Recortes | Artes Visuais – O mundo de olho nos museus brasileiros

A mostra de Escher no Rio de Janeiro foi a mais popular do mundo no ano passado (Crédito: Divulgação)

A mostra “O mundo mágico de Escher”, que aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – RJ de janeiro a março de 2011, foi citada em pesquisa publicada pelo The Art Newspaper como a de maior média diária de visitantes do mundo no ano passado: 573.691 pessoas apreciaram as obras do artista holandês na ocasião. Quem imaginaria que um museu brasileiro seria responsável pela atração de tal fluxo de pessoas, passando para trás espaços consagrados como o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque e o Museu d’Orsay de Paris? O fato é que de uns tempos para cá há mais acesso a mostras blockbusters internacionais e a obras de nomes fundamentais da história da arte ocidental no país – e 2012 promete nesse sentido.

Tem exposição de Alberto Giacometti já em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Leonardo Da Vinci previsto para junho no Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro) e Caravaggio na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte em maio (que segue em julho para o MASP). Impossível não citar também a mostra que demandará uma organização e tanto – “Paris: Impressionismo e Modernidade” deve atrair milhares de pessoas ao CCBB São Paulo a partir de agosto por causa de preciosidades do Museu d’Orsay, de Cézanne a Van Gogh, de Monet a Renoir, de Degas a Toulouse-Lautrec. O CCBB Rio de Janeiro também vai receber essa seleção, a partir de outubro.

Mas não é novidade que o Brasil entrou de vez na rota das megaexposições estrangeiras. Aqui em Porto Alegre, vimos nos últimos anos a vultuosa “Arte na França 1860 – 1960: O Realismo”, sediada pelo MARGS em 2009, e, mais recentemente, no ano passado, “De Chirico: o sentimento da arquitetura”, na Fundação Iberê Camargo. Talvez essa ampliação da oferta se deva, sim, a um maior anseio do brasileiro por apreciar de perto os mais famosos trabalhos artísticos, porém, o aumento de espaços expositivos com condições físicas e de segurança para abrigar tais trabalhos, assim como a infraestrutura para possibilidades interativas que surgem das opções curatoriais, parece ser fator decisivo.

O bom momento econômico do país em relação, por exemplo, à Europa, não está de forma alguma desvinculado desse contexto. Fazer circular a coleção técnica é uma forma de arrecadação também das instituições museais detentoras, que espalhando suas obras pelo mundo fazem um contraponto à queda de taxas de visitação internas. Ainda que, no Brasil, exista a cultura da gratuidade de acesso aos museus, ou o ingresso com valor simbólico, as empresas estão atentas às possibilidades de patrocínio para a área cultural, assim como as grandes produtoras, que levam a organização deste tipo de exposição para o seu “currículo”, focando em projetos diferentes.

Dentro deste contexto, mas mudando um pouco de ponto de vista, surge uma inquietante pergunta: será que a arte produzida no país também está sendo mostrada pelos museus mundo afora? Ou será que o movimento é só de entrada de exposições no país, e não de saída?

“Caranguejo” (1960) de Lygia Clark é uma das obras de artistas brasileiros da coleção do Centre Pompidou (Crédito: Divulgação)

Felizmente, a resposta à primeira questão parece positiva. Ações recentes de museus estrangeiros comprovam uma maior atenção em relação à nossa produção artística. O Centre Pompidou de Paris, por exemplo, principal museu de arte contemporânea da França, está procurando parcerias no Brasil e adquirindo peças de artistas brasileiros para a sua coleção, considerando a importância deles no cenário contemporâneo mundial. A noção de uma arte “global” vem permeando as principais ações museais – o Guggenheim anunciou recentemente um projeto denominado “multicultural” com foco nas artes de cada região do globo, com um direcionamento bastante diverso do Pompidou, mas também no sentido da mundialização.

Cabe agora refletir se não é o momento de o Brasil estabelecer vínculos mais sistemáticos também com a arte de países “periféricos”, olhando nem tanto para a questão institucional de museus, mas para o fenômeno artístico de forma mais ampla.

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