A Era do Gelo 4 (Ice Age: Continental Drift, EUA, 2012)
Direção: Steve Martino e Mike Thurmeier
Roteiro: Michael Berg e Jason Fuchs
Vozes de: Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Queen Latifah, Peter Dinklage, Seann William Scott, Josh Peck, Jennifer Lopez, Keke Palmer, Wanda Skyes, Nicky Minaj, Josh Gad, Nick Frost, Aubrey Graham, Aziz Ansari, Patrick Stewart e (na dublagem brasileira) Diogo Vilela, Márcio Garcia e Tadeu Mello.
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Poucas coisas dão tanta preguiça quanto escrever sobre um filme como A Era do Gelo 4: pertencendo a uma série que, se até agora não tinha nenhum episódio realmente ruim, tampouco rendeu um filme inspirado sequer, esse novo exemplar é o tipo de objeto que não desperta grandes reações (positivas ou negativas), soando ainda mais sem personalidade que seus antecessores – e, dessa forma, deixa de funcionar até mesmo como uma bobagem qualquer para assistir numa tarde preguiçosa de domingo.
Mais triste ainda é perceber que até mesmo o melhor elemento da série, o esquilinho Scrat, já não rende mais tantas risadas. Além da falta de inspiração de algumas de suas gags, o estabanado animal aparece um pouco menos do que nos outros filmes, cedendo espaço à trama tola que traz Manny, Diego e Sid sendo separados da família do primeiro por um motivo qualquer. E como já é tradicional da série, a sequência inicial (que é sempre o primeiro trailer) é a melhor do longa, estabelecendo de forma hilariamente absurda o mote da história para, então, deixar-nos entregues a uma narrativa pouco envolvente.
Pelo uso que faz do 3D, A Era do Gelo 4 poderia ter sido lançado há uns 3 ou 4 anos, uma vez que pouco aproveita da evolução do formato, investindo mais na já surrada trucagem de objetos que saem da tela do que na profundidade de campo. Igualmente desinteressante é o design de produção: exibindo uma falta de imaginação alarmante, o máximo que consegue conceber são navios-icebergs, jamais alcançando momentos como o flashback com pinturas rupestres do primeiro filme, as rochas instáveis do segundo ou o rio de lava do terceiro (por outro lado, há gags visuais engraçadinhas como o gambá usado como bandeira pirata e os pequenos animais amarrados como um esfregão). Além disso, num contraste com estúdios superiores como a Pixar, é revelador notar que o visual dos personagens simplesmente não evolui de filme para filme – e não tenho dúvidas de que, em mãos mais competentes, Manny ganharia alguns toques grisalhos em sua pelagem para salientar o tempo passado entre este e o filme anterior (sua filha Amora, nascida no terceiro episodio, agora é adolescente).
Mas isso seria exigir demais de um filme com um roteiro tão frágil que, além de empregar uma estrutura de road movie ainda menos fluida do que seus três antecessores (em mais de um momento o filme parece se encaminhar para seu final, para então encher mais linguiça), ignora detalhes importantes dos mesmos: quando Manny se revela um pai superprotetor, por exemplo, não é feita qualquer referência ao fato de que ele já perdeu uma família (algo estabalecido no primeiro filme) – e, assim, o que temos é uma reciclagem barata do conflito entre pais e filhos de Procurando Nemo. Para piorar, o “humor” desse filme envolve piadas sobre o físico “gordo” de Manny, uma foca que não consegue enxergar a própria bunda e, é claro, os gritos de Sid, mais aborrecido do que nunca – e quando conhecemos sua família, confesso que compreendi porque o abandonaram. No entanto, Sid e sua avó chegam a ser suportáveis se comparados com a foca já citada, integrante da tripulação de um “iceberg pirata” que não apresenta qualquer figura divertida. O excesso de personagens de A Era do Gelo 4, diga-se de passagem, é gritante, sendo que a unidimensionalidade de todos é homogênea, desde o vilão Capitão Entranha (que no original tem a voz de Peter “Tyrion Lannister” Dinklage) até a tigresa por quem Diego se apaixona. Já a sequência bobinha envolvendo uma tribo de roedores escravizada acaba se destacando porque, comparada com a falta de graça de tudo que a cerca, é um dos achados do longa.
Pela primeira vez sem a direção do brasileiro Carlos Saldanha (o que não acredito que faça tanta diferença, não é um diretor tão bom a ponto de conseguir salvar esse roteiro), A Era do Gelo 4 nada mais é do que o esgotamento total de uma série que já rendeu muito mais dinheiro, ganhou muito mais sequências e se estendeu por muito mais tempo do que merecia. E seu fracasso é notável quando se considera que o momento mais divertido da sessão é o curta estrelado por Maggie Simpson que o antecede.