Sabe, eu estava pensando sobre o que escrever na coluna Recortes dessa semana e me dei conta que nunca parei para falar sobre videogames no Nonada. Não digo no sentido de fazer uma matéria, cobertura, ou resenha, mas sim de tentar aprofundar e criar uma maior reflexão. E o momento é apropriado, porque o jogo que desejo comentar nessa coluna dá uma margem maior para isso.
Videogame deve ser o único objeto/manifestação cultural que tem a capacidade de despertar uma sensação de nostalgia muito rapidamente. Isso porque fomos acostumados a nos sentirmos assim – quase como se a nostalgia fosse um gênero de jogo. Confuso? Vou tentar explicar: Vendem-nos a ideia de que há uma espécie de “ciclo de vida” para o seu videogame. Ok, tudo bem, realmente chega a hora em que se dá fim a fabricação de um console, mas isso não significa necessariamente que as pessoas vão parar de jogá-lo. E, mais importante, não significa que não vão querer mais jogos semelhantes aos que eram concebidos naquela plataforma.
Sim, de fato, você pode argumentar que os gêneros de jogos mudaram juntamente com a tecnologia, isso fica bem evidente naquela transição do 2D para o 3D, mas o que quero dizer é: só porque podemos fazer jogos em 3D, todos os jogos que vamos fazer vão ser em 3D? Acho que o papo aqui se aproxima mais do paradigma que se quer para o videogame e sua produção. É claro que a indústria (toda indústria, aliás) reflete o momento do seu campo e com os videogames não é diferente. Toda empresa precisa vender seu jogo para lucrar e tem que seguir as tendências do momento – isso se observa fortemente no cinema também. Atualmente, há vários reboots e retomadas de franquias que acabam desmitificando ou diminuindo a obra original. No videogame, por sua vez, acaba-se abandonando formatos de jogo porque seria algo ultrapassado, quando, na verdade, o ultrapassado é um valor conferido pela industria.
Para deixar mais conciso: Acredito que uma coisa não precisa necessariamente acabar com a outra. Palavras como “evolução” e “ultrapassado”, não servem para o produto/manifestação cultural jogo, e sim para a tecnologia que o envolve.
Não quero cair naquele papo bipolar de que o mainstream é ruim e nada criativo e que o futuro está nos jogos indies. Não é isso. A verdade é que há muita coisa legal sendo feita pela grande indústria dos jogos, principalmente no quesito narratividade. E a verdade é que há muita coisa legal também sendo produzida por um pessoal que só quer fazer jogos, por diversão, porque gosta, porque não acha legal os jogos atuais, por, enfim, inúmeras razões. E é esse pessoal, comummente chamados de desenvolvedores indie, que mais parece entender que um jogo, como formato cultural, pode ser atemporal. Digo isso porque eu, com certeza, me divirto muito jogando o meu Super Mario para Super Nintendo tanto quanto me divirto jogando o Super Mario Galaxy para o Nintendo Wii. São formatos que poderiam coexistir.
Então, não acho que um jogo indie (leia-se: não feito por uma equipe enorme e não tendo uma grande quantidade de dinheiro investida) desenvolvido com gráficos “antigos” seja algo necessariamente nostálgico; ele pode sim é querer resgatar temas e apresentar para uma geração que não vivenciou a época em que os jogos eram mais “simples”, mas continua puramente atual. Toda espécie de regresso é, em essência, atual. Nesse sentido, gostaria de comentar um pouco sobre um jogo que se pode rotular como indie: o Oniken. Desenvolvido pelo estúdio Joymaster, uma criação de Danilo Dias com colaboração de Pedro Paiva.
Oniken rememora e presta toda uma homenagem a jogos clássicos da era 8 e 16 bits, principalmente no tema que trata, mostrando um cenário apocalíptico do mundo no futuro, o que era corriqueiro nas produções de ação da época em que o Nes reinava, lá pela década de oitenta ; também corriqueiro nos filmes daquela década, que vislumbravam como seria o futuro (quase sempre problemático), visto “O Vingador do Futuro”, “Blade Runner”, “Mad Max”, entre outros. Seguindo essa linha, então, o jogo conta a história de um mundo arrasado por uma grande guerra e que agora é controlado por uma corporação militar chamada Oniken. Logo no início somos apresentados ao general Zukhov, espécie de líder da resistência. Desesperado, mas sem demonstrar isso, ele chama Zaku, o único guerreiro que pode combater os guerreiros cibernéticos da corporação e, quem sabe, derrotá-la. Toda essa explicação acontece durante a cutscene inicial, com gráficos bem chamativos. A partir daí, na primeira fase, controlamos Zaku, que começa com a possibilidade de usar a espada e também de atirar uma espécie de granada que coleta pelo cenário. Só joguei a demo que liberaram da primeira fase, mas achei realmente muito divertida e desafiadora. O jogo tem essa proposta de resgatar o formato abandonado pela grande indústria, inclusive no fator de ter uma dificuldade mais elevada – o jogador precisa insistir e, sobretudo, traçar uma melhor estratégia para passar pelas situações. Sim, uma estratégia menos implicita, sem o escancaramento e as facilidades de progressão que se vê em jogos atuais. Oniken parece apontar referências a muitos jogos clássicos, como a série Ninja Gaiden. Não quero escrever aqui um parecer completo, pois não joguei ainda todo o game, mas fiquei realmente a fim de comprá-lo (a venda do jogo começa no dia 22 de junho, mais informações no site: http://www.oniken.net/.
Confira o trailer:
Para complementar, não vou definir Oniken como um jogo nostálgico (como vi em vários sites), pois trata-se de um jogo atual que visa prestar uma homenagem para os games feitos nas épocas dos primeiros bits, tanto no tema que aborda, como no seu rico visual. Ele não foi feito para rodar no Nintendinho, ele foi realizado e pensado para rodar no seu computador, por uma equipe que, provavelmente, queria, antes de tudo, se divertir e divertir. E, isso, eles conseguiram.