Camera Diynamite lança o primeiro Zine

Entrevista por Mariana Gil

Hoje a partir das 21h acontece na Tutti Giorni (escadaria da Borges de Medeiros – Porto Alegre), o lançamento do zine Camera Diynamite que reúne vários fotógrafos da cena contemporânea mundial, em torno do conceito de Wild and Supertense. Conversamos com um dos idealizadores do projeto, o estudante de jornalismo da UFRGS Mario Arruda, e ele nos conta um pouco mais sobre esse conceito, que busca causar estranhamento em meio à hegemonia das imagens e da forma de pensar a fotografia como retrato da realidade.

O zine conta com 22 fotógrafos, entre eles estão os consagrados ucranianos Synchrodogs, o australiano Luke Byrne e a sérvia Marija Kovac. O preço é de apenas R$ 3,00, e no tumblr do projeto já é possível ver como ficou a capa. Durante o evento está planejado também a realização de fotos e também vídeos da função.


Nonada – Eu gostaria de saber, primeiro, o que são esses conceitos de Wild e Supertense.

Mario Arruda – É o conceito que une todas as fotos. Acho que envolve primeiramente o sentido direto das palavras – as fotos traduzem o selvagem de ambientes, animais ou tensões, que dá medo, gera suspense.  Mas acredito que agora esse conceito já transcendeu um pouco essa ideia e passou a ser uma terceira coisa. Na escolha das fotos tento achar o que está por trás da imagem central. No fim das contas é o que causa estranhamento, que gera controvérsia e, nesse sentido, as imagens quebram aquela velha ideia de que a fotografia é retrato da realidade, quando, na verdade, são representações do estilo de vida do fotógrafo.

Logo, pra se ter fotos selvagens ou tensas, é preciso procurar situações como essas. E se chega num ponto em que o fotografo começa a produzir cenas exclusivamente pela fotografia. Aí a normalidade é quebrada e ocorre a construção de uma nova realidade tanto na hora da foto quanto na hora da imagem gerada.


Nonada – E tu, sendo fotógrafo e criador do projeto, como lida com a criação e o processo das tuas imagens?

Mario Arruda – Eu acho que nas minhas fotos eu acabo produzindo a partir do que eu queria fazer ou de como eu me sinto no momento. Por exemplo, ano passado eu passei um momento ruim na minha vida, me sentia cansado e preso, sem poder fazer muita coisa pra me expressar. Aí fiz uma das fotos que vai sair no zine que representa esse momento. Acho que ultimamente eu tenho tido mais vontade de explodir com a realidade mesmo, aí tenho tentado produzir imagens que ferem a normalidade, que são capazes de chocar o pensamento conservador e talvez mudá-lo a partir disso. Mas essa fase eu ainda estou começando e publiquei poucas imagens. No fim das contas nada é muito claro. Simplesmente penso em imagens e tento executá-las. E é estranho, o humor na hora da foto acaba sempre afetando a imagem.

Confira algumas das fotos:

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Nonada – E, em questões técnicas, como se pode conceituar essas imagens? O que é preciso para fazer esse tipo de fotografia e obter um resultado selvagem?

Mario Arruda – A maioria absoluta das fotos que entram no Camera Diynamite são analógicas. Acho que isso ta ligado diretamente com a estética e com o modo de fazer. Pela estética por gerar imagens que evidenciem certo tipo de clima através delas (uma foto com muita textura pode significar tensão, por exemplo. Ou uma foto muito lavada pode dar uma sensação de sonho) e através da camera analógica a gama de estéticas é mais variável (claro, se o fotografo tiver todas referências, ele pode reproduzir uma estética especifica, mas acredito que o resultado não é mesmo).

E o modo de fazer principalmente porque não se tem cliques infinitos. No máximo serão em média umas quatro fotos por ocasião, o que dá muita margem para o erro e faz com que cada clique seja precioso. Depois, um enquadramento “errado” pode se transformar justamente na melhor foto. O que não acontece muito quando se utiliza cameras digitais – o descarte da foto ruim ao primeiro olhar é quase instantâneo e se faz mais uma, mais outra…


Nonada – E essa estética incluem a utilização de técnicas de revelação que danificam o filme, modificam as cores, etc? Como forma de criar uma atmosfera?

Mario Arruda – Claro. Sou a favor do experimentalismo sem limites desde que o conceito desejado seja alcançado. No caso do Camera Diynamite acredito que a maioria das fotos siga um padrão mais cru, sem muito edição. pelo menos no que se refere a parte tensa. Isso também se deve a característica do it yourself do conceito, que envolve pequenas produções com resultados satisfatórios. Eu, por exemplo, tento não fazer o mínimo depois do clique, mas acontece direto de perder algum filme por meses e depois encontrá-lo todo arranhado e danificado. Tento pensar que passou a fazer parte da foto esse tipo de coisa.


Nonada – E a escolha do meio impresso? Por que tu achas que essa é a melhor maneira de atingir o maior numero de pessoas possível? Isso não seria mais fácil pela internet?

Mario Arruda – Acho que na Internet se chega em maior numero de pessoas, sim. Mas acredito que acaba sendo sempre o mesmo publico. São as pessoas que se interessam por foto que olham e interagem com isso. As outras até chegam a olhar, mas se não entendem simplesmente fecham a aba do navegador e vão pra sua próxima distração. Quero que isso não seja só uma distração e o meio impresso possibilita essa maior reflexão. O cara olha, não entende nada, mas vai ter ali pra ele olhar de novo e de novo.

Além disso, com as impressões nós pensamos em fazer uma tour por varios lugares culturais e chegar em diferentes públicos, conversar com todo mundo, trocar ideias. Costumo dizer que o Camera Diynamite e o Ovos e Llamas (outro grupo de fotografos do qual faço parte e lança um material impresso na semana que vem) são as minhas bandas. O lance é movimentar a cena cultural e se divertir um pouco.


Nonada – Qualquer um pode se candidatar a participar da zine?

Mario Arruda – Sim! A gente tem um grupo no flickr, onde selecionamos as fotos pro zine e pro tumblr. Ou dá pra nos enviar por e-mail também: cameradiynamite@gmail.com

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Fotografia Tutti Giorni Zine
Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.
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