Por Raquel Chamis*
A importância do design para a cultura e a economia do Rio Grande do Sul parece se afirmar com a vinda da exposição Italian Genious Now (IGN), em cartaz no Santander Cultural de Porto Alegre. A mostra celebra as relações de aproximadamente 150 anos entre Brasil e Itália e, mais do que isso, homenageia aquele que é provavelmente um dos traços mais marcantes dos italianos – o talento para o design. Pela curadoria de Marco Bazzini, diretor artístico do Centro de Arte Contemporânea Luigi Pecci (Prato/Itália), foram escolhidos 90 objetos de alto valor estético, que também têm como característica o cuidado com a funcionalidade. A mostra não trata apenas de reverenciar o belo, mas também de apresentar soluções criativas e inteligentes para questões do cotidiano.
A Itália reinventa continuamente o modo de pensar e fazer design. Ao definir o valor do made in Italy entre os anos 70 e 80, sacramentou habilidades que são muito próximas da arte. Frente às peças italianas, torna-se difícil estabelecer com precisão o que é arte e o que é design. E se Silvia Grandi, designer italiana, afirma que os dois campos permanecem “em trilhos separados, ainda que paralelos”, a mostra IGN às vezes obriga a pensar duas vezes antes de encerrar pensamentos. Confusão que os italianos apreciam, a exemplo do que propunha um grupo de artistas italianos que, na década de 60, questionava por intermédio da arte povera a definição da arte e seu papel na sociedade. De fato, para compreender por que a fronteira entre o material e o ideacional é imprecisa no design italiano, talvez seja necessário considerar que o país até hoje respira criações de gênios de outros tempos e tem o apreço à arte arraigado em tudo que faz. Arte está nas ruas, design nas casas – e o caminho contrário funciona também.
A importância da exposição para o estado, porém, vai mais longe do que questões aparentemente filosóficas poderiam indicar. É o que afirma Carlo Franzato, professor italiano que trocou Milão, um dos centros do design mundial, por Porto Alegre. Hoje ministrando cursos de graduação e pós-graduação na Unisinos, ele se mostra otimista quando questionado sobre o papel da IGN para o Rio Grande do Sul. “O impacto só poderá ser medido daqui a alguns meses, anos até. Acredito que um sistema sólido de design precisa não apenas de relações empresariais, mas também culturais. Esta exposição tem a função de colocar o design como ato cultural, e espero que com ela se inicie um discurso compartilhado que traga novas percepções sobre a área. Ao falar sobre design e arte, a mostra impulsiona uma reflexão”, explica.
Otimista, ele vê no Rio Grande do Sul um espaço propício para o design – que não se manifesta apenas no produto final mas em todo o sistema de produção. “Deixei a Itália por questões puramente profissionais, pois acredito que este mercado não é saturado como o milanês. É enorme a necessidade que as empresas daqui têm de design. Só entre a serra e o Vale do Sinos, por exemplo, situam-se inúmeros negócios ligados à moda, ao mobiliário e até mesmo à indústria metal-mecânica que poderiam ser orientados pelo design. Reconheço que há muito por fazer, por isso o caminho não é fácil: depende da formação de uma cultura que ainda não existe. Mas tenho certeza de que quem aceitar o desafio de trabalhar com design por aqui será protagonista de uma etapa muito importante”, completa o professor.
A abertura de uma mostra voltada exclusivamente ao design é um grande indicativo de que o campo cultural gaúcho está mais disposto a absorver o design como lógica. Quem quiser ver de perto as obras de 49 artistas e designers italianos tem até o dia 12 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e nos sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h. Mais informações em italiangeniusnow.com.br.
*Colaboradora do Nonada.