anunciou uma nova série que vai expandir o universo de Watchmen, de Alan Moore (que é claro, não gostou nem um pouco). Before Watchmen será publicada semanalmente e consistirá de sete revistas, cada uma com seis ou quatro edições cada. Rorschach, Minuteman, Comedian, Dr. Manhattan, Nite Owl, Ozymandias e Silk Spectre contarão histórias dos personagens que acontecem antes da história da série original – prequels. No fim de cada edição, haverá duas páginas da história especial The Curse of the Crimson Corsair.
Lançados há mais de vinte e cinco anos, os personagens hoje clássicos necessitavam de novas histórias – ou assim defende a DC. No anúncio, a editora já se defende previamente das críticas que sabiam que Alan Moore faria, dizendo que quadrinhos são a maior forma de ficção colaborativa que existe, e é essa narrativa que faz com que ainda existam quadrinhos.
Moore, notório por ser contra grandes corporações e frequentemente reclamar da indústria de quadrinhos estadunidenses (entre outras coisas, pediu para ter seu nome retirado das adaptações para o cinema de suas obras Watchmen e V de Vingança), criticou a DC, entre outras coisas, por falta de criatividade, ainda depender de idéias que ele teve há mais de 25 anos. Afirmou também que não quer dinheiro, o que ele quer é que essa série não fosse feita. No entanto, por causa dos contratos que ele tinha, na época, com a DC, o quadrinista não pôde impedir a série.
Por enquanto, os fãs acham bom que ele não tenha impedido a publicação, ansiosos por poder ver os personagens em novas histórias. Talvez haja uma mudança de idéia depois de ler a série, que, sem ter a participação do gênio de Alan Moore, talvez fique muito aquém do esperado. Estou com dois corações.
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Fechando com jornalismo em quadrinhos. A revista Fórum apresenta, a partir da edição de janeiro, uma série de reportagens em quadrinhos denunciando e investigando a retirada de famílias de suas casas na cidade de São Paulo. A série Moradia Digna, Direito da População é tem roteiro de CarlosCarlos e ilustrações de Alexandre de Maio. A primeira parte tem sete páginas e trata da contextualização do que está acontecendo na região.
Leia abaixo a primeira parte da reportagem Moradia Digna, Direito da População.
Só um detalhe: o Mauricio tem personagens de quadrinhos e livros que não são da Turma da Mônica ou de algum de seus núcleos, vários deles anteriores à Turma até!
E quanto aos créditos, eu insisti bastante para que eles fosses dados e estão sendo, mas não nas histórias clássicas republicadas, somente nas inéditas!